Sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

Sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

Voltar TikTok se tornou um problema diplomático entre EUA e China

No dia 10 de março, duas semanas depois que a Rússia invadiu a Ucrânia, a Casa Branca fez uma conferência por Zoom com 30 proeminentes criadores de conteúdo do TikTok. A então secretária da Casa Branca, Jen Psaki, e membros do Conselho de Segurança Nacional fizeram um briefing os tiktokers que, juntos, tinham dezenas de milhões de seguidores sobre as últimas notícias do conflito e as metas e prioridades da Casa Branca.

“Nós reconhecemos que este é um canal importante para os americanos saberem e se atualizarem dos últimos acontecimentos. Então, queremos ter certeza de que vocês tenham as informações direto das fontes oficiais”, disse o diretor de estratégia digital da Casa Branca, Rob Flaherty.

Ao mesmo tempo, o governo de Joe Biden estava há mais de um ano tentando negociar com a ByteDance, companhia chinesa dona do TikTok, questões relacionadas à segurança nacional em torno do aplicativo. Membros da Casa Branca que organizaram o encontro com os tiktokers foram impedidos de baixar o app em seus aparelhos corporativos.

A abordagem contraditória do governo americano em relação ao TikTok – de querer usá-lo como ferramenta para falar com o público, mas temer a influência estrangeira – talvez seja a melhor fotografia do problema que a plataforma representa.

No último ano, o TikTok teve, nos Estados Unidos, mais visitas que o Google e mais tempo de visualização que o YouTube. O extraordinário sucesso do app é ainda mais relevante pelo fato de ser um produto da rival geopolítica dos EUA. Em décadas, nenhuma empresa chinesa conseguiu conquistar tanto espaço na sociedade americana.

Ofensiva americana

Nos Estados Unidos, ser duro com a China é um dos poucos pontos em comum entre os partidos. Neste mês, um projeto de lei bipartidário que quer proibir o uso do aplicativo para todos no país foi apresentado no Congresso. Um total de 14 estados já proibiram o TikTok em aparelhos usados na administração pública, e um projeto de lei que estende o veto para o governo federal está em tramitação.

Enquanto isso, na China, o governo busca controlar as empresas de tecnologia de alto nível e seus fundadores, com receio de que, com sua influência, independência e popularidade, eles estejam se tornando bases de poder alternativas ao Partido Comunista Chinês.

Apenas há alguns anos, a ascensão da ByteDance parecia o prenúncio de uma era de domínio de aplicativos chineses. Mas, agora, com muros subindo em ambos os lados do Pacífico, o TikTok está entre a antiga e a nova eras – chinês demais para os EUA, americano demais para a China.

Em 2011, as remessas de smartphone na China excederam as dos EUA pela primeira vez. O programador chinês Zhang Yiming viu a oportunidade nisso. No início de 2012, ele começou a ByteDance. Naquele ano, a empresa de tecnologia lançou a primeira versão do Junri Toutiao, aplicativo que usava inteligência artificial e que seria o embrião do TikTok.

Outras plataformas, como Facebook e Twitter, exigiam que os usuários acumulassem amigos e conexões manualmente, e as postagens dessas pessoas entravam no feed dos internautas. No Toutiao, ao contrário, não interessava quem você conhecia, e sim do que você gostava. Baseando-se em como a pessoa reagia ao conteúdo — se lia tudo ou uma frase, se dedicava mais tempo à leitura de um parágrafo particular, se deixava um comentário — o app começava a delinear um retrato de quem o usuário era e o que ele queria.

Ameaça ao Facebook

Em 2017, a ByteDance comprou o Musica.ly, app chinês que estava fazendo sucesso entre adolescentes americanos. E o rebatizou de TikTok, incorporando a ele a tecnologia de inteligência artificial que vinha desenvolvendo antes.

As principais plataformas americanas não se preocuparam com o TikTok inicialmente. Parecia algo estagnado depois de atingir uma audiência de pré-adolescentes, da mesma forma como havia ocorrido com o Musica.ly.

Até que, com a pandemia e lockdown a que muitos países foram submetidos em 2020, o TikTok prosperou como nunca antes. Apenas no primeiro semestre daquele ano, de acordo com a empresa de pesquisa Senso Tower, o aplicativo teve mais de 620 milhões de downloads em todo o mundo.

Para o Facebook, em particular, a ameaça era pior. A rede social estava perdendo seus usuários jovens e o engajamento estava despencando na proporção inversa em que o TikTok crescia.

Diante disso, de acordo com reportagem do Wall Street Journal, em um jantar com o presidente Donald Trump, Mark Zuckerberg se manifestou sobre o que seria uma ameaça às empresas americanas de internet. No encontro, o bilionário teria afirmado que parar as plataformas chinesas deveria ser uma prioridade para o governo dos EUA.

Em meados de julho de 2020, após encontro na Casa Branca entre Trump e membros de seu gabinete, “ficou claro que havia mais ou menos unanimidade de que o TikTok é uma ameaça à segurança nacional”, segundo uma pessoa que participou da reunião.

O crescente domínio do TikTok provocou duas preocupações principais: primeiro que os dados coletados sobre usuários americanos pudessem ser acessados por Pequim e usados para fins de chantagem, assédio e espionagem. Em segundo lugar, que o algoritmo em si poderia ser usado para promover os objetivos de política externa do governo chinês, seja promovendo conteúdo favorável a Pequim ou suprimindo pontos de vista considerados censuráveis.

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No Ar: Caiçara Confidencial