Quinta-feira, 28 de março de 2024

Quinta-feira, 28 de março de 2024

Voltar Juros dos Estados Unidos têm maior alta em 22 anos; decisão afeta inflação no Brasil

Conforme esperado, o Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, deu início a uma fase mais severa do seu processo de aperto monetário nesta quarta-feira (4).

O banco elevou em 0,50 ponto percentual as taxas de juros, para o intervalo entre 0,75% e 1%. É o maior aumento nas taxas de juros desde 2000 e a segunda elevação consecutiva.

Na reunião de março, a autoridade monetária já havia elevado as taxas em 0,25 ponto percentual, primeiro aumento realizado desde 2018. O presidente do Fed, Jerome Powell, descartou altas maiores nas taxas para as próximas reuniões, o que agradou investidores no mercado de ações americano.

De qualquer forma, a alta dos juros na maior economia do mundo terá reflexo na maioria dos outros países. O Brasil deve ser um dos mais afetados, com efeitos que já são sentidos na fuga de capitais estrangeiros da Bolsa de São Paulo, a B3.

Nesta quarta-feira, que é chamada pelos investidores de “superquarta”, o Banco Central do Brasil também decide a elevação da taxa básica de juros (Selic). Para analistas, será difícil evitar a perda de capitais para os EUA.

Com juros mais altos, os títulos do Tesouro americano ficam mais atraentes para investidores, que reduzem o apetite por investimentos de maior risco em economias emergentes como o Brasil.

Dessa forma, a decisão do Fed é um fator contra o crescimento da economia brasileira, cujas projeções já são de um avanço de menos de 1% do Produto Interno Bruto (PIB).

O dólar tende a se valorizar frente a outras moedas, como o real, o que pode aumentar as pressões inflacionárias em vários países.

Preocupações com inflação e guerra

A votação no colegiado do Fed teve apoio unânime ao aumento em 0,5 ponto percentual.

Em seu comunicado, o banco ressaltou que, embora a atividade econômica geral tenha diminuído no primeiro trimestre, os gastos das famílias e o investimento fixo das empresas permaneceram fortes.

“Os ganhos de emprego foram robustos nos últimos meses e a taxa de desemprego diminuiu substancialmente. A inflação permanece elevada, refletindo desequilíbrios de oferta e demanda relacionados à pandemia, preços mais altos de energia e pressões mais amplas sobre os preços”, destacou o banco.

O Fed também ponderou os efeitos negativos que a continuidade da guerra entre Rússia e Ucrânia e os lockdowns na China podem exercer na economia americana. Sobre a guerra, os membros do banco ainda consideram os efeitos como “altamente incertos”.

“A invasão e os eventos relacionados estão criando uma pressão ascendente adicional sobre a inflação e provavelmente pesarão sobre a atividade econômica. Além disso, os bloqueios relacionados ao Covid na China provavelmente exacerbarão as interrupções na cadeia de suprimentos. O Comitê está altamente atento aos riscos inflacionários”, afirmou o Fed.

Powell afasta receio de alta mais forte em junho

O presidente do Fed, Jerome Powell, descartou altas maiores nas taxas para as próximas reuniões, como de 0,75 ponto porcentual, ao afirmar que “não é algo que o Comitê esteja considerando ativamente”. A declaração ajudou a impulsionar as ações das bolsas americanas.

Em coletiva após o anúncio, Powell destacou que havia “um senso amplo no Comitê de que aumentos adicionais de 50 pontos-base deveriam estar na mesa para as próximas reuniões”.

“A inflação está muito alta e entendemos as dificuldades que está causando e estamos nos movendo rapidamente para reduzi-la”, disse Powell.

Os dirigentes do Fed destacaram que estarão preparados para ajustar a orientação da política monetária conforme apropriado, “caso surjam riscos que possam impedir a consecução dos objetivos”.

Desde o ano passado, o Fed já vem sendo pressionado a adotar uma postura mais rígida em sua política monetária em uma tentativa de controlar a inflação persistente nos Estados Unidos.

“Eles subiram a taxa básica de juros em 0,50 ponto percentual, o que já era esperado pelo mercado. E deixaram bem determinado uma política de aperto monetário ainda mais curta e intensa do que já foi feito no passado”, destaca o sócio da Nexgen Capital, Felipe Izac.

Izac ressalta que as decisões, tanto da alta de juros quanto a respeito dos títulos foram unânimes, o que sinaliza a preocupação dos dirigentes com a inflação alta e persistente no país.

“Deixaram claro que tem espaço para subir mais a taxa de juros, mas que a economia do país permanece forte”.

O índice de preços de gastos com consumo pessoal, o indicador preferido do Fed, subiu 6,6% em março na base de comparação anual, mais que o triplo da meta do banco.

Os formuladores de política monetária, que sinalizaram amplamente sua intenção de acelerar o ritmo dos aumentos das taxas antes do encontro desta quarta, estão tentando conter a inflação mais alta desde o início dos anos 1980.

Naquela época, o presidente Paul Volcker elevou as taxas em até 20% e arrefeceu a inflação e a economia em geral no processo.

A expectativa do Fed, desta vez, é que a combinação de custos de empréstimos mais altos e um balanço patrimonial cada vez menor proporcione uma aterrissagem suave que evite uma recessão da economia americana enquanto reduz a inflação.

Redução do balanço

O banco também deu maiores detalhes sobre o enxugamento de seu balanço patrimonial, que está na casa dos US$ 9 trilhões.

O Fed começará a permitir que suas participações em títulos do Tesouro e títulos lastreados em hipotecas diminuam em junho a um ritmo mensal combinado inicial de US$ 47,5 bilhões, aumentando em três meses para US$ 95 bilhões.

A redução inicial do balanço será de US$ 30 bilhões em títulos dos EUA por mês. Após três meses, o montante aumentará para US$ 60 bilhões por mês.

Para dívida de agências e títulos lastreados em hipotecas de agências, o limite será inicialmente fixado em US$ 17,5 bilhões por mês e, após três meses, aumentará para US$ 35 bilhões por mês.

“Ao longo do tempo, o Comitê pretende manter a carteira de títulos em montantes necessários para implementar a política monetária de forma eficiente e eficaz em seu amplo regime de reservas”, destacou o banco, em seu anúncio.

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