Terça-feira, 15 de outubro de 2024

Terça-feira, 15 de outubro de 2024

Voltar Inadimplente busca crédito para pagar dívidas vencidas

A combinação de inflação ainda persistente e taxa de juros em patamar alto tem levado famílias a um limbo: cada vez mais endividadas, se veem com menos condições para tomar crédito. Com o número recorde de pessoas inadimplentes, a demanda por crédito para sanar as contas continua em patamar elevado, enquanto os empréstimos para aquisição de outros bens têm despencado.

Dados da Serasa Experian e do Banco Central mostram que aqueles que não conseguem honrar suas dívidas ainda buscam modalidades como cheque especial e rotativo de cartão de crédito, mas têm demandado menos recursos para aquisição de bens como veículos e imóveis. O programa Desenrola, lançado recentemente pelo governo federal para dívidas de pessoas físicas, pode trazer certo alívio às famílias, segundo economistas.

Em abril deste ano havia 71,4 milhões de consumidores inadimplentes, ante 70,7 milhões no mês anterior, e 66,1 milhões um ano antes, segundo últimos dados disponíveis da Serasa Experian. No total, são R$ 340, 6 bilhões em dívidas negativadas, ou seja, que não foram pagas.

Hoje bancos e cartões respondem por 31,6% do total das dívidas. Serviços públicos, com exceção de telefonia, representam 21,6%, varejo, 11,3%, e telefonia, 5,3%. Somadas as dívidas não honradas com cartões de crédito e instituições financeiras, que compõem o setor financeiro, chegaram a 46,7% do total, em abril.

O total de inadimplentes atual representa 43,8% da população adulta. Os mais endividados são os grupos etários de 26 a 40 anos (25,2%) e 41 a 60 anos (24,5%). No Distrito Federal, 52,5% da população adulta estava inadimplente em abril, no Rio de Janeiro, 52,2%, e em São Paulo, 45,7%. Na Bahia eram 41,3%, e no Estado de Minas Gerais, 39,6%.

Com mais consumidores sem conseguir pagar as dívidas, a demanda do consumidor por crédito vem diminuindo. O Indicador Serasa Experian de Demanda do Consumidor por Crédito mostra que, após forte alta em janeiro, a busca caiu 17,7% em abril, na comparação com o mês anterior.

Quando se compara com o mesmo período do ano passado, a queda fica mais clara. A demanda por crédito contraiu de 3,5% em janeiro para 13,6% em fevereiro, 12% em março e 24% em abril.

Média de 2022

Em relação à média de 2022, em janeiro houve alta de 3,7% da demanda do consumidor por crédito. Em fevereiro, queda de 14,1%, em março, diminuição de 2,9%. Em abril, essa queda acentuou-se e chegou a 20,1% em relação à média do ano passado. Os mais endividados têm renda mensal pessoal maior que R$ 10 mil.

Para Luiz Rabi, economista da Serasa Experian, a alta de inadimplentes e a demanda menor por crédito são explicadas pelo ciclo de aperto monetário, com duplo efeito para os consumidores.

“O aumento da taxa de juros não foi de graça. Antes dele houve um surto inflacionário, e esse foi o principal causador da inadimplência, que começou a subir em outubro de 2021. Com o custo de vida mais intenso, o consumidor tem mais dificuldade de pagar as contas”, afirma. Ele observa que inadimplência vem desacelerando, mas ainda está alta – passou da taxa de crescimento anual de 10%, há seis meses, para atuais 8%.

O segundo efeito desse ciclo advém da própria alta dos juros, afirma Rabi. “O Banco Central aumentou a taxa de juros, e o impacto imediato disso é encarecer o crédito, desaquecer a economia para que a desinflação ocorra. A demanda por crédito acaba caindo. Pessoas que estavam pensando em financiamento de carro ou imóvel, agora veem que a prestação não cabe mais no bolso”, afirma. “As pessoas não estão deixando de tomar crédito, mas sim demandando em menor ritmo. E o que vemos, então, é um esfriamento no mercado de crédito e um aumento da inadimplência.”

Rabi observa que, apesar da queda de crédito para bens como imóveis e veículos ou empréstimo pessoal, continua crescendo a demanda para o crédito rotativo do cartão e para o cheque especial. “Em geral, são linhas de curto prazo, com juros estratosféricos, com crédito pré-aprovado e inadimplência muito alta. É onde há crescimento neste ano”, afirma. “As outras linhas estão devagar quase parando. E só voltarão a crescer quando os juros caírem.”

Cheque especial

A Nota de Crédito do Banco Central do fim de maio mostra que a concessão de crédito para pessoas físicas na modalidade cheque especial bateu recorde em março, chegando a R$ 40,13 bilhões, maior nível desde o início da série, em março de 2011.

Em abril foram R$ 36,28 bilhões. Apesar da queda de 9,6% ante março, a cifra representa alta de 18% no período de 12 meses e crescimento de 11% no acumulado deste ano.

No crédito rotativo do cartão houve recorde no início do ano. A concessão chegou a R$ 31,95 bilhões em janeiro. O volume vem caindo de forma lenta. Em abril ficou em R$ 29,70 bilhões, queda de 3,5% ante março, mas alta de 35,9% no período de 12 meses. De janeiro a abril, a concessão de crédito rotativo para o cartão cresceu 17,3%.

Voltar

Compartilhe esta notícia:

Deixe seu comentário

No Ar: Show Da Manhã