Sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

Sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

Voltar Veja perguntas não respondidas sobre a fraude no cartão vacinal do ex-presidente Bolsonaro

A Polícia Federal (PF) realizou na quarta-feira (3) a Operação Venire, que contou com uma ação de busca e apreensão na casa do ex-presidente Jair Bolsonaro, em Brasília. O ex-presidente estava na residência no momento das buscas. O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, foi preso na mesma ação que apura a atuação de um grupo que teria inserido dados falsos de vacinação contra a covid nos sistemas do Ministério da Saúde. A operação foi autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Bolsonaro foi intimado para prestar depoimento, mas segundo a assessoria da PF ainda não há data para ouvir o ex-presidente.

De acordo com os indícios coletados pela PF, a suposta falsificação do certificado de vacinação tinha como objetivo viabilizar a entrada nos Estados Unidos de Bolsonaro, de seus familiares, de assessores, além de parentes desses auxiliares, driblando as exigências da imunização obrigatória.

Além de Cid, a operação prendeu mais cinco outras pessoas: o secretário municipal do Governo de Duque de Caxias (RJ), João Carlos de Sousa Brecha, o policial militar que atuou na segurança presidencial, Max Guilherme, o militar do Exército e também segurança pessoal de Bolsonaro, Sérgio Cordeiro, o sargento do Exército Luis Marcos dos Reis e o candidato a deputado estadual Ailton Barros (PL).

O operação levantou algumas questões que ainda precisam ser respondidas. Confira algumas delas:

1. Por que fraudar o comprovante do Bolsonaro mesmo tendo passaporte diplomático?

Fontes diplomáticas confirmaram que Bolsonaro não precisava apresentar documento porque teria visto diplomático, mesma alegação do ex-presidente. Em entrevista à Jovem Pan após a operação de busca e apreensão da PF em sua casa, em Brasília, o ex-presidente disse que nunca teve seu comprovante vacinal exigido em suas viagens aos Estados Unidos pelo “tratamento dispensado a um chefe de Estado”, no qual “tudo é acertado antecipadamente”.

O vice-porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Vedant Pat, afirmou que não iria comentar as suspeitas de que o ex-presidente Jair Bolsonaro tenha falsificado sua carteira de vacinação, mas reiterou que, na época em que Bolsonaro viajou aos Estados Unidos, a vacinação no país era obrigatória.

Um ofício enviado à embaixadora dos EUA no Brasil, Elizabeth Bagley, pede que a diplomacia americana abra uma investigação contra Jair e Michelle Bolsonaro, bem como Mauro Cid Barbosa, preso na operação de quarta-feira, e avalie suspender vistos que permitam a entrada do trio no país.

2. Por que o registro de Bolsonaro foi incluído e, depois, excluído?

A investigação da PF apontou que registros de vacinação do ex-presidente e de sua filha caçula, Laura, foram inseridos no sistema do Ministério da Saúde em 21 de dezembro de 2022 e apagados seis dias depois sob a justificativa de “erro”.

A suspeita é que, entre a inclusão e a exclusão dos dados, Bolsonaro tenha feito cópia de sua carteira de vacinação, a fim de que pudesse comprovar que estava imunizado. A exclusão dos dados teria ocorrido para que ele mantivesse o discurso antivacina, que foi uma marca de seu mandato.

3. Por que incluir a Laura no esquema, se ela, segundo alega Bolsonaro, tem um atestado que a isenta da vacinação?

Jair e Michelle Bolsonaro negam que a filha Laura teria sido vacinada. Segundo o ex-presidente, Laura teria um atestado que a isenta de vacinação por problemas cardíacos. A PF afirmou que o certificado de vacinação contra a covid de Laura foi emitido na língua inglesa, através do aplicativo ConecteSUS em 27 de dezembro, às 14h09. No dia seguinte, o jovem viajou aos EUA com os pais. No certificado fraudado, Laura teria tomado três doses da vacina. Os dados foram inseridos pelo secretário municipal de Governo de Duque de Caxias (RJ), João Carlos de Sousa Brecha, um dos detidos na operação.

4. O caso tem alguma relação com outras tramas envolvendo Mauro Cid e Bolsonaro?

Mauro Cid tem um histórico de relacionamento com o ex-presidente que vem de família. Ele é filho do general Mauro Cesar Lourena Cid, que foi colega do ex-chefe do Executivo no curso de formação de oficiais do Exército. Desde esse período, Bolsonaro mantém uma amizade com o pai de Mauro Cid.

Mauro Cid ascendeu na carreira no governo passado. Ele era major e foi promovido a tenente-coronel. Seu nome ganhou notoriedade nesta quarta-feira, após reportagem de Rodrigo Rangel, do portal Metrópoles, apontar que investigações da PF, sob o comando do Supremo Tribunal Federal (STF), apuram se o ajudante de ordens do ex-presidente operava uma espécie de “caixa paralelo”. O ex-presidente Bolsonaro nega as informações.

5. Bolsonaro sabia do esquema montado pelo subordinado direto?

Ex-ajudante de ordem de Bolsonaro, Mauro Cid, fez duas tentativas de liberar as joias de R$16,5 milhões recebidas pelo ex-presidente do governo da Arábia Saudita e que foram confiscadas pela Receita Federal. Ele era homem de confiança de Jair Bolsonaro, sendo pouco provável que atuasse de forma independente. Ainda assim, o ex-presidente nega qualquer participação na fraude.

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