Quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

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Voltar Para enfrentar candidato da extrema direita, o esquerdista Sergio Massa chamou o grupo brasileiro que já trabalhou em campanhas do PT em 2018 e 2022

Os últimos a chegarem foram os brasileiros — mais de 20 — depois da surra que o peronista Sergio Massa levou nas Primárias Abertas Simultâneas e Obrigatórias (Paso) em agosto, nas quais obteve 21,43%, contra 29,86% do candidato da direita radical Javier Milei. O grupo, que já trabalhou em campanhas do PT em 2018 e 2022, uniu-se a uma tropa de estrategistas de campanha integrada, também, por espanhóis, americanos e uruguaios, além dos próprios argentinos. O esforço para derrotar o partido A Liberdade Avança na Argentina reuniu experiências de diversos países nos quais, na grande maioria dos casos, lideranças da direita radical também sacudiram os sistemas políticos e se tornaram um desafio para os partidos tradicionais — e o status quo em geral.

A disputa entre Massa e Milei ainda tem final aberto, coincidem analistas. Nos últimos dias, empresas de consultoria locais divulgaram os resultados de suas últimas pesquisas em campo e virtuais e, de um total de 25 estudos, o candidato peronista está na frente em oito, e Milei em 17. A média de todas as pesquisas dá 50,9% das intenções de voto para o candidato do partido A Liberdade Avança, e 49,1% para o candidato da aliança entre peronistas e kirchneristas União pela Pátria.

O time brasileiro é comandado por três figuras centrais: Otávio Antunes, Raul Rabello e Halley Arrais. O trio se tornou central na campanha e estabeleceu um vínculo direto e intenso com o candidato peronista. Alguns chamaram a atenção da imprensa local, como Antunes, já conhecido como “el grandote del asado” (o grandão do churrasco, em tradução livre), por sua paixão pela carne argentina. O apelido vazou de dentro da campanha, e foi mencionado em reportagens sobre o consórcio de estrategistas que deu fôlego à candidatura do peronista.

Massa, que financia, segundo fontes da campanha, o trabalho de toda a equipe, começou a sondar os brasileiros bem antes das Paso. Alguns dos estrategistas que trabalharam nas campanhas do PT também atuaram em países da região como Paraguai, Honduras e Peru. Nos dois últimos, foram importantes nas eleições do ex-presidente Pedro Castillo e da atual presidente Xiomara Castro.

“Todos trabalham em equipe, e Massa se relaciona com todos. Se formou uma verdadeira força-tarefa internacional”, disse uma fonte da campanha.

A atuação dos estrangeiros, e sobretudo dos brasileiros, incomoda os rivais de Massa, que já se referiram publicamente ao grupo. O ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019) afirmou recentemente, a uma rádio local, que os brasileiros eram responsáveis pelo que chamou de campanha do medo contra Milei, agora seu aliado político. O próprio candidato da direita radical questionou publicamente o trabalho dos estrategistas brasileiros e acusou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de interferir na campanha argentina e “semear medo”.

Ao canal de TV do grupo La Nación, Milei afirmou que “Lula está interferindo na campanha, financiando parte dela, e nesse pacote há um conjunto de consultores brasileiros que são os melhores especialistas em campanha negativa, semeiam medo na sociedade”. Fontes da campanha de Massa negaram, assim como o próprio PT, qualquer envolvimento do presidente brasileiro na política argentina.

Assim como os brasileiros têm a experiência de ter derrotado o ex-presidente Jair Bolsonaro nas urnas — e também a de terem perdido para Bolsonaro em 2018 — os americanos, que trabalham, segundo fontes da campanha, para Dan Restrepo, estrategista-estrela das últimas campanhas do Partido Democrata, conhecem profundamente o fenômeno Donald Trump.

Restrepo esteve várias vezes na Argentina nos últimos tempos e, segundo as mesmas fontes, tem diálogo direto e fluido com Massa. O trabalho dos americanos mistura reuniões presenciais e virtuais. Já os brasileiros estão em Buenos Aires desde agosto.

Embate direto

Ao contrário de Massa, Milei tem a equipe 100% nacional, integrada por alguns estrategistas que trabalham no exterior. O mais conhecido é Fernando Cerimedo, que colaborou com o ex-candidato presidencial chileno José Antonio Kast, da direita radical, e com Bolsonaro.

Brasileiros, espanhóis e americanos convenceram Massa de que a famosa terceira via, que o candidato sempre defendeu, não existia mais. Era necessário, comentou uma das fontes consultadas, partir para um embate direto com seu rival, construindo um dilema entre Milei e a Argentina, não apenas entre Milei e o peronismo e o kirchnerismo.

Massa seguiu à risca as orientações dos estrategistas internacionais, sempre contando com a ajuda da sua base peronista e kirchnerista. A mistura dos dois elementos rendeu, na opinião de analistas, seja qual for o resultado, uma campanha surpreendentemente bem sucedida.

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No Ar: Caiçara Confidencial