Quarta-feira, 15 de janeiro de 2025
Por Redação Rádio Caiçara | 26 de maio de 2022
Com os preços de alimentos subindo a patamares recordes em todo mundo, ao menos 30 países já adotaram medidas de controle das exportações de comida. E até economias ricas, como França, Reino Unido e Estados Unidos, estão sentindo o impacto da alta no custo de produtos alimentícios.
Na Índia, foram impostas restrições às exportações de trigo e açúcar. A Malásia anunciou esta semana o veto às vendas externas de frango. A Indonésia limitou as exportações de óleo de palma.
O protecionismo agrícola atingiu o maior patamar desde a crise global de 2008, avalia Sabrin Chowdhury, chefe de Commodities na Fitch Solutions. Ela afirma que, desde o início da Guerra na Ucrânia, ao menos 30 países já adotaram medias para restringir as exportações de alimentos.
“Este movimento deve se acentuar ao longo de 2022 e ameaçar a segurança alimentar dos países mais vulneráveis”, avalia.
Os países ricos não estão imunes. Pesquisa realizada em abril mostra que quase 10 milhões de britânicos foram forçados a reduzir seu consumo de alimentos ou até mesmo a abdicar de uma refeição por dia diante do aumento de preços.
Na França, o governo do presidente recém-eleito Emanuel Macron planeja dar vouchers para a compra de alimentos para as famílias mais pobres. E, nos Estados Unidos, redes de fast-food têm reduzido suas porções para disfarçar a alta de preços.
As Nações Unidas estimam que os preços de alimentos subiram 70% desde meados de 2020 e estão em patamar recorde.
“Os preços de alimentos mais altos afetam de forma desproporcional as famílias mais pobres, que gastam grande parte de sua renda com comida. Mesmo nos EUA e no Reino Unido, os mais pobres estão enfrentando dificuldades crescentes para se alimentar”, diz Sonia Akter, professora de Agricultura na Universidade Nacional de Cingapura.
Ameaça da fome
A fome aumentou ao redor do mundo diante dos impactos econômicos da pandemia de covid, mas a situação se tornou particularmente grave no Brasil: a parcela de brasileiros que não teve dinheiro para alimentar a si ou sua família, durante algum período nos últimos 12 meses, subiu de 30% em 2019 para 36% em 2021, patamar recorde da série histórica iniciada em 2006. É também a primeira vez que o nível de insegurança alimentar no Brasil supera a média mundial.
É o que aponta pesquisa elaborada pelo economista Marcelo Neri, diretor do Centro de Políticas Sociais FGV Social. O estudo foi realizado com base no processamento de dados coletados entre agosto e novembro pelo Gallup World Poll, instituto que aplica questionários padronizados desde 2006 em 160 países e fornece evidências comparáveis em escala global sobre temas como saúde, educação, moradia e qualidade de vida.
Considerando a média de 120 países, a insegurança alimentar aumentou 1,5 pontos percentuais no mundo contra 6 pontos percentuais no Brasil, ou seja, a piora do risco de fome foi quatro vezes maior no país.
A situação de insegurança alimentar se agravou nos últimos anos em meio à pandemia, mas o quadro já era dramático desde a crise econômica que provocou recessão entre 2014 e 2019, quando também houve uma escalada da desigualdade de renda.
Os mais pobres sentem mais dificuldade para colocar comida na mesa. A pesquisa mostra que o a insegurança alimentar entre os 20% mais pobres no Brasil saiu de 36% em 2014 para 53% em 2019, chegando a 75% em 2021 – um aumento de 22 pontos percentuais em dois anos. Já os 20% mais ricos experimentaram queda de insegurança alimentar de três pontos percentuais (de 10% em 2019 para 7% em 2021).
Na comparação com a média global de 122 países em 2021, os 20% mais pobres no Brasil registram 27 pontos percentuais a mais de insegurança alimentar, enquanto os 20% mais ricos apresentam 14 pontos percentuais a menos.
No Ar: Clube do Ouvinte