Quarta-feira, 04 de dezembro de 2024

Quarta-feira, 04 de dezembro de 2024

Voltar O que está por trás da reeleição sem adversários de Gianni Infantino na Fifa

Reeleito pela segunda vez ao cargo de presidente da Fifa – como candidato único – nesta quinta-feira (16), Gianni Infantino foi aclamado no Congresso da entidade em Kigali, Ruanda.

“Ele é um presente para o futebol e para a humanidade”, diz Amaju Pinnick, membro do Conselho da Fifa indicado pela entidade para falar com o The New York Times.

A admiração é recorrente, em especial entre dirigentes de federações menores, que estão entre os principais focos na questão política e de orçamento da gestão atual da Fifa. Fora deste círculo de admiradores, há visões um pouco diferentes. Os maiores críticos vêm das ligas europeias, das associações dos jogadores, dos clubes que dominam o futebol e das confederações continentais, que têm visto a entidade mais como uma competidora do que como uma parceira.

Eles descrevem o presidente como uma figura decisiva, motivada pela ambição, e cujas decisões questionáveis e busca por legado produzem conflitos frequentes, ideias fracassadas e drama desnecessário. O problema é que pouco podem fazer para pará-lo: as ligas europeias, as associações de jogadores e os times não votam em eleições da Fifa.

Infantino se projetou como parte de um grupo de executivos que ajudou a tocar reformas de ética e governança na Fifa, em meio aos escândalos mundiais da gestão anterior. Quando foi indicado ao cargo de presidente, após a saída de Sepp Blatter, entre 2015 e 2016, ganhou o apoio de mais de 100 nações. Atos como usar um voo comercial em sua primeira viagem como presidente ajudaram a aumentar sua popularidade.

O presidente também chamou a atenção ao nomear Fatma Samoura, ex-diplomata de Senegal na ONU, ao cargo de secretária-geral. A contratação de uma mulher africana para um cargo dominado por homens e que torna Samoura, no papel e de acordo com as novas políticas implementadas por seu próprio grupo, a mulher mais poderosa do futebol, gerou boa imagem ao italiano. Mas, na prática, ele segue centralizando as atribuições, como quando se mudou para Doha para acompanhar os preparativos finais para a Copa do Mundo do Catar.

“Ele herdou uma bagunça pelas ações da última administração, tirando a Fifa dessa bagunça”, justifica Victor Montagliani, presidente da Concacaf. Carlos Cordeiro, ex-presidente da federação dos Estados Unidos, é consultor sênior de Infantino, a quem descreve como “um agente da mudança”.

Críticas da Noruega

Esse apoio nem sempre é unânime. Infantino já se envolveu em desentendimentos com a Conmebol e com a Uefa. Ideias como a agora abandonada da Copa do Mundo a cada dois anos também o desgastaram.

Lise Klaveness, presidente da federação da Noruega, uma das poucas mulheres a liderar uma entidade esportiva, é também uma das poucas em sua posição a criticar publicamente a gestão de Infantino. Ela fala em “cultura do medo” que impede que outros falem: “No topo (de entidades), o tom é importante”, disse ela dias antes da eleição.

Segundo Klaveness, cartas enviadas a federações pela Fifa pedindo apoio a Infantino teriam afastado possíveis adversários, e o presidente atual não tem o apoio da Noruega:

“Ele desperdiçou muitas oportunidades para fazer o que fala e implementar as reformas com as quais chegou”, diz ela, que se junta a outros críticos públicos como Javier Tebas, presidente de La Liga (Espanha) e Aleksander Ceferin, presidente da Uefa.

Infantino e Ceferin pouco se falam desde que se desentenderam em 2018, quando o italiano pediu ao Conselho da Fifa autorização para assinar um contrato de US$ 25 bilhões (R$ 132 bilhões) com um investidor desconhecido (que depois seria revalado como um fundo japonês apoiado por países do do Golfo Árabe) para criar novos campeonatos. Uma ruptura total no relacionamento foi evitada no ano passado, quando Infantino abriu mão da ideia da Copa bienal.

As objeções públicas ainda são uma exceção (na gestão de Infantino), já que tamanha deslealdade tem um custo alto, diz um chefe de uma federação internacional. Há muita coisa em jogo, muito dinheiro e decisões no futebol ainda passam pelo presidente, uma posição formidável da qual Infantino não quer abrir mão tão cedo.

Em dezembro, um dia antes da final da Copa do Mundo, ele afirmou que está “esclarecido” no Conselho da Fifa de que seu primeiro mandato, os três anos em que substituiu Blatter, não contam nos 12 anos de limite estabelecido nas reformas da Fifa. Isso implica na possibilidade de Infantino permanecer presidente por 15 anos, até 2031, algo que os críticos dizem que “acende sinais de alerta”, mesmo que os europeus não tenham sido tão rápidos para criticar a Uefa mudando silenciosamente suas próprias regras para que Ceferin estenda seu mandato por lá.

“A cultura não mudou. Olhe para a instituição de fora, o que você vê? As votações são quase sempre unânimes. Os candidatos são sempre reeleitos e quase nunca são desafiados. Presidentes passam dos limites de mandato. Todas essas coisas, se fossem em um país, seriam evidências claras de que há um problema democrático grave no sistema eleitoral e na organização da instituição”, diz Miguel Maduro, ex-chefe de governança da Fifa de Infantino e um crítico da direção atual do futebol.

Mais dinheiro do que nunca

Quando consultada sobre as principais realizações de Infantino como presidente, a Fifa aponta o aumento em sete vezes nos pagamentos às federações como a primeira delas. “As coisas passam pelos devidos processos, com uma abordagem séria e profissional. O dinheiro não desaparece mais”, afirmou um porta-voz de Infantino sobre a gestão.

De fato, há mais dinheiro do que nunca: sob comando do italiano, a Fifa convenceu o Departamento de Justiça dos Estados Unidos que foi vítima da corrupção de seus antigos dirigentes. Como recompensa, teve direito a uma fatia robusta dos US$ 200 milhões (R$1,05 bilhão) de restituição.

Voltar

Compartilhe esta notícia:

Deixe seu comentário

No Ar: Bom Dia Caiçara