Sexta-feira, 10 de outubro de 2025
Por Redação Rádio Caiçara | 9 de outubro de 2025
Depois de um alívio temporário, o governo do presidente da Argentina, Javier Milei, enfrenta novamente um clima de tensão nos mercados. O país está queimando reservas para deter a desvalorização do peso frente ao dólar.
Enquanto as negociações do ministro da Economia, Luis “Toto” Caputo, em Washington, não rendem resultados concretos, a pressão sobre o câmbio continua aumentando na Argentina, obrigando o governo a intervir no mercado para conter a cotação do dólar — que, no mercado paralelo e financeiro, voltou a superar a barreira dos 1.500 pesos nesta semana.
A taxa de risco do país, que sofrera queda de 30% após o anúncio feito pelo secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, há duas semanas, de que os EUA fariam o que fosse necessário para ajudar a Argentina, voltou a superar os mil pontos básicos.
O secretário afirmou na ocasião que os EUA estavam discutindo uma linha de swap de US$ 20 bilhões com a Argentina e estariam prontos para comprar títulos em dólares do país. Milei se encontrou com Trump em Nova York, mas até agora, nada de concreto aconteceu.
O Tesouro argentino interveio hoje no mercado de câmbio pela sétima sessão consecutiva, vendendo pelo menos US$ 320 milhões, apurou a agência Bloomberg, injetando dólares no mercado na tentativa de valorizar o peso.
O BCRA, banco central argentino, que queimou US$ 1,1 bilhão em reservas no mês passado para sustentar a moeda, passou a contar recentemente com recursos do Tesouro para manter a estabilidade da moeda.
Embora o banco central também possa intervir nos mercados, só pode fazê-lo se o peso ultrapassar uma banda de negociação estabelecida como parte do acordo da Argentina com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Nos últimos dias, o Tesouro Nacional injetou cerca de US$ 1,6 bilhão no mercado cambial em seis pregões, o que representa em torno de 75% dos US$ 2,2 bilhões que o governo argentino conseguiu zerando a alíquota da taxa de exportações de grãos (as chamadas retenções), como estratégia para acumular divisas internacionais.
Mesmo assim, no mercado financeiro, investidores argentinos estão aumentando as apostas de que o presidente Javier Milei vai desvalorizar o peso após as eleições de meio de mandato neste mês, à medida que o governo esgota suas reservas para sustentar a moeda em dificuldades.
As taxas de juros de curto prazo dispararam para níveis recordes, em sinal de liquidez mais apertada. Os rendimentos dos títulos públicos locais com vencimento em 31 de outubro saltaram para 97% na quarta-feira, ante 76% no dia anterior, enquanto os com vencimento em 28 de novembro chegaram a quase 87%, acima dos 74%.
Num clima de falta de confiança em Milei e em seu governo, a sensação em Buenos Aires é de que somente o anúncio de um socorro financeiro dos EUA poderia conter a pressão no mercado cambial, faltando menos de três semanas para as eleições legislativas nacionais de 26 de outubro — teste crucial para o presidente argentino.
Enquanto a cotação do dólar no atacado não ameaça chegar ao teto da banda estabelecida no acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), de 1.470 pesos, as intervenções são feitas pelo Tesouro Nacional, que acumula as divisas provenientes das exportações do agro.
A preocupação do mercado está relacionada à escassez de reservas do país — violando um dos compromissos assumidos no entendimento com o FMI, que é a acumulação de reservas —, e também às necessidades de financiamento em 2026, que atingem US$ 28,8 bilhões. Em 2027, último ano de mandato de Milei, o montante alcança US$ 36,2 bilhões.