Sábado, 14 de dezembro de 2024
Por Redação Rádio Caiçara | 22 de setembro de 2023
No dia seguinte à decisão do Banco Central de cortar mais 0,5 ponto percentual da taxa básica de juros, levando Selic a 12,75% ao ano, a Bolsa brasileira terminou o dia com forte queda. O Ibovespa, principal índice da B3, caiu mais de 2% e terminou o pregão em 116.145 pontos.
Ao mesmo tempo, o dólar se valorizou e fechou em R$ 4,93, uma alta de 1,10%. Mas se tudo o que o mercado mais quer é a queda dos juros, por que essa reação negativa?
Quem costuma acompanhar o mercado de capitais sabe que, em geral, quando a renda fixa (que tem a Selic como referência) se torna menos atrativa, pagando rendimentos menores, a Bolsa tende a se valorizar. Os investidores ficam mais dispostos ao risco para ganhar mais, e as empresas têm melhores condições de crédito para investir, melhorar seus balanços e distribuir mais dividendos.
A queda da Bolsa nesta quinta-feira então pode ser vista inicialmente como um paradoxo. No entanto, explicam analistas, vários são os fatores que influenciam o desempenho das ações.
Embora tudo gire em torno de números e projeções, a performance da Bolsa não é lá uma ciência tão exata porque envolve também o sentimento dos investidores e as suas percepções quanto ao cenário macroeconômico — do Brasil e do mundo. E o principal motivo para tanto mau humor veio de fora, mais precisamente dos Estados Unidos.
Na quarta-feira, o Banco Central brasileiro cortou juros e sinalizou que deverá manter essa mesma postura nas próximas reuniões. Tudo dentro do esperado pelos investidores, ainda que eles queiram ver esse ciclo de queda dos juros se acelerar. O problema é que, no mesmo dia, aconteceu algo bem diferentes na maior economia do mundo.
Enquanto o BC brasileiro cortava 0,5 ponto percentual da Selic, o seu correspondente americano, o Federal Reserve (Fed), anunciou a manutenção dos juros nos EUA no intervalo entre 5,25% e 5,5%, maior patamar em mais de duas décadas.
Mas o que azedou mesmo as expectativas foi o fato de o presidente do Fed, Jerome Powell, ter deixado bem claro que não vai medir esforços para fazer a inflação voltar à meta de 2% ao ano nos EUA, incluindo até a possibilidade de retomar o ciclo de alta de juros. Essa é uma decisão que afeta o fluxo de capitais para economias do mundo inteiro, principalmente emergentes como a do Brasil.
BC e Fed
A conjuntura que se desenha é de uma queda de juros no Brasil em um ambiente de aperto monetário nos EUA, país que é emissor do dólar (a principal moeda de troca entre os países) e que tem a renda fixa considerada a mais segura do mundo.
Os rendimentos dos títulos americanos para dez anos, inclusive, subiram nesta quinta para cerca de 4,5% ao ano — maior valor desde 2007. Tudo isso estimula os investidores a abandonarem aplicações em países emergentes, que embutem maior risco, e buscarem abrigo na remuneração dos títulos americanos.
Em resumo: reduz-se o fluxo de capital internacional interessado em investimentos no Brasil, inclusive na Bolsa. Com menos dólares a caminho do país, o real e ações brasileiras tendem a perder valor, logo concluem os agentes do mercado.
Para João Sá, co-head de Investimentos da Arton Advisors, se o diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos ficar menor do que 5%, a Bolsa brasileira poderá ser ainda mais penalizada: “O problema é que podemos ver juros mais baixos no Brasil, principalmente após a mudança do presidente do Banco Central, que ocorrerá em 2025, somado ao fato de que soft-landing (pouso suave da economia) não é mais o cenário base nos Estados Unidos.”
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