Quarta-feira, 01 de outubro de 2025
Por Redação Rádio Caiçara | 30 de setembro de 2025
O peso argentino voltou a sofrer pressão, forçando o governo a intervir para evitar uma forte queda apenas dias depois de uma demonstração de apoio dos Estados Unidos ter impulsionado os ativos do país.
O peso chegou a cair mais de 6% frente ao dólar nesta terça-feira (30), maior queda intradiária desde 8 de setembro, antes de o governo entrar para vender moeda no mercado à vista.
Com isso, o dólar oficial no atacado encerrou em alta de 1,47%, a 1.380 pesos, depois de chegar a ultrapassar os 1.400 pesos. Segundo fontes do mercado, citadas pela imprensa local, o Tesouro teria vendido dólares no mercado.
Não está claro quanto o governo do presidente Javier Milei vendeu. O Banco Central da Argentina se recusou a comentar.
Segundo o jornal local La Nación, no fim do dia foi informado que as reservas brutas do país encerraram setembro em US$ 40,374 bilhões – US$ 748 milhões a menos que na segunda-feira. Mas, por ser fim de mês, devem ter contribuído para essa diferença os pagamentos a organismos multilaterais que explicam essa diferença. O número oficial, para saber se o Tesouro atuou no mercado de câmbio, será conhecido nos próximos dias.
Já o risco-país saltou 9,25%, para 1.228 pontos centesimais. O indicador mostra o nível de confiança dos mercados de que um país será ou não capaz de honrar seus compromissos. Quanto maior, menor a confiança. O índice S&P Merval, da Bolsa de Buenos Aires, recuou 1,1% no dia. Em setembro, acumulou queda de 21,5%.
As perdas desta semana marcam uma forte reversão para a moeda, que havia subido mais de 10% depois que o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, anunciou planos para uma linha de apoio financeiro de US$ 20 bilhões.
Uma redução temporária do imposto sobre exportações anunciada por Milei trouxe US$ 7 bilhões ao país em poucos dias, alimentando a valorização, enquanto o governo também retomou alguns controles de capitais que haviam sido suspensos em abril. Nada disso, no entanto, foi suficiente para impedir que o peso retomasse sua queda nesta semana.
A administração de Milei aproveitou o breve período de alívio na semana passada para comprar dólares fora do mercado de câmbio e reforçar suas reservas. Mas ainda enfrentou dificuldades para conter a crescente demanda por dólares, alimentada por preocupações com o apoio político do presidente às vésperas das eleições legislativas de meio de mandato no próximo mês e pela falta de clareza em relação ao futuro de sua política cambial.
A ausência de detalhes sobre a linha de apoio financeiro dos EUA também pesa sobre os ativos. A Argentina anunciou que Milei, que retornou dos Estados Unidos na semana passada, se reunirá com o presidente Donald Trump em 14 de outubro na Casa Branca.
Os títulos argentinos em dólar com vencimento em 2035 caíram mais de 1,3 centavo, para 54 centavos por dólar, sendo um dos piores desempenhos entre os mercados emergentes.
A demonstração de apoio dos EUA acalmou o mercado, mas “não resolve os desequilíbrios nem a tendência da moeda”, disse Alejandro Cuadrado, estrategista de câmbio do BBVA em Nova York. “A tendência de médio prazo continuará de alta, e haverá muita atenção no período pós-eleitoral às dinâmicas e próximos passos, já que este regime é visto como temporário.”
Mais cedo nesta terça-feira, Milei deu um breve impulso aos ativos ao oferecer mais detalhes sobre o acordo com os EUA em uma entrevista de televisão. Em sua primeira aparição na mídia desde o anúncio de Bessent, o presidente argentino afirmou que seu governo manteria a linha de swap cambial com a China, mesmo enquanto negocia um pacote de resgate financeiro com Washington.
Milei também declarou que a Argentina já garantiu financiamento até o final do próximo ano e sinalizou que fará mudanças em seu gabinete após as eleições legislativas de 26 de outubro.