Segunda-feira, 09 de dezembro de 2024

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Voltar Saiba quem é Ailton Barros: preso por fraude já foi suspeito de acordo com o tráfico, expulso do Exército e hoje advoga para o pai do menino Henry Borel

Preso pela Polícia Federal (PF) acusado de intermediar inserção de dados ilegal no cartão de vacinação da covid, na quarta-feira (3), o capitão reformado Ailton Gonçalves Moraes Barros já foi investigado por suposto acordo com o tráfico, foi expulso do Exército após punições disciplinares, virou advogado e hoje advoga para Leniel Borel, pai do menino Henry Borel.

Tráfico

Em 2006, o então capitão Ailton Barros foi apontado como negociador, com traficantes do Comando Vermelho para a devolução de 10 fuzis e uma pistola roubados de um quartel da Força, em São Cristóvão.

O caso foi revelado na época pelo jornal Folha de S. Paulo. Oficialmente, o Exército sempre negou qualquer acordo, que chegou a ser investigado pelo Ministério Público Militar.

Segundo o g1, o capitão fez a proposta de acordo com os traficantes. O comando da ação, no entanto, recusou.

Outros militares contam que, apesar de ser expulso dos gabinetes de generais e coronéis na ocasião, o capitão Barros seguiu com o plano e teve apoio de setores da Força.

Segundo fontes, um outro militar chegou a ir ao complexo penitenciário de Gericinó negociar com chefes da facção Comando Vermelho. A equipe de reportagem apurou que o combinado foi:

  • que o Exército encerrasse com ocupações que estavam em curso nas favelas para achar os fuzis;
  • que as armas recuperadas fossem apresentadas, e o roubo fosse atribuído à facção rival (ADA – Amigos dos Amigos);
  • e que o traficante Robson Roque da Cunha, o Robson Caveirinha deixasse o presídio de Bangu 1, então de segurança máxima, e fosse transferido para Bangu 3, onde estava a sua facção.

Os pontos 1 e 2 foram concretizados, mas não foi comprovado qualquer acordo. A apreensão das armas foi anunciada como feita na área de mata, próximo à Rocinha, que era chefiada pela ADA, e o comando mandou a retirar as tropas das comunidades, exceto para ações pontuais.

A transferência do criminoso dependia de autorização do secretário da Secretaria de Administração Penitenciária e do juiz da Vara de Execuções Penais e não foi feita de imediato. Caveirinha chegou a ser transferido, anos depois, mas não há confirmação de ligação com o suposto acordo.

As armas foram recuperadas no domingo, 12 de março de 2006, nove dias após o roubo, em uma comunidade no Jardim América, próximo à Avenida Brasil. De forma sigilosa e sem confronto, foram colocadas em um comboio de carros descaracterizados da Força e levadas para uma unidade militar do Rio.

Dois dias depois, o Exército fez uma operação na Rocinha com intensa troca de tiros com os traficantes numa tentativa de justificar que ainda buscava pelo armamento. Ninguém ficou ferido. O anúncio da recuperação das armas foi feito logo depois, e a Força informou que elas estavam numa área de mata próxima à Rocinha, que era dominada pela ADA – facção rival ao CV.

O vazamento da negociação com os traficantes atrapalhou a carreira militar de Ailton Barros.

A recuperação dos fuzis não modificou a imagem de Ailton Barros no Exército diante dos superiores. Alguns o viam como indisciplinado e não apoiavam esse contato com traficantes para um profissional ligado à Inteligência da Força.

Aílton Barros respondia a uma série de processos na Justiça Militar que incluíam tentativa de abuso sexual de civis em acampamentos militares, mentiras em depoimentos e humilhação de militares de menor patente.

“Considerado incapaz de permanecer no serviço ativo do Exército sob argumento de que tem reiterada conduta irregular de atos que afetam o pundonor militar e o decoro da classe”, informa uma das decisões.

Durante o processo no Conselho de Justificação que resultou em sua expulsão, o capitão Barros foi promovido por antiguidade ao major. A expulsão foi decidida por unanimidade pelos ministro do Superior Tribunal Militar (STM).

Militar paraquedista, do grupo de Artilharia, Ailton Barros deixou o Exército e foi estudar Direito.

Na eleição de 2022, em que se vendia como o “01 de Bolsonaro”, foi eleito como deputado estadual suplente.

Barros é advogado de Leniel Borel, pai do menino Henry, morto em março de 2021, no Rio. Leniel foi o maior doador da campanha de Barros a deputado estadual pelo PL: R$ 3 mil. Os outros R$ 2,5 mil foram doados pelo partido.

Mauro Cid

A política e a carreira de advogado não afastaram Ailton Barros dos colegas de turma da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) e da Artilharia da Brigada Paraquedista. Um em especial: Mauro Cid, ajudante de ordens do então presidente Jair Bolsonaro.

O tenente-coronel pensou logo em Barros, de acordo com investigadores, quando precisou de um cartão de vacinação para a mulher viajar para os Estados Unidos.

Lembrou da ampla articulação de Barros em vários setores do Rio de Janeiro. O militar da reserva então pediu ajuda a seu amigo há 30 anos, o ex-vereador Marcelo Siciliano.

Marielle

No depoimento à PF, ao ser preso, Ailton Barros estava sozinho e disse que não necessitaria de advogados.

A equipe da Polícia Federal que investiga o assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes foi ouvi-lo sobre o crime, e o g1 apurou que novos elementos levados por Ailton serão apurados.

Em interceptação telefônica, autorizada pela Justiça, Barros diz a Cid saber quem é o mandante do crime.

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