Domingo, 18 de maio de 2025

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Voltar Entenda em cinco pontos a crise que levou Lula a demitir o comandante do Exército

Ao longo dos quatro anos do governo de Jair Bolsonaro (PL), a presença de militares em cargos civis mais que dobrou, com presenças em postos-chave, como a chefia do Ministério da Saúde durante a pandemia. O cenário incomodava Luiz Inácio Lula da Silva (PT), agora à frente do Planalto, desde antes da campanha eleitoral. Em abril de 2022, o petista disse que teria que tirar “quase 8 mil membros das Forças Armadas” de cargos comissionados, caso fosse eleito.

O alinhamento de grande parte dos militares ao bolsonarismo e a expansão dos acampamentos em frente a quartéis fez com que esse incômodo crescesse gradativamente até a demissão de Júlio César de Arruda do comando do Exército no sábado (21). O estopim, no entanto, passou por um aliado fiel de Bolsonaro, em um dos últimos movimentos do ex-presidente no poder.

Veja cinco pontos que levaram Lula a demitir o comandante do Exército:

Excesso de protagonismo 

Uma das grandes marcas do governo Bolsonaro foi o protagonismo de militares em assuntos civis, algo que acompanhou o ex-presidente durante sua campanha eleitoral em 2018. Além do vice, o general da reserva Hamilton Mourão, e do ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, no primeiro ano de governo, por exemplo, eram sete ministros egressos das Forças Armadas, dentro de um total de ao menos 41 militares em cargos no segundo e terceiro escalões.

O cenário avançou ao longo dos quatro anos seguintes, com a escolha de Eduardo Pazuello para chefiar a Saúde em um dos momentos mais críticos da pandemia, o protagonismo de Walter Braga Netto à frente da Casa Civil e a tomada do Gabinete de Segurança Institucional, chefiado por Augusto Heleno, por militares. Em 2021, o número de membros das Forças Armadas em cargos civis já havia mais que dobrado e, ao fim do mandato de Bolsonaro, eram cerca de oito mil nomes nomeados nesses postos.

Incômodo pós-eleição

A situação se agravou ainda mais com os apelos de bolsonaristas, já depois das eleições do ano passado, para que as Forças Armadas assumissem o comando do País, destituindo o presidente eleito, Lula. Os discursos, de teor naturalmente golpistas e sutilmente orquestrados por Bolsonaro, tinham entrada especialmente em militares com baixas patentes, ou membros da reserva.

Acampamentos

O cenário, portanto, já de desconfiança de Lula com os militares teve ainda outro ponto de ebulição: a proliferação dos acampamentos bolsonaristas em frente a quartéis. Arruda teria protelado a desocupação dos alojamentos, ao contrário do que queria o chefe do Executivo. E Lula já havia criticado o que chamou de conivência do Exército com os extremistas que invadiram o Palácio do Planalto, o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF).

Atos extremistas

O ponto mais crítico foram os atos de 8 de janeiro, quando manifestantes radicais invadiram e depredaram os prédios da Praça dos Três Poderes. No dia seguinte, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, pontuou que existia desconfiança no governo federal de contaminação de indivíduos das Forças Armadas pelo bolsonarismo, mas não sobre a instituição.

Três dias depois, Lula deu outro recado de sua insatisfação, ao afirmar, durante café da manhã com jornalistas no Planalto, que a porta do palácio presidencial havia sido “aberta para essa gente entrar”, em referência aos manifestantes. Na ocasião o presidente deixou claro o entendimento de que a entrada dos invasores foi facilitada e disse que havia “gente das Forças Armadas aqui dentro conivente” com a depredação do local.

Coronel Cid

Diante de todo o caos instaurado após os atos golpistas, o que contribuiu para a demissão de 80 militares do governo em cinco dias nesta semana, a gota d’água para que Arruda deixasse o comando do Exército passou pelo tenente-coronel Mauro Cid, que foi o ajudante de ordens de Jair Bolsonaro durante todo o seu mandato.

Ainda em maio de 2022, com Bolsonaro, Cid foi escolhido para o comando do 1º Batalhão de Ações e Comandos, unidade de Operações Especiais, mas só assumiria em fevereiro deste ano. Dado o alinhamento do ex-ajudante de ordens com o ex-presidente, no entanto, o Planalto já havia indicado que esperava que Arruda anulasse a nomeação.

O general também teria dito a vários interlocutores militares que não aceitaria se fosse expedida uma ordem de prisão contra Cid, que é investigado por Alexandre de Moraes num inquérito que corre no STF.

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