Segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

Segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

Voltar Preocupa o aumento de infartos em mulheres, mesmo jovens

A medicina avançou muito nas últimas décadas no diagnóstico e no tratamento das doenças cardiovasculares. Mas isso não diminuiu as preocupações da diretora nacional de cardiologia da Rede D’Or, Olga Ferreira de Souza. Para ela, ainda falta conscientização e prevenção dos fatores de risco, responsáveis, por exemplo, pelos 50 milhões de brasileiros hipertensos.

A cardiologista está em alerta pelo aumento do número de infartos em mulheres, inclusive entre mulheres jovens, o que já exigiu um posicionamento da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Segundo Souza, a genética é determinante, mas é o estilo de vida que vai definir se o problema cardíaco chegará aos 40 ou aos 70 anos. Saiba mais sobre a saúde do coração na entrevista a seguir:

É possível cuidar do coração?

“Sempre dá. O importante é começar. A gente consegue conter certos processos no organismo, como aterosclerose, obesidade, diabetes. Então, no momento que qualquer pessoa perceber que precisa mudar os seus hábitos de vida para evitar doenças futuras, é super benéfico. Algumas pessoas começam isso mais tardiamente. Então, já tem algum grau de doença. Em algumas situações, a gente consegue estabilizar e evitar a progressão. E aí, com isso, você evita um infarto, uma doença coronariana, uma arritmia, uma hipertensão. Então, sempre é tempo.”

Qual é o momento ideal?

“Hoje, a gente tem uma expectativa de vida muito mais alta. Então, o ideal é que a pessoa comece a cuidar o mais cedo possível. Quem tem história familiar de infarto, de hipertensão, de diabetes, de colesterol alto, deve, assim que possível, com 15, 18 anos, já medir o colesterol e verificar a sua pressão arterial. Tardiamente, seria quando já tem alguma doença instalada, e não uma questão de idade.”

Um infarto aos 40 é mais mortal?

“O infarto é grave em qualquer idade, seja no jovem, no adulto, no idoso, é um evento catastrófico, e a maioria das pessoas não consegue nem ter o primeiro atendimento médico, morre antes. Nós só tratamos metade das pessoas que chega com infarto. O restante acaba morrendo antes. Daí a nossa preocupação com o número cada vez crescente da mortalidade por doenças cardiovasculares. São mais de 1.100 mortes por dia, cerca de 46 por hora, uma morte a cada 90 segundos. As doenças cardiovasculares causam o dobro de morte daquelas por câncer, todas as causas de acidentes e violências, três vezes as doenças respiratórias e as infecções.”

Hipertensão

“A hipertensão arterial hoje no Brasil é extremamente prevalente. Dá para controlar com remédio, com estilo de vida, e, mais importante, com a redução do consumo de sal. Tem dados que nos preocupam bastante: a Organização Mundial de Saúde recomenda uma ingesta em torno de 5 gramas de sal por dia, 2 gramas de sódio. Para você ter ideia, a média do brasileiro é de 10 a 12 gramas de sal. E esse é um dos fatores principais para o desenvolvimento da hipertensão arterial. Não só o sal que a gente adiciona à mesa, ao alimento, tempera, mas o sal dos alimentos ultraprocessados.”

Proporção homens e mulheres

“Esse é um outro ponto extremamente preocupante. A Sociedade Brasileira de Cardiologia até lançou um posicionamento este ano pelo aumento do número de infarto em mulheres, especialmente na faixa etária de 50 a 69 anos, mas também entre mulheres jovens. O infarto ou a doença coronariana da mulher muitas vezes não é provocada por uma lesão obstrutiva de uma placa dentro das grandes artérias coronárias, mas sim por uma disfunção na parede do vaso. E os sintomas normalmente são mais leves e passam desapercebidos, como sudorese, cansaço, fraqueza, um mal-estar, dor no peito atípica, falta de ar. Sinais que a paciente acaba minimizando, porque não tem aquele alerta típico de uma dor aguda no peito como o homem. Então, os sintomas não são valorizados nem tanto pelas mulheres que o sentem, nem quando chegam no atendimento médico.”

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