Terça-feira, 11 de fevereiro de 2025
Por Redação Rádio Caiçara | 10 de agosto de 2023
O relatório da investigação que embasou a operação da última quarta-feira (9), na qual foi preso o ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal (PRF) Silvinei Vasques, traz trechos de depoimentos prestados à Polícia Federal (PF) pelo próprio Vasques e também pelo ex-ministro da Justiça Anderson Torres.
Nas oitivas sobre uma suposta tentativa de interferir no fluxo de eleitores no segundo turno do pleito do ano passado, os dois nomeados por Jair Bolsonaro (PL) deram informações conflitantes sobre os bloqueios em estradas perpetrados pela PRF na ocasião, sobretudo no Nordeste, única região do País na qual o hoje presidente e então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) superou o antecessor em votos. Enquanto Silvinei defendeu que “a operação não era da PRF”, Torres citou a “autonomia operacional” do órgão e alegou que “não tinha atribuição para vetar” eventuais planos de ação.
O documento remetido ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) — que decretou a prisão de Silvinei e autorizou o cumprimento de dez mandados de busca e apreensão contra dirigentes da PRF —, mostra que, ao ser ouvido pelos agentes federais, Torres afirmou que “os planejamentos operacionais” para o domingo de eleição foram “apresentados com autonomia pelas instituições” envolvidas. O ex-ministro de Bolsonaro alegou ainda que, embora a PRF e outros órgãos estivessem sob o guarda-chuva de sua pasta, ele “não tinha atribuição para vetar o planejamento operacional de qualquer instituição”.
“Questionado sobre a ação da PRF no segundo turno das eleições de 2022 a princípio ter sido mais enfática nos locais onde o então candidato Lula teria recebido 75% ou mais de votos no primeiro turno, o declarante afirma que Silvinei Vasques lhe informou que a ação foi praticamente a mesma do primeiro turno, não tendo havido qualquer direcionamento”, destaca uma passagem do relatório, assinado pelo delegado Flávio Vieitez Reis, da PF.
Por fim, o ex-ministro reiterou que “a PRF tinha autonomia operacional, como já dito”, e que “as informações da ação da PRF foram repassadas” a ele pelo então diretor-geral do órgão. “Tendo Silvinei afirmado que a atuação da PRF era normal, chegando, inclusive, a escoltar veículos que estariam sem condições de trânsito para garantir o direito de voto”, pontua outro trecho do depoimento.
O próprio Silvinei, no entanto, trilhou caminho oposto em oitiva no dia 25 de novembro do ano passado, colocando as ações realizadas no segundo turno na conta da pasta comandada por Torres. “O número de abordagens no segundo turno foi maior porque o Ministério da Justiça fez uma operação”, argumentou, frisando que “a operação não era da PRF, era uma operação do Ministério da Justiça”.
O ex-diretor da corporação afirmou ainda que as atribuições da PRF na ocasião foram determinadas a partir de um estudo elaborado pela Secretaria de Operações Integradas (Seopi), vinculada diretamente ao Ministério da Justiça, “que fez o levantamento no Brasil todo das necessidades, dos riscos e da questão de inteligência”. “Com essas informações”, disse, foram feitas “as ordens de missão”.
De acordo com as investigações da PF, integrantes da PRF teriam direcionado recursos humanos e materiais com o intuito de dificultar o trânsito de eleitores no dia 30 de outubro. Segundo o inquérito, os crimes apurados teriam sido planejados desde o início daquele mês, sendo que, no dia do segundo turno, foi realizado patrulhamento ostensivo e direcionado à região Nordeste.
A PRF informou, por nota, que o corregedor-geral Vinícius Behrmann acompanhou a operação na sede da PF, em Brasília. A corporação disse ainda que, paralelamente às investigações da PF, foram abertos três processos administrativos disciplinares no âmbito da PRF para apurar a conduta do ex-diretor-geral.
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