Quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

Quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

Voltar Hospital de Clínicas de Porto Alegre realiza primeiro transplante duplo de coração e rim do Rio Grande do Sul

“Só penso em curtir minha família”. A frase do técnico de manutenção Jessé Luis Azeredo de Oliveira, 31 anos, resume todo o sentimento de quem via a esperança de vida se esvair, mas foi salvo por um transplante duplo de coração e rim, de um mesmo doador. O procedimento de alta complexidade, inédito no Rio Grande do Sul, foi realizado no Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), no fim de janeiro, e, no dia  18 de fevereiro, ocorreu a alta.

Uma meningite debilitou Jessé em 2014. Posteriormente surgiram problemas renais com necessidade de hemodiálise. Em 2021, o agravamento da sua condição de saúde comprometeu o coração. O que antes podia ser tratado com diálise tornou-se uma condição de urgência. Foi quando ele chegou ao Clínicas e uma ampla equipe multidisciplinar dedicou-se a encontrar caminhos para sua cura. Profissionais de diferentes áreas somaram esforços e estudaram possibilidades. Entre os primeiros passos, o desafio era restabelecer sua nutrição para que pudesse passar pelos transplantes.

O trabalho trouxe resultados. Melhor fisicamente, em janeiro de 2022, um doador compatível foi identificado. A equipe médica, formada por cirurgiões e clínicos, indicou realizar primeiro o transplante cardíaco, avaliar a recuperação por algumas horas e, na sequência, realizar o transplante do rim. O tempo, nestas questões, é crucial.  Um coração não dura mais do que 6h fora do corpo, rins não mais do que 48h, em condições especiais de preservação.

Ciente do ineditismo e dos riscos, mas acalentado pela esperança e confiança nas equipes, Jessé entrou na sala de cirurgia no dia 27 de fevereiro para receber um novo coração. Um sucesso. Cerca de 29h depois, foi a vez do rim. Em menos de 30 minutos, o novo órgão já funcionava e produzia urina, o que comprovou que a cirurgia havia atingido seu objetivo.

Equipes de enfermagem, psicologia, nutrição, fisioterapia e tantos outros continuaram o acompanhamento junto com médicos da cardiologia e da nefrologia. No dia de ir para casa, Jessé contou: “Não imaginava esse tratamento que recebi. Todos aqui foram além de seus papéis profissionais. Foram humanos. Criei vínculos com eles. Não tive receio do que passei. O que digo é que todos precisam falar mais sobre doar órgãos. Isso muda e salva vidas”, conclui.

Para o chefe do Serviço de Transplantes do HCPA, professor Roberto Manfro, os transplantes no Jessé mostraram que a determinação de fazer mais e melhor sempre vale a pena. Tudo iniciado pelo ato de empatia e solidariedade da família do doador. Sem essas pessoas que autorizaram a doação dos órgãos nada teria sido feito e essa história poderia ter sido muito diferente.

A cardiologista da equipe de Insuficiência Cardíaca e Transplante Cardíaco do HCPA, Lívia Goldraich, ressalta que a realização de transplante de coração e rim com órgãos provenientes de um mesmo doador é a melhor alternativa para pacientes que necessitam desta modalidade de transplante duplo, por aumentar a chance de bom funcionamento de ambos os órgãos, mas é tecnicamente bastante complexa. Para que isto fosse possível, foi necessária uma sincronia muito grande entre as equipes envolvidas.

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