Terça-feira, 25 de março de 2025
Por Redação Rádio Caiçara | 3 de novembro de 2023
Uma das primeiras coisas a compreender sobre as reportagens, análises e comentários que têm sido publicados desde os ataques do Hamas a Israel, em 7 de outubro, é que ninguém conhece todos os fatos. Como sempre, é muito difícil penetrar na névoa de uma guerra para perceber o que está acontecendo no campo de batalha. A nova forma do conflito entre israelenses e palestino ainda não surgiu.
Os eventos ainda estão acontecendo rapidamente. Os receios de que a guerra possa se espalhar são muito reais. Novas realidades no Oriente Médio estão por aí, mas a forma como irão funcionar depende de como esta guerra vai se desenrolar durante o resto do ano, e provavelmente mais além.
O editor de notícias internacionais da BBC, Jeremy Bowen, listou alguns dos fatores que sabemos e outros que ainda geram dúvidas sobre o futuro da região.
1. Uma certeza é que os israelenses apoiam a campanha militar para acabar com o poder do grupo islâmico Hamas e do seu parceiro, a Jihad Islâmica. A retaliação é motivada pelos ataques do Hamas, que deixaram 1.400 pessoas mortas em 7 de outubro, e pelo fato de cerca de 240 reféns ainda estarem detidos em Gaza.
O que dizer dos civis palestinos inocentes que estão sendo mortos?, perguntei a Noam Tibon, um general reformado do Exército de Israel. “Infelizmente, está acontecendo. Vivemos em uma região difícil e precisamos sobreviver… temos de ser duros. Não temos escolha”, respondeu.
Muitos israelenses partilham o seu sentimento de que as mortes de civis palestinos são lamentáveis, mas que isso é uma consequência das ações do Hamas.
2. É evidente que o ataque de Israel à Faixa de Gaza está causando um terrível derramamento de sangue. O último número de mortes de palestinos, divulgado pelo Ministério da Saúde de Gaza, dirigido pelo Hamas, ultrapassou 9.000 pessoas – dos quais cerca de 65% são crianças e mulheres.
Não está claro quantas das pessoas assassinadas eram civis ou lutavam pelo Hamas ou pela Jihad Islâmica.
3. Outra coisa que sabemos com certeza é que o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, está sob grande pressão.
Ao contrário dos chefes militares e de segurança de Israel, ele não aceitou qualquer responsabilidade pessoal pela série catastrófica de falhas que deixaram as comunidades na fronteira de Israel com Gaza praticamente indefesas em 7 de outubro.
No dia 29 de outubro, ele causou alvoroço ao culpar as agências de inteligência pelas falhas em uma publicação no X (antigo Twitter). Netanyahu apagou a mensagem logo depois, e pediu desculpas.
4. Também está claro que o antigo status quo da região foi destruído. Era desagradável e perigoso, mas parecia existir uma certa estabilidade familiar.
Desde o fim da última revolta palestina, em 2005, surgiu um padrão que Netanyahu acreditava poder ser sustentado indefinidamente. Era uma ilusão perigosa para todos os envolvidos.
O argumento era que os palestinos não eram mais uma ameaça para Israel. Em vez disso, eles eram um “problema a ser gerenciado”. As ferramentas disponíveis incluem a antiga tática de “dividir para governar”.
Netanyahu, que foi primeiro-ministro durante a maior parte do tempo desde 2009 – depois de um período anterior entre 1996 e 1999 – tem defendido consistentemente que Israel não tem um parceiro para a paz.
5. É também claro que Israel, apoiado pelos Estados Unidos, não vai tolerar um acordo que permita ao Hamas permanecer no poder. Isso garante muito mais derramamento de sangue. Também há grandes dúvidas, que até agora não foram respondidas, sobre quem poderia substituir o grupo.
O conflito entre árabes e judeus pelo controle das terras entre o rio Jordão e o Mar Mediterrâneo já dura mais de 100 anos. Uma lição dessa longa e sangrenta história é que nunca haverá uma solução militar.
Na década de 1990, o processo de paz de Oslo foi estabelecido para tentar pôr fim ao conflito por meio do estabelecimento de um Estado palestino com a capital em Jerusalém Oriental, ao lado de Israel.
A última tentativa de reanimar o acordo, após anos de negociações intermitentes, aconteceu durante a administração Barack Obama. Mas o processo falhou há uma década e, desde então, o conflito só se agravou.
Como disseram o presidente Biden e muitos outros, a única hipótese possível de evitar mais guerras é estabelecer um Estado palestino ao lado de Israel. Mas isso não será possível com os atuais líderes de nenhum dos lados.
No Ar: Bom Dia Caiçara