Quarta-feira, 11 de setembro de 2024
Por Redação Rádio Caiçara | 3 de dezembro de 2023
Eles surgiram há uma década com a proposta de renovar a política. Sob a influência da Operação Lava-Jato e da mobilização pelo impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT), ocuparam as ruas, programas de TV e mídias sociais, sempre com o discurso de novas e transformadoras práticas, uma democracia mais saudável e, principalmente, ética na política. Passado esse tempo, com uma pandemia e três eleições (municipal e presidenciais) no meio, muitos desses movimentos que prometiam um mundo novo precisaram se transformar, sucumbiram ao velho ou simplesmente submergiram.
“É que a renovação política, como tema, já era”, reconhece o cientista político Leandro Machado, que participou da fundação de dois desses grupos, o Agora e a Raps (Rede Ação Política pela Sustentabilidade) e foi co-fundador da plataforma “Tem Meu Voto”.
Sobreviveram os que tinham outros objetivos e nasceram com pautas que iam além da renovação e da ética na política simplesmente, como, por exemplo, o RenovaBR e a Raps. Mas, o Agora, por exemplo, não existe mais. O MBL busca se transformar em um partido. E o Acredito está passando por uma reformulação decidida em congresso do grupo há poucas semanas. “Demos uma diminuída no ritmo porque estamos nos reestruturando”, disse o presidente, Iuri Belmino.
Ele observa que, até o início da pandemia, o movimento tinha ainda uma atuação forte. Mas que o isolamento pela covid-19 foi determinante para a queda na mobilização. Além disso, a eleição e o fato de algumas lideranças terem ido para cargos nos Executivos estaduais e municipais ajudou a esvaziar o grupo.
A deputada Tabata Amaral (PSB-SP) que se tornou uma das expoentes não só do Acredito, mas da mobilização de 2013 e dos anos seguintes – está em seu segundo mandato e é pré-candidata à Prefeitura de São Paulo. O deputado Renan Ferreirinha (PSD-RJ) está licenciado e é secretário municipal de Educação na prefeitura do Rio. E o ex-deputado Zé Frederico (MDB-GO) é secretário de Ciência e Tecnologia no governo de Goiás. “As principais lideranças, estão em outras atuações”, destacou Belmino.
Eleição
A reestruturação do Acredito põe foco na próxima eleição municipal. “Vai ser uma eleição muito difícil, ainda há uma grande polarização na sociedade brasileira. E nós queremos trabalhar com nossos membros para que foquem em soluções de problemas sociais, desenvolvimento e crescimento do País e saiam dessa polarização”, continuou Belmino.
O Agora, segundo Leandro Machado, sofreu do mal de muitos outros movimentos: o discurso esvaziou e os melhores quadros também acabaram indo para gestões municipais, estaduais ou federais. Marcelo Calero (PSD-RJ), que foi ministro da Cultura no governo de Michel Temer, por exemplo, se elegeu deputado federal e atualmente é secretário municipal de Cultura do Rio. “Também houve dificuldades de financiamento, um cenário que não mudou, e, por fim, muitos desses movimentos guinaram para a direita. Não era o nosso caso”, observou.
Entre os sobreviventes ainda com atuação forte estão o MBL, o RenovaBR e a Raps. Porém, com a distinção de que a Raps surgiu antes desses movimentos e nunca foi, na prática, um deles. “A Raps não foi um movimento de renovação na política. Somos, sim, uma organização que trabalha para incluir a sustentabilidade na política”, afirma Monica Sodré, diretora executiva da Raps. “Boa parte das organizações, movidas pelo desejo de renovação, cumpriu papel relevante naquele momento, mas a vida política mudou”, avaliou Sodré, que é cientista política.
Ela considera que é uma simplificação esse mote de apenas renovar a política, porque o Congresso Nacional é estratégico
Rede
Em 2012, quando foi fundada a Raps ainda não havia sinal da onda de protestos que, um ano depois, revelou a insatisfação popular com os serviços públicos, com as instituições ao mesmo tempo que reivindicava uma renovação na política. “Nós preferimos desenvolver uma rede, deixando de lado as diferenças e que buscasse soluções para nossos desafios ambientais, sociais, econômicos e políticos. É o que nós chamamos de Amizade Cívica”, disse Sodré.
Um dos pontos essenciais de atenção da Raps é preparar candidatos para a disputa eleitoral, bem como qualificar aqueles que já têm mandato eletivo. Em especial, no que diz respeito às mudanças climáticas. “Somos uma organização para colocar a sustentabilidade na política”, define.
O RenovaBR, que surgiu junto com os movimentos de 2013, também passou por uma transformação. De um escola que formava aspirantes à ingressar na vida pública, passou a ampliar suas vagas para aqueles que já têm mandato. O CEO, Rodrigo Cobra, diz que o RenovaBR prepara quem acredita em um futuro melhor, com uma democracia mais saudável e representativa. “É mostrar que a política pode ser um lugar ético e para todos(as) que apoiam a sua transformação.”
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