Quinta-feira, 06 de fevereiro de 2025

Quinta-feira, 06 de fevereiro de 2025

Voltar Governo adia debate sobre meta de inflação, as o PT mantém críticas

Um dia depois de o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, fazer um aceno público ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o governo deu sinais de que haverá uma trégua no embate a respeito da meta de inflação. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o tema não está na pauta da reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), marcada para quinta-feira.

O órgão é composto por Haddad, Campos Neto e por Simone Tebet (Planejamento). Na avaliação do Planalto, é necessário elevar a meta, fixada para este ano em 3,25%, a fim de abrir caminho para a queda dos juros e para a retomada do crescimento. Mas Campos Neto avalia que a iniciativa teria efeito contrário ao desejado e que isso resultaria em perda de flexibilidade.

“Tem uma reunião do CMN. Existe uma coisa chamada pré-Comoc e Comoc (reuniões prévias do CMN) que definem a pauta do CMN. (Esse debate) não está na pauta”, afirmou Haddad.

A bandeira branca levantada por Campos Neto, porém, não significa que o tema tenha saído de cena. A avaliação entre integrantes da equipe econômica é que eventual mudança na meta agora causaria mais ruído, sem trazer efeitos práticos, diante das sinalizações feitas pelo presidente do BC.

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Técnicos do governo, no entanto, não descartam mexer na meta na reunião do CMN de junho, quando normalmente esse assunto é discutido.

Para auxiliares de Haddad, Campos Neto fez gestos de paz para o governo, especialmente ao reconhecer o esforço para melhorar o cenário fiscal — e não só na entrevista ao programa Roda Viva, como em declarações ao mercado.

“Da parte do Ministério da Fazenda, obtivemos o reconhecimento, na entrevista, de que as medidas que estão sendo tomadas estão na direção correta. Isso é muito importante para nós, obtermos esse reconhecimento”, afirmou Haddad, que reiterou o impacto dos juros na economia:

“Como os resultados (das medidas fiscais do governo) virão, tenho certeza de que isso vai ajudar a autoridade monetária a concluir que nós estamos, talvez, com uma taxa de juros, nesse momento, que compromete os objetivos (de crescimento) do País.”

Haddad acrescentou ainda que é natural uma cobrança sobre o patamar atual dos juros, de 13,75% ao ano.

“É natural que as pessoas reclamem dos juros. Estamos em uma situação de inflação mais confortável e juros mais desconfortáveis”, afirmou.

Campos Neto — que na véspera falou em disposição para se reunir com Lula para discutir política monetária, fez elogios a medidas fiscais propostas por Haddad e citou a reforma tributária como elemento importante — reiterou ontem o tom pacificador e disse a investidores que é preciso ter um pouco mais de boa vontade com o governo. Embora tenha reafirmado ser contra mudanças na meta de inflação.

“O investidor é muito apressado. A gente tem que ter um pouco mais de boa vontade com o governo. O investidor é apressado, 45 dias é pouco tempo. Temos tido boa vontade do ministro Haddad de seguir um plano fiscal com disciplina. Tem um arcabouço que está sendo trabalhado, já foram elaborados alguns objetivos”, afirmou durante evento realizado por um banco de investimentos em São Paulo.

Campos Neto também disse que a mudança da política ambiental do Brasil e o fim dos questionamentos a instituições com a mudança de governo são bem-vistos pelos investidores. Voltou a defender o sistema de metas de inflação, que segundo ele, funciona bem no Brasil e no mundo:

“A hora é de ver como a gente faz para melhorar a credibilidade, porque a boa vontade está lá. Tem dinheiro para entrar no País, tem gente querendo fazer investimentos, tem muitos projetos.”

Apesar dos gestos de paz de lado a lado, a insatisfação com o patamar de juros continua. Se até semana passada esse papel coube ao presidente Lula, que chegou a se referir à ata do Comitê de Política Monetária como “vergonha”, e ao presidente do BC como “este cidadão”, a insatisfação agora está sendo vocalizada por parlamentares do PT e aliados.

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