Segunda-feira, 02 de dezembro de 2024

Segunda-feira, 02 de dezembro de 2024

Voltar Prévia da inflação desacelera com queda, mas alimentos seguem em alta

O IPCA-15 de julho mostrou desaceleração expressiva da inflação, refletindo a queda dos preços de combustíveis e energia elétrica. Ao mesmo tempo, os preços de alimentação no domicílio e serviços ainda tiveram altas expressivas. A prévia da inflação oficial subiu 0,13%, bem abaixo do 0,69% do mês anterior.

Entre as boas notícias, as pressões inflacionárias se mostraram um pouco menos disseminadas e as cotações dos bens industriais mostraram um comportamento mais benigno. No entanto, o forte avanço dos alimentos, em especial, afeta o bolso dos mais pobres, o que tende a relativizar o impacto favorável da queda de combustíveis e da conta de luz sobre a percepção dos eleitores.

A inflação alta, principalmente a comida cara, é um dos fatores que derrubam a popularidade do presidente Jair Bolsonaro. Em 12 meses, a variação do IPCA-15 passou de 12,04% para 11,39%.

O índice de difusão, que mostra o percentual de itens em alta no mês, ficou em
67,85% no IPCA-15 de julho, abaixo dos 68,94% de junho, mas ainda acima dos 62,4% de julho do ano passado, aponta LCA Consultores.

A média dos cinco núcleos mais acompanhados pelo Banco Central (BC) passou de 0,89% no índice de junho para 0,72% no deste mês. Apesar da desaceleração, a variação foi elevada.

Em 12 meses s, a média desses cinco núcleos, que buscam eliminar ou reduzir a influência dos itens mais voláteis, subiu de 10,43% para 10,56%, muito acima das metas deste ano e do próximo, de 3,5% e 3,25%, pela ordem.

A inflação mais baixa reflete em grande parte a mudança na tributação de
combustíveis, energia elétrica e comunicação, como destaca a LCA. O Congresso definiu um limite para a cobrança pelos Estados do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre esses itens, o que derrubou os preços.

Nesse cenário, as cotações dos combustíveis caíram 4,88%, enquanto as de energia elétrica recuaram 4,61%. Com isso, os grupos de transportes e habitação tiraram 0,36 ponto percentual do IPCA-15 de julho.

A inflação de bens industriais também contribuiu para um comportamento mais favorável do indicador deste mês. O grupo, que tinha avançado 0,65% em junho, subiu 0,28% em julho. Em 12 meses, ficou em 13,49%, um pouco abaixo dos 13,95% de junho, segundo a MCM Consultores Associados.

O grupo de alimentação no domicílio, por sua vez, teve uma alta forte, de 1,12%, mostrando uma aceleração significativa em relação ao mês anterior, quando tinha subido 0,08%. Em 12 meses, o avanço do conjunto desses produtos passou de 16,71% para 17,46%, uma variação muito expressiva. Enquanto tubérculos, raízes e legumes tiveram queda neste mês de 14,19% e carnes caíram 0,64%, leite e derivados avançaram 11,43% e frutas subiram 4,03%.

A inflação de serviços também segue pressionada, refletindo ainda o efeito da
reabertura da economia. O grupo teve alta de 0,84%, próxima do 0,86% de junho. Em 12 meses, o avanço passou de 8,76% para 8,9%. Os serviços mais sensíveis à demanda tiveram variação ainda mais forte. O grupo que exclui serviços domésticos, turismo, cursos e comunicação subiu 0,91%, levando a alta em 12 meses para 9,05%, de acordo com a MCM.

Na visão do economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, os itens que tiveram altas de preços “mostram que a dinâmica da inflação segue inalterada”.

Ele aponta a “concentração em custos” (citando a alta do leite) e o reflexo da abertura da economia (caso de itens como lanche e passagem aérea), além de itens administrados não alcançados pela redução de impostos (como plano de saúde e emplacamento).

Para Gonçalves, “o efeito da mudança sobre a política monetária é, no mínimo, nulo”, uma vez que “a inflação de 2022 já não é um assunto, dado que o horizonte relevante é 2023”.

Já o impacto sobre a percepção da população “deve ser acanhado”, avalia Gonçalves, em relatório. O economista do Fator lembra que a queda dos combustíveis “atinge parte minoritária da população”, enquanto o recuo da energia elétrica afeta a população em geral.

Já o comportamento de alimentos e bebidas, que também tem um efeito generalizado, segue negativo. “Milita a favor de Bolsonaro, no quesito popularidade, menos a inflação do que o Auxílio Brasil turbinado, a partir da próxima semana”, conclui ele.

As estimativas apontam para uma deflação em julho do IPCA, indicador que mostra o comportamento de preços no mês fechado. A LCA Consultores projeta queda de 0,63%, refletindo o recuo forte de combustíveis e energia elétrica. Será um tombo expressivo, mas a composição do indicador tende a ser menos favorável ao presidente do que deverá sugerir o resultado do índice “cheio”.

A LCA estima que os preços de alimentação no domicílio vão subir 1,41%, o que castiga mais a população de menor renda, justamente o segmento em que Bolsonaro tem o pior desempenho nas pesquisas.

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