Segunda-feira, 12 de maio de 2025

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Voltar Às vésperas da nova legislatura, Lula patina para montar base parlamentar

Para sair vitorioso na mais acirrada eleição presidencial desde a redemocratização do país, Luiz Inácio Lula da Silva teve de caminhar em direção ao centro e ampliar o palanque para receber políticos de mais de quinze partidos, da esquerda à direita. Apesar disso, saiu das urnas longe de ter maioria no Congresso.

Antes da posse, já teve o desafio de articular a aprovação de uma mudança na Constituição que flexibilizou o teto de gastos para garantir recursos a programas sociais, uma das principais promessas eleitorais. Só conseguiu porque teve a ajuda de deputados de partidos fora da esquerda, muitos deles aliados de Jair Bolsonaro na eleição.

Depois dessa primeira sinalização do que poderia vir a ser uma base parlamentar, Lula cedeu espaços no governo a siglas que nem o apoiaram na campanha, como União Brasil e PSD, em troca de aliança política. Tudo isso, no entanto, não garantiu ao petista tranquilidade no novo Congresso, que inicia o seu mandato no dia 1° de fevereiro.

Somados os deputados de todos os partidos que têm ministérios e de outros que o apoiaram formalmente na campanha, Lula teria 282 votos, insuficientes até para aprovar uma emenda à Constituição, que demanda 308 apoios. Mas o cálculo não é tão simples, e o saldo é ainda pior, porque partidos importantes que aceitaram posições na máquina federal não estão fechados com o governo.

Parte das bancadas na Câmara de União e PSD está insatisfeita, enquanto legendas menores que acompanharam Lula desde o primeiro turno e foram alijadas da Esplanada estão à espera de algum agrado — leia-se cargos, em especial no segundo escalão, que começa a ser dividido.

Entre os novos inquilinos da Esplanada, o União é o mais bem-acabado exemplo de articulação que deu errado. Membros da bancada de 59 deputados estimam que um terço, no máximo, é governista. Uma declaração de independência, já ensaiada algumas vezes, deve ocorrer em breve.

Embora o governo atribua ao partido as indicações dos ministros Juscelino Filho (Comunicações), Daniela Carneiro (Turismo) e Waldez Góes (Integração Nacional), os descontentes dizem que as tratativas passaram pelo líder do partido no Senado, Davi Alcolumbre (AP), sem que ele falasse pela sigla.

Descontentes

As frustrações também atingem parte da bancada do PSD, que viu o deputado André de Paula (PE) ser nomeado para a pasta da Pesca. “Esse ministério só atende às regiões Norte e Sul do País”, reclama um deputado do Sudeste.

O desconforto atinge também aqueles que apoiaram Lula ainda no primeiro turno. O maior deles, o Avante (sete deputados), é quem mais ajudou Lula na campanha, por meio do deputado André Janones (MG) nas redes sociais. O partido queria um ministério (Turismo, Pesca ou Secretaria de Comunicação), mas saiu de mãos abanando.

Outro aliado de primeira hora descontente é o Solidariedade, cujo principal líder, Paulinho da Força, ficou sem mandato e sem cargo. Além disso, viu rivais no sindicalismo como Luiz Marinho (Trabalho) e Carlos Lupi (Previdência) ganharem ministérios.

No PV, nem a ida de Leandro Grass para o Iphan acalmou a bancada. “A negociação não passou por nós, foi feita diretamente pelo Leandro. Agora o que vier será a sobra da sobra, de terceiro ou quarto escalão”, diz um insatisfeito. Ele lembra que o PCdoB também elegeu seis deputados, mas recebeu um ministério (Ciência e Tecnologia) e uma secretaria na pasta da Saúde.

Negociações

Com a nova legislatura batendo à porta e com o governo precisando deslanchar os seus projetos, os líderes de Lula terão de se virar com um cenário que não é o ideal: negociar cada proposta, sempre correndo o risco de pagar um preço alto dependendo da necessidade. É o tipo de relação que sempre consagrou o Centrão.

No atual momento, mesmo deputados de partidos que apoiaram Bolsonaro, como PL e PP, sobretudo no Nordeste, estão na agenda de diálogo — não se descarta que apadrinhem indicações a escalões subalternos. O que não falta é cargo importante. Elmar Nascimento, do União, pode ficar com a Codevasf, autarquia que toca projetos importantes no Nordeste.

Entre os nanicos, estão na mesa de negociações INSS, Incra, agências reguladoras e estatais como os Correios, empresa que deveria, mas não foi privatizada no governo Bolsonaro. “Não se monta governo e base sem conviver com esses problemas, é natural que os partidos aliados façam seus pleitos”, releva o futuro líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE).

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