Domingo, 19 de janeiro de 2025

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Voltar Na Ucrânia, centenas de universitários estrangeiros no fogo cruzado

Em frente à estação de Lviv, Jean-Jacques não esconde sua indignação. Como milhares de outros estudantes da África, Ásia e Oriente Médio, este congolês quer fugir da Ucrânia, mas os guardas de fronteira do país em guerra o impedem.

Jean-Jacques Kabeya chegou na noite do dia 27 de fevereiro ao posto fronteiriço de Shegyni, por onde esperava entrar na Polônia depois de escapar do bombardeio russo em Kharkiv, no leste do território ucraniano.

Após vários dias de viagem no frio, sem ajuda e quase sem dormir, este estudante de Farmácia se deparou com a recusa dos agentes de fronteira.

“Eles me disseram: ‘Você vai ficar aqui, você está fugindo da guerra, fique aqui, vai lutar conosco. Não pode sair, especialmente vocês, os negros’”, contou o homem de 30 anos à AFP.

Após 36 horas de espera infrutífera, Jean-Jacques voltou, no dia 1º, para Lviv, a principal cidade do oeste da Ucrânia, onde milhares de ucranianos e estrangeiros esperavam para embarcar em um dos poucos trens para sair do país.

“É catastrófico!”, diz ele. Nos últimos dias, foram registrados inúmeros testemunhos como o seu entre estudantes estrangeiros na Ucrânia, um país conhecido pela acessibilidade e qualidade do seu ensino superior.

A União Africana chegou a se declarar “preocupada” com a forma potencialmente “racista” com que os africanos que tentam escapar da Ucrânia estão sendo tratados, embora alguns países africanos tenham anunciado que seus cidadãos conseguiram deixar o país.

Filas separadas

Tremendo de frio, centenas desses estudantes esperavam em fila com gorros e casacos na avenida que leva ao posto de Shegyni.

De nacionalidade paquistanesa, indiana, argelina, congolesa, camaronesa ou ganesa, muitos deles passaram até quatro noites esperando resignados sob temperaturas congelantes, entre -5ºC e -10°C.

Do lado direito da avenida fica a fila para estrangeiros, enquanto do lado esquerdo a fila para ucranianos se movimenta de forma mais fluida, em especial para mulheres e crianças, já que homens entre 18 e 60 anos são obrigados a permanecer no país para lutar.

“Todos nós temos documentos”, mas, “como somos estrangeiros, nos tratam como cachorros […] e os ucranianos não se importam”, lamenta Mesum Ahmed, de 23 anos, um estudante paquistanês de ciência da computação.

“Dá para ver claramente a diferença entre eles e nós. Somos negros, e é por essa razão que isso acontece”, declara um jovem nigeriano.

Autoridades

Cerca de trinta estudantes camaroneses, que fugiram de Kirovograd, centro do país, garantem que “descobriram o racismo na Ucrânia”, enfatizando que não tinham problemas do tipo antes da guerra.

“Nas estações ou trens, éramos sistematicamente privados de lugares para sentar”, critica Bryan Famini, de 22 anos, estudante de economia. “Alguns ucranianos até riram de nós quando nos viram andando. Fiquei decepcionado com este país, não vou voltar”, diz Ghislain Weledji, de 22 anos.

Os serviços de guarda de fronteira negaram “qualquer dificuldade” e asseguram que “ninguém será impedido de sair da Ucrânia”. As autoridades polonesas também afirmaram que acolhem qualquer pessoa que fuja do conflito no Estado vizinho.

Duas semanas após o início da invasão russa, mais de 2 milhões de pessoas já deixaram o território ucraniano em busca de refúgio em outros países do Leste Europeu, segundo dados da ONU.

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