Quarta-feira, 04 de dezembro de 2024
Por Redação Rádio Caiçara | 18 de maio de 2023
Ao falar sobre a série “Galvão: Olha o que ele fez”, o narrador explicou que não queria um documentário que só o mostrasse como uma pessoa bacana. E as primeiras imagens da produção, que teve sua estreia na Globoplay nessa quinta, já deixam isso bem claro. São exibidas cenas de explosões suas em bastidores de programas e de transmissões e até uma resposta atravessada que soa prepotente:
“Essa coisa eu sei fazer. Pô, vai explicar pra mim o que eu sei fazer aqui?”, questionou a quem o orientava por um ponto eletrônico durante uma transmissão de Fórmula-1.
Este “lado B” de Galvão Bueno é um dos grandes trunfos da série documental dividida em cinco episódios. Ao invés de apenas relembrar transmissões e bordões marcantes e exibir entrevistas elogiosas, a produção também se propõe a mostrá-lo nos bastidores e a reunir episódios que ajudam a explicar como o carioca de 72 anos se tornou o maior nome da narração esportiva brasileira.
“Você acha que um cara que passou 42, 41 anos na Globo e conseguiu conquistar o espaço que ele conquistou ia conseguir tendo aplaudido, dado risadinha? Não. Ele lutou muito. Lutou com todas as forças para conseguir o que ele considera uma qualidade diferenciada”, opina Gustavo Gomes, um dos diretores da série ao lado do também jornalista Sidney Garambone.
“O Galvão é forjado na época do Boni (José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, homem-forte da TV Globo entre os anos 1960 e 1990). Ele é forjado no auge da televisão aberta no Brasil. Então o Galvão tem, sim, uma resistência à falta de profissionalismo, ao erro. Ele não gosta de errar e gosta de estar cercado por pessoas que fazem o melhor”, diz Sidney.
O documentário também mostra um Galvão que reflete sobre equívocos e até mesmo sobre a própria vaidade. Afinal, se atingiu um status diferenciado em relação a seus pares foi porque se recusou a limitar-se a narração. Assumiu-se uma atração à parte.
“Quando o Galvão cria uma nova forma de narrar, onde o comentário, a crítica, a “corneta” passa ser parte integrante, ele acaba meio que passando por ele o grito do torcedor para a narração. Isso tem um preço, mas também tem um bônus. Ele passa a ter uma audiência muito grande por conta disso. Por que quem assiste ao Galvão Bueno? Muito mais gente gosta do Galvão Bueno do que não gosta. Mas todo mundo assiste. Porque é divertido você assistir se você gosta e é divertido assistir para criticar”, teoriza Gomes.
Dentro deste contexto, a rejeição sofrida por parte do público não é ignorada. A campanha “Cala a boca, Galvão”, que viralizou nas redes sociais durante a Copa de 2010 e virou notícia até em veículos internacionais, é lembrada.
“Muito antes do algoritmo, do ódio, do engajamento pelo dislike, do like pelas polêmicas, o Galvão já sabia essa métrica. Já tinha inventado, do jeito dele, uma forma de engajar dessa forma. E, olha, eu te garanto: essas pessoas que criticam, que fazem a hashtag “CalaabocaGalvão”, quando encontram o Galvão fazem questão de tirar uma foto com ele. Então a Globo passa a colocar o Galvão demais no ar. Existe uma saturação. Essa saturação leva a esse fenômeno de um pouco de rejeição. E isso leva o Galvão a diminuir a frequência com que narrava os jogos”, continua o diretor.
“Ele não fala mal do jogador como pessoa. Ele critica se está jogando mal. Só que ele foi ficando tão grande, influente, que isso passou a ter realmente um efeito na vida das pessoas. E aí você soma isso com o canhão que é a Rede Globo.”
Entre eles está o volante Alemão, chamado por Galvão de “cumpincha” de Maradona por não conseguir pará-lo no lance do gol que eliminou o Brasil da Copa de 1990. E também Zinho, um dos mais criticados pelo narrador no Mundial de 1994. Um dos momentos altos da série é quando seu protagonista se reúne com o tetracampeão para pedir desculpas.
Alemão, por sua vez, não aceitou o encontro. Mas gravou um depoimento no qual revela ter revisto a transmissão do jogo inúmeras vezes e entendido a responsabilidade de Galvão pela forma como a opinião pública passou a condená-lo pelo gol da eliminação.
“Eu fiquei vivendo o problema durante 32 anos. Então, o que ele pensa agora, para mim, não tem a mínima importância”, disse o ex-jogador em trecho de seu depoimento.
Ao longo dos cinco episódios, a produção acompanha o narrador no Catar, sua última Copa pela Globo, e visita locais importantes em sua trajetória. Entre eles, os estádios de Tóquio e de Yokohama e o autódromo de Suzuka, todos no Japão, onde ele narrou títulos mundiais no futebol e na Fórmula 1 e o penta da seleção.
Também conversa com mais de 50 pessoas, entre familiares (destaque para os filhos, que falam com franqueza sobre a ausência do pai durante a infância), amigos, colegas de trabalho e desafetos. Neste caso, aqueles que quiseram falar, já que nomes como o jornalista Renato Maurício Prado, o atacante Neymar e o técnico Felipão se recusaram.
No Ar: Show Da Madrugada