Terça-feira, 21 de janeiro de 2025

Terça-feira, 21 de janeiro de 2025

Voltar Novo ministro argentino terá de reduzir tensão política para enfrentar alta de preços de 64% ao ano

O presidente Alberto Fernández, da Argentina, não conseguiu dissimular as lágrimas numa reunião com prefeitos, pouco antes de anunciar a nova troca no Ministério da Economia esta semana – a segunda em menos de um mês –, quando admitiu seu esgotamento.

Além de lidar com os efeitos da pandemia e da guerra na Ucrânia sobre a economia, o líder argentino é criticado publicamente pela própria vice-presidente, a ex-presidente Cristina Kirchner, por causa da condução da política econômica.

Empresários e economistas ouvidos pela reportagem agora esperam que a nomeação do presidente da Câmara, Sergio Massa, para um novo “superministério” da Economia, que passou a reunir as pastas de Desenvolvimento Produtivo e Agricultura, Pecuária e Pesca, consiga esfriar a tensão no centro do poder e tentar fazer com que a política e a economia voltem a funcionar.

Peronista que dialoga com diferentes setores, Massa foi chefe de gabinete durante a presidência de Cristina Kirchner. Para um grande empresário do setor energético, que falou sob condição de anonimato, a chegada de Massa traz “alívio” e aumenta a expectativa de que, apesar dos problemas a serem encarados, o governo saia da paralisação. O alívio ficou demonstrado no mercado financeiro. O anúncio de Massa para o ministério fez os títulos da dívida argentina subirem na sexta-feira. O risco país recuou e o dólar paralelo retrocedeu.

O agora superministro argentino terá três desafios imediatos, de acordo com analistas políticos e econômicos: reduzir a estratosférica inflação – que já chega a 64% ao ano –, cortar o gasto público e recuperar a confiança dos investidores e empresários no governo de Alberto Fernández.

Fernández que tinha chegado a registrar 80% de apoio popular no início da pandemia, agora conta com índices de rejeição de 71,6%, de acordo com levantamento da Giacobbe e Associados, divulgado na quinta-feira.

“Ainda falta um ano e meio de governo. Massa não tem muito tempo para demonstrar e resolver as urgências, como a redução da inflação e o controle do gasto público”, diz o economista Guido Lorenzo, da consultoria econômica LCG, de Buenos Aires.

Alta de preços

No campo da economia, o trabalho mais árduo do novo ministro argentino, Sergio Massa, será controlar a disparada dos preços no país. O índice de preços ao consumidor subiu de 5,3% somente em junho e acumula alta de 36,2% nos primeiros seis meses do ano. A partir do agravamento da crise, com a saída de Martín Guzmán da pasta da Economia no início do mês e a disparada do dólar, a expectativa é de que a inflação supere 7% em julho.

Nesse ritmo, a inflação em 12 meses pode chegar a um nível ainda mais preocupante. “Nossa estimativa é de inflação de 7% ou 8% em julho e, até o momento, de 95% neste ano”, diz o economista Orlando Ferreres, da consultoria Ferreres e Asociados.

O economista lembra que, no novo acordo assinado pela Argentina com o Fundo Monetário Internacional (FMI), a previsão era de inflação de cerca de 60% neste ano. Além disso, o orçamento da União, que acabou não sendo aprovado no Congresso, previa inflação de 40%. “Esses números, tanto do FMI quanto do orçamento que não saiu do papel, ficaram ultrapassados diante da possibilidade de uma inflação de quase três dígitos”, diz.

O Banco Central da República Argentina (BCRA) elevou a taxa de juros pela sétima vez em 2022 para 60% ao ano. É uma tentativa de estimular o correntista argentino a realizar aplicações bancárias em vez de continuar correndo para comprar dólares.

O economista Gustavo Perego, da consultoria econômica Abeceb, de Buenos Aires, diz que Massa se encontra com um “nó muito grande na economia”. Este nó inclui a dívida, a falta de dólares e a pressão inflacionária. E no segundo semestre o setor agropecuário costuma realizar operações cambiais muito inferiores ao primeiro. Ou seja, haverá menos dólares para o BCRA.

Os analistas econômicos são unânimes ao afirmar que não existe uma corrida bancária, mas uma corrida cambial no país. Na semana posterior à saída de Guzmán do ministério, eram visíveis as filas nos caixas eletrônicos em bairros de Buenos Aires, como Palermo, Retiro e no centro da cidade.

Quem tinha dinheiro na conta sacava e saia direto para as chamadas “cuevas” (covas) para a compra do dólar no paralelo, o que fez a cotação informal disparar. Enquanto o dólar oficial é cotado a cerca de 130 pesos, o paralelo (chamado de “blue”) chegou a 340 pesos no auge da crise.

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