Terça-feira, 15 de outubro de 2024

Terça-feira, 15 de outubro de 2024

Voltar Tantos sauditas como russos têm interesse na derrota do presidente democrata Joe Biden nas eleições do ano que vem para o republicano Donald Trump

Um dos principais riscos para a reeleição do presidente Joe Biden, nos EUA, é a recente escalada dos preços do petróleo, que ameaça prejudicar a economia americana. Esse aumento do petróleo vem sendo puxado pela Rússia e pela Arábia Saudita, países que gostariam que Biden perdesse as eleições para Donald Trump em 2024. Segundo a mídia americana, a preocupação com essa situação na Casa Branca é grande.

A economia, junto com a imigração e a idade avançada do presidente, são os maiores problemas de Biden na campanha eleitoral. Uma pesquisa do jornal “The Washington Post” divulgada nesta semana indica que apenas 30% dos americanos aprovam a condução da economia por Biden, o menor patamar da sua Presidência.

Ainda segundo esse levantamento, 74% acham que a economia não vai muito bem ou vai mal, apesar do baixíssimo desemprego, na casa de 4%. Entre os pontos mais negativos, na percepção dos americanos, estão o preço dos alimentos (91% acham que não vai bem ou vai mal), o preço dos combustíveis (87%) e a renda média dos trabalhadores (75%).

E é justamente aí que o petróleo caro poderá causar mais estragos à aprovação de Biden. O aumento do petróleo eleva imediatamente os preços dos combustíveis nos EUA, que já estão perto do maior nível em um ano.

Além disso, a alta dos combustíveis, se se mantiver, tende a se propagar pela economia, atingindo os demais preços, incluindo alimentos. Uma alta geral de preços elevaria a preocupação com a inflação e poderá fazer o Fed (o banco central americano) elevar mais os juros, com impacto negativo na economia.

O preço do barril de petróleo, que em junho chegou a US$ 71,4 (Brent, principal referência global), vem subindo desde então e atingiu nessa quinta, US$ 96,55. Muitos analistas especulam que deve chegar logo a US$ 100.

A Opep+ (que reúne a Organização dos Países Exportadores de Petróleo mais dez outros grandes exportadores, incluindo a Rússia) começou a cortar a produção de petróleo em abril, para tentar elevar os preços. Mas a demanda continuou fraca e os preços não subiram. Em julho, o grupo reforçou essa política com um corte ainda maior da Arábia Saudita, o maior exportador mundial. Isso coincidiu com um aumento da demanda global e os preços começaram a subir. Neste mês, a Rússia (segundo maior exportador) e Arábia Saudita concordaram em estender os seus cortes voluntários de produção até o final deste ano.

Além do corte em si, chamou a atenção do mercado a aparente facilidade de russos e sauditas de chegarem a um acordo. No passado, os dois países tinham dificuldade de alinhar suas políticas de produção.

A economia desses dois países depende fortemente do petróleo, e ambos têm interesses imediatos em elevar o preço da commodity, para aumentar a receita.

A Arábia Saudita está embarcando num ambicioso programa de investimentos públicos, que tem como objetivo transformar a economia do país. Isso inclui a construção de uma nova cidade, Neom, futurística e sustentável, ao custo estimado de US$ 500 bilhões.

Já a Rússia está às voltas com uma guerra muito mais longa do que previa na Ucrânia e passou de superávit para déficit nas contas públicas, estimado em 2% do PIB neste ano. Com o apoio ocidental à Ucrânia, não se espera que a guerra acabe tão cedo.

Mas é muito provável que o cálculo político também esteja embutido na equação do preço do petróleo. Tantos sauditas como russos têm interesse na derrota de Biden nas eleições do ano que vem.

Para a Rússia, a vitória de Trump seria o caminho mais curto para vencer a guerra na Ucrânia. O republicano já disse que pretende rever o apoio militar e financeiro dos EUA aos ucranianos. O presidente russo, Vladimir Putin, e Trump se elogiaram mutuamente em várias ocasiões.

Já a Arábia Saudita tem uma aliança histórica com os EUA, mas, para o novo líder do país, o príncipe Mohamed bin Salman, Biden é um aliado incômodo. As relações entre os dois são muito ruins. Em 2019, Biden chamou o príncipe de “pária”, pelo assassinato do jornalista dissidente Jamal Khashoggi. O regime saudita vem desde então se aproximando da Rússia e da China e rejeitou um pedido americano de aumentar a produção de petróleo quando a Rússia atacou a Ucrânia, em 2022, o que fez disparar a cotação da commodity. Já as relações do príncipe com Trump eram ótimas e de mútuo apoio.

Trump tem aproveitado a alta do preço dos combustíveis nos EUA para criticar Biden. Ele acusa o presidente de sacrificar o consumidor americano em favor da política climática, ao dificultar uma maior extração de petróleo no país — Trump rejeita a tese do aquecimento global causado pelo homem e promete produzir o máximo de petróleo possível.

Biden tem poucas opções de ação para enfrentar o petróleo a US$ 100. Em março de 2022, no início da guerra da Ucrânia, ele autorizou o uso das reservas estratégicas dos EUA para tentar reduzir o preço. Mas o resultado foi pouco efetivo e deixou as reservas baixas.

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