Quarta-feira, 13 de novembro de 2024
Por Redação Rádio Caiçara | 24 de novembro de 2023
Um entregador brasileiro e um estudante francês de hotelaria se tornaram heróis na Irlanda, desempenhando papel decisivo quando a pessoa que atacou cinco pessoas com uma faca, ferindo gravemente uma menina de cinco anos, foi presa em Dublin na semana. Em entrevista ao Irish Daily Mirror, o entregador brasileiro, Caio Benício, descreveu como usou o capacete para deter o atacante.
Pai de dois filhos e natural do Rio de Janeiro, ele explicou ao jornal que estava passando pela Praça Parnell quando viu o que parecia ser uma briga. “Eles estavam brigando por uma garota, estavam puxando uma garota”, disse o ex-dono de restaurante.
“Acabei de parar minha motocicleta e o vi esfaqueando-a várias vezes no peito”, acrescentou ele, acrescentando que tirou o capacete e começou a socar o agressor.
“Eu bati na cabeça dele e ele caiu no chão. Depois disso, bati nele algumas vezes e então as pessoas vieram e começaram a chutá-lo”, explicou.
Pálida e sangrando
O brasileiro explicou que a seguir a primeira coisa que fez foi se interessar pela menina e a encontrou muito pálida e sangrando. O entregador disse não ter ouvido muitas notícias sobre o estado da menina, mas que estava orando por ela. “Quando você vê uma menina de cinco anos com um homem armado com uma faca, você simplesmente age”, disse ele.
A menina está “em situação muito grave”, enquanto a professora apresenta ferimentos “graves”, segundo a polícia.
O agressor foi detido no local do ataque, graças sobretudo à intervenção de Caio Benício e à ajuda de outros pedestres que se juntaram a ele, como um adolescente francês que desarmou o agressor.
O jovem, Alan, é um estudante de hotelaria que desde o mês passado estagia num restaurante de Dublin. O presidente francês, Emmanuel Macron, telefonou-lhe “para parabenizá-lo e agradecê-lo por este ato de bravura que salvou vidas e que nos deixa a todos orgulhosos”.
O restaurante onde trabalha também lhe prestou uma bela homenagem no Instagram. “Ele foi um dos bravos heróis que conseguiu desarmar o agressor da escola ontem em Dublin, a caminho do trabalho”, escreveu ele ao lado da foto de Alan.
“Ele percebeu que algo estava acontecendo (…) e correu contra o agressor para detê-lo e conseguiu arrancar-lhe a faca”, detalhou o estabelecimento.
Alan sofreu ferimentos nas mãos e no rosto. “Sem este ato de bravura, quem sabe o que poderia ter acontecido?”, questiona o restaurante, acrescentando, com um toque de humor: “nem todos os super-heróis usam capa”.
Após o ataque, espalharam-se rumores de que o agressor era estrangeiro e cerca de 500 manifestantes participaram em confrontos violentos em Dublin na noite de quinta-feira.
Os protestos “envergonharam a Irlanda”, disse nesta sexta-feira o primeiro-ministro Leo Varadkar, condenando os incidentes, atribuídos pelo governo à extrema direita.
Nos últimos anos, cresceu na Irlanda um discurso contra a imigração por parte de certas figuras da extrema direita, alimentado pela crise imobiliária no país.
Elogio a Caio Benício
O vice-primeiro-ministro Micheal Martin reagiu contra estas posições em conferência de imprensa e destacou a intervenção de Caio Benício. “Acho importante conhecermos todos os fatos. Em primeira instância, quem interveio foi um trabalhador brasileiro”, disse.
“Ataques como o de ontem não estão diretamente relacionados com a questão da imigração em si. O crime não pertence a nenhuma raça ou cor”, acrescentou.
Benicio, que se mudou para a Irlanda para sustentar a família após o incêndio em seu restaurante, disse que os tumultos que eclodiram após o ataque “não fazem sentido”.
“Eles estão protestando contra os imigrantes. Eu também sou um imigrante”, disse ele.
“Acho que foi apenas uma desculpa. Acho que foi um pequeno grupo de pessoas e eles simplesmente conseguiram uma desculpa para fazer o que fizeram.”
Cerveja ao brasileiro
Irlandeses criaram uma vaquinha virtual para pagar um pint (tradicional copo de cerveja comum em países Europeus e nos Estados Unidos) para o brasileiro. A campanha de arrecadação já juntou mais 23.711 euros até o momento (cerca de R$ 127 mil).
A vaquinha foi descrita como uma forma da população de Dublin dizer que gosta do brasileiro. “Este homem é um herói e o mínimo que podemos fazer é comprar uma cerveja para ele, então peço que você doe o preço de uma Guinness para Caio, para que ele saiba que o povo de Dublin o aprecia”, diz o texto da campanha.
Os organizadores contaram que já conseguiram estabelecer contato com o brasileiro. Caio será adicionado como beneficiário da vaquinha e “todo o dinheiro seja repassado diretamente para ele”.
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