Terça-feira, 25 de março de 2025
Por Redação Rádio Caiçara | 21 de novembro de 2023
O ultradireitista Javier Milei venceu as eleições na Argentina no último domingo (19) com declarações radicais, dentre elas a de que pretende dolarizar a economia abandonando o peso argentino. A proposta vem em meio a uma crise econômica que traz uma das maiores taxas de inflação do mundo atualmente.
Em outubro, a inflação acumulada dos últimos 12 meses alcançou 142,7% na Argentina — patamar mais alto desde agosto de 1991. O aumento dos preços, sozinho, foi de 8,3% em outubro. Os dados são do Instituto de Estatísticas do país, o Indec.
É neste cenário que Milei pretende abolir o uso do peso argentino e eliminar a principal função do Banco Central, a de controlar a política monetária do país. Mesmo que não tenha detalhado sua principal proposta, um de seus livros publicados cita o cálculo de que precisaria de quase três anos para aplicar o que chamou de “dolarização purista”.
Nesse plano, o atual sistema bancário seria mudado para outro, com 100% de reservas obrigatórias. Em uma segunda etapa, seria lançada uma competição cambial, entre dólar e peso, e só então, uma vez que os argentinos escolhessem a divisa, o Banco Central seria “eliminado” de vez.
Esse movimento de abandonar a moeda local para adotar o dólar já foi aplicado em países de pequeno porte, como Equador, que tem 17,8 milhões de habitantes, e Panamá, com 4,3 milhões — mas nunca em um país com uma economia nas dimensões da Argentina que soma 45,81 milhões de habitantes e um PIB de US$ 632,7 bilhões em 2022, segundo dados do Banco Mundial.
Efeitos
A dolarização de uma grande economia é uma faca de dois gumes, segundo apontaram analistas.
Isso porque, enquanto em curto prazo a substituição da moeda poderia dar uma “sensação de vitória” em curtíssimo prazo com uma queda brusca na inflação — a principal dor dos argentinos atualmente —, as consequências não demorariam a aparecer já que, sem controle monetário, a nação perde uma de suas principais ferramentas para lidar com crises econômicas: a política monetária.
Hoje, a economia argentina já é parcialmente dolarizada, mas o controle da política monetária ainda está sob regime do Banco Central argentino.
Então, com a mudança na prática, todas as decisões em relação aos juros, por exemplo, seriam tomadas pelo Fed (Federal Reserve), o BC dos Estados Unidos — e aplicadas no país sul-americano.
Sem controle sobre a política monetária, o governo perde autonomia no processo de limitar o gasto do Estado, em um momento em que o país está endividado.
Outro ponto importante é a possibilidade de uma fuga de capital para os Estados Unidos, afundando a indústria local. Isso porque, com ambos usando a mesma moeda, a preferência dos consumidores pode fazer com que os recursos sejam direcionados para o comércio estrangeiro.
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