Segunda-feira, 12 de maio de 2025
Por Redação Rádio Caiçara | 22 de janeiro de 2023
O general Tomás Miguel Miné Ribeiro de Paiva, de 62 anos, era ajudante de ordens do presidente Itamar Franco quando Fernando Henrique Cardoso foi eleito. Tinha certeza de que seu trabalho no Palácio do Planalto terminaria e se preparava para se incorporar a uma unidade no Paraná quando foi surpreendido pela tarefa de cuidar da segurança da mulher do então novo presidente, Ruth Cardoso. Começava ali, na primeira metade dos anos 1990, uma amizade que o liga desde então a FHC, a quem visita mensalmente.
Tomás era apontado, durante todo o ano de 2022, como o candidato favorito para chefiar o Exército do grupo que costumava ser ouvido sobre a Defesa na campanha de Luiz Inácio Lula da Silva – acadêmicos como Manuel Domingos Netto, petistas como José Genoino e o vice-presidente Geraldo Alckmin. Seu nome, no entanto, foi posto de lado em favor de Julio César de Arruda em função da decisão do presidente e do ministro da Defesa, José Múcio, de escolherem os oficiais mais antigos de cada Força para chefiar a Marinha, o Exército e a Aeronáutica.
Contra Tomás pesava o fato de ser o comandante da Academia das Agulhas Negras (Aman) em 2014, quando o então deputado federal Jair Bolsonaro lançou ali a sua candidatura à Presidência em um vídeo compartilhado por críticos dos militares e do governo Bolsonaro. Muitos viam ali a prova da participação do general no projeto de fazer Bolsonaro presidente. Quatro anos depois, Tomás era o chefe de gabinete do comandante do Exército, Eduardo Villas Bôas, quando este fez seus famosos tuítes em que se manifestava contra a concessão de habeas corpus a Lula, na véspera do julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF).
Respeito às urnas
No Comando Militar do Sudeste (CMSE), ele se tornaria uma das peças fundamentais do Alto Comando contra todas as tentativas de se contestar as eleições e o resultado das urnas. Disse isso recentemente a Fernando Henrique Cardoso e a outros interlocutores.
A campanha petista tinha conhecimento do comprometimento do general com o respeito ao resultado das urnas, assim como o de outros oficiais superiores, como o general Stumpf, o comandante militar do Nordeste, Richard Nunes, e o comandante militar do Sul, o discreto general Fernando Soares. O cerco aos militares foi grande. Colegas de turma de academia os pressionaram em grupos de WhatsApp. Tomás deixou o grupo de sua turma no aplicativo de mensagens depois que compartilharam ali uma imagem de seu colega, o general Otávio Rêgo Barros, com um capacete em forma de melancia.
Assédio
Setores do bolsonarismo passaram a assediar os generais após a derrota do ex-presidente na eleição e, com a negativa da maioria do Alto Comando de questionar o resultado, Tomás, Richard e Stumpf se tornaram alvo de uma campanha de difamação que procurava apresentá-los como traidores e “melancias”. No fim, o próprio comandante do Exército, general Marco Antonio Freire Gomes, virou alvo de uma operação psicológica que visava desestabilizá-lo por também ter sido contrário a uma virada de mesa.
O marco inicial dessa campanha foi o dia 2 de novembro, quando cerca de 60 mil manifestantes se reuniram diante da sede do CMSE para protestar contra o resultado das urnas. Tomás acompanhou tudo de perto. E deu uma ordem aos subordinados: estava proibido qualquer contato entre oficiais e os radicais. O general chegou a caminhar incógnito e sem farda entre os acampados, no trajeto entre sua casa e o quartel.
Durante os eventos do dia 8, o general telefonou para o governador paulista Tarcísio de Freitas (Republicanos) e ofereceu ajuda logística e de inteligência, tudo o que fosse possível sem que houvesse um decreto de Garantia de Lei e Ordem (GLO). Ao mesmo tempo, Tomás orientou aos seus subordinados que contatassem os acampados que ainda permaneciam em frente ao quartel para que tudo fosse desmontado, conforme ordem de Brasília.
Nos dias subsequentes, o general desenvolveu a convicção de que o País precisava ser pacificado, superando as desconfianças mútuas entre o Poder Civil e o Poder Militar. Também defendia a punição dos que se excederam nos atos após a eleição e pretendia ver processados os que o tentaram difamar, a exemplo do que fizera com um oficial que se manifestou politicamente em 2022 – ele foi punido com dois dias de cadeia sem que isso fosse divulgado.
No Ar: Show Da Madrugada