Quinta-feira, 12 de dezembro de 2024
Por Redação Rádio Caiçara | 17 de maio de 2023
Quando cientistas de computação da Microsoft começaram a experimentar um novo sistema de inteligência artificial (IA), no ano passado, pediram a eles que resolvessem um enigma que deveria exigir uma compreensão intuitiva do mundo físico.
“Aqui temos um livro, nove ovos, um laptop, uma garrafa e um prego. Por favor, diga-me como empilhá-los uns sobre os outros de maneira estável”, pediram ao robô.
Os pesquisadores ficaram surpresos com a engenhosidade da resposta do sistema de IA: “Coloque os ovos no livro. Disponha os ovos em três fileiras com espaço entre elas. Certifique-se de não quebrá-los. Coloque o laptop em cima dos ovos, com a tela voltada para baixo e o teclado voltado para cima. O laptop caberá perfeitamente dentro dos limites do livro e dos ovos, e sua superfície plana e rígida fornecerá uma plataforma estável para a próxima camada”, respondeu.
A resposta fez os pesquisadores se perguntarem se estavam testemunhando um novo tipo de inteligência. Em março, eles publicaram um trabalho de pesquisa de 155 páginas argumentando que o sistema era um passo em direção à inteligência artificial geral, denominado IAG, que indicaria que uma máquina pode fazer qualquer coisa que o cérebro humano é capaz.
A partir disso foi criado um dos debates mais difíceis do mundo da tecnologia: a indústria está construindo algo semelhante à inteligência humana? Ou algumas das mentes mais brilhantes da indústria estão deixando sua imaginação levar o melhor delas?
– Comecei sendo muito cético, e isso evoluiu para um sentimento de frustração, aborrecimento, talvez até medo – admitiu Peter Lee, que lidera a pesquisa na Microsoft. – Você pensa: de onde diabos isso está vindo?
O trabalho de pesquisa da Microsoft, chamado provocativamente de “Sparks of Artificial General Intelligence” (Centelhas da Inteligência Artificial Geral em tradução livre), basicamente vai no centro de uma grande discussão, a construção de uma máquina que funcionasse como o cérebro humano ou até melhor. E isso poderia mudar o mundo. Mas também pode ser perigoso.
No ano passado, o Google demitiu um pesquisador que alegou que um sistema de IA era ”senciente”, um passo além do que a Microsoft alegou. Um sistema ”senciente” não seria apenas inteligente. Seria capaz de perceber ou sentir o que está acontecendo no mundo ao seu redor.
Mas alguns acreditam que a indústria avançou no ano passado em direção a algo que não pode ser explicado: uma nova IA está surgindo com respostas e ideias humanas que não foram programadas nela.
A Microsoft reorganizou partes de seus laboratórios de pesquisa para incluir vários grupos dedicados a explorar a ideia. Cerca de cinco anos atrás, empresas como Google, Microsoft e OpenAI começaram a construir grandes modelos de linguagem, ou LLMs, na sigla em inglês, que propiciaram o atual estágio da IA, a inteligência artificial generativa. Esses sistemas costumam passar meses analisando grandes quantidades de texto digital, incluindo livros, artigos da Wikipédia e registros de bate-papo.
Ao identificar padrões naquele texto, eles aprenderam a gerar seu próprio texto, incluindo trabalhos de conclusão de curso, poesia e código de computador. Podem até manter uma conversa.
A tecnologia com a qual os pesquisadores da Microsoft estavam trabalhando, o GPT-4 da OpenAI, é considerada o mais poderoso desses sistemas. A Microsoft é uma parceira próxima da OpenAI, criadora do ChatGPT, e investiu US$ 13 bilhões na empresa de São Francisco.
Os pesquisadores pediram ao GPT-4 que escrevesse uma prova matemática mostrando que havia números primos infinitos e fizesse isso de uma forma que rimasse. A prova poética da tecnologia era tão impressionante – tanto matematicamente quanto linguisticamente – que ele achou difícil entender com quem estava conversando.
– Naquele ponto, eu fiquei tipo: o que está acontecendo? – disseram em março durante um seminário no Instituto de Tecnologia de Massachusetts.
Eles pediram que escrevesse uma carta de apoio a um elétron como candidato à presidência dos Estados Unidos, na voz de Mahatma Gandhi, endereçada à sua esposa. E que escrevesse um diálogo socrático que explorasse os usos indevidos e os perigos dos modelos de linguagem em AI.
O chatbot fez tudo de uma forma que parecia mostrar uma compreensão de campos tão díspares quanto política, física, história, ciência da computação, medicina e filosofia, ao mesmo tempo em que combinava seus conhecimentos.
No Ar: Caiçara Confidencial