Quarta-feira, 04 de dezembro de 2024
Por Redação Rádio Caiçara | 19 de novembro de 2023
Uma lista de grandes nomes do mundo corporativo deu entrada em pedidos de recuperação judicial em 2023. São nomes como Americanas, Grupo Petrópolis, Light, 123 Milhas e Grupo M5 (dona da marca de roupas M.Officer), que recorreram à Justiça para travar dívidas e garantir a solvência da operação.
Para especialistas, o número de empresas em recuperação judicial não só aumentou neste ano como deve continuar crescendo pelo menos até o ano que vem.
Dados da RGF Consultoria mostram que 3.872 companhias encerraram o terceiro trimestre deste ano em recuperação judicial, um aumento de 1,3% em comparação ao registrado nos três meses anteriores, de 3.823.
No total, 131 novas empresas entraram em recuperação judicial entre julho e setembro. Enquanto isso, apenas 79 delas saíram do processo, sendo que 45 retornaram à operação normal; 23 foram incorporadas ou encerradas sem pendências, e 11 faliram.
O levantamento, compilado pelo Monitor RGF, avaliou mais de 2,1 milhões de empresas da base de cadastro de CNPJs do governo, que são matrizes de companhias ativas de pequeno, médio e grande portes. A pesquisa exclui os Microempreendedores individuais (MEIs).
Pós-pandemia e juros elevados
Um número maior de companhias tem enfrentado dificuldades desde o ano passado, ainda em um reflexo dos impactos da pandemia de Covid-19. Em especial, pesam o menor acesso ao crédito e as altas taxas de juros praticadas no Brasil. É o que especialistas chamam de impacto econômico pós-pandêmico.
Quando o Covid-19 se instalou no País — e trouxe consigo tanto a necessidade de isolamento social quanto a paralisação das atividades —, foram criadas uma série de concessões econômicas de apoio. É o caso dos auxílios emergenciais e alívios de impostos cedidos pelo governo, por exemplo. Houve também uma maior oferta de crédito por parte das instituições financeiras.
Segundo o especialista da área de insolvência do Rayes e Fagundes Advogados, Brenno Mussolin Nogueira, boa parte das companhias que passaram por uma crise severa entre 2020 e 2022 recorreram ao crédito para tentar manter a operação, esperando que, quando a pandemia acabasse, elas pudessem ter uma reviravolta e conseguissem se reestruturar.
“Mas essa projeção não se concretizou e, em muitos dos casos, temos visto que a retomada precisaria ser muito maior para que as companhias pudessem se recuperar”, disse.
Sem capacidade de honrar seus compromissos, muitas empresas passaram a tentar ou renegociar seus compromissos ou rolar a dívida (trocar um crédito velho por um novo). Quem conseguiu, se viu preso a um cenário em que o elevado nível de juros acabou agravando ainda mais o endividamento.
Em março de 2020, no início da pandemia, os juros básicos brasileiros (Selic) estavam em 3,75% ao ano (a.a.). Atualmente, a taxa está em 12,25% a.a., depois de chegar ao pico de 13,75% a.a. Além disso, o juro médio para empresas encerrou 2020 em 11,2% a.a., segundo o Banco Central. Já em setembro de 2023, essas taxas estavam em 19,7% a.a.
“O grosso [do crédito cedido às] companhias é muito atrelado às taxas de mercado e à Selic em especial. [Diante desse cenário], o custo do endividamento subiu muito, e muito de repente, […] e acabou comendo o resultado dessas empresas”, explicou o sócio especialista em reestruturação da RGF Consultoria, Rodrigo Gallegos.
O executivo lembra que boa parte dos empréstimos feitos a pessoas jurídicas possuem parcelas que vão ficando mais caras no decorrer da dívida. É um quadro que também ajuda a explicar a piora na capacidade de pagamento dessas empresas.
Caso Americanas
Não bastasse o maior número de empresas recorrendo à renegociação ou à rolagem de suas dívidas e o cenário de juros mais elevados, os especialistas ainda citam outro fator que agravou o cenário: o caso Americanas.
Em janeiro deste ano, a varejista entrou em recuperação judicial com uma dívida de R$ 43 bilhões, após declarar “inconsistências fiscais” de R$ 20 bilhões. O caso gerou suspeitas de fraude, e uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) foi instaurada pela Câmara dos Deputados para investigar a situação.
Segundo especialistas, apesar das sinalizações de que essa teria sido uma situação isolada, o caso Americanas acabou trazendo uma maior “rigorosidade” na concessão de recursos por parte das instituições financeiras.
Além disso, explicou Gallegos, outros fatores também acabaram pesando e fazendo com que os bancos fechassem a torneira.
“[À época, as instituições financeiras] não sabiam se era só algo envolvendo a Americanas ou se era uma questão setorial, por exemplo. E somado a isso ainda tinha uma mudança de governo, que sempre deixa o mercado mais receoso, querendo saber como o novo presidente vai se portar”, disse o executivo.
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