Segunda-feira, 09 de dezembro de 2024

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Voltar Evolução das cirurgias do joelho evitam fim de carreira de atletas profissionais e amadores

A essência do futebol se constituiu de craques com ginga, dribles, arrancadas e mudanças de direção, com desacelerações repentinas e descobertas de espaços. Graças à intuição e à criatividade, mas também a mais delicada e detalhista articulação do corpo. A história do futebol brasileiro, por seu conjunto de lances mirabolantes, sempre esteve ligada aos joelhos de seus jogadores.

São inúmeros os talentos que tiveram carreiras abreviadas por causa de rupturas de ligamentos, meniscos e problemas nas cartilagens. Reinaldo (Atlético-MG, anos 70), Zico (Flamengo, anos 90) e Garrincha. Nos tempos atuais, porém, com inúmeras técnicas nas intervenções e tratamentos, jogadores com problemas similares costumam ter carreira mais prolongada. A revolução nestas cirurgias também beneficia os atletas amadores, como corredores de fim de semana e aqueles que gostam de jogar seu futebol no fim de semana.

Segundo estudo da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), 72,2% das lesões são nos membros inferiores, com o joelho ocupando a terceira colocação (11,8%) depois do tornozelo (17,6%) e da coxa (34,5%). “Evidente que nos anos 70 não seria possível obter o resultado que encontramos hoje, por causa da falta de conhecimento, de capacidade de avaliação e técnica operatória inadequada, situações compatíveis com o tempo que se vivia na época”, diz o ortopedista José Luiz Runco, médico da Seleção nas Copas de 1998 e 2002, entre outras.

Revolução

A principal técnica que revolucionou as intervenções cirúrgicas no joelho é a artroscopia, que permite ao médico, por meio de um monitor, diagnosticar e realizar a intervenção sem invadir a articulação. E a partir dos anos 90, com o desenvolvimento de equipamentos cirúrgicos, como instrumentos precisos de corte, o método, que passou a se chamar videoartroscopia, se tornou a principal solução para as lesões graves. No procedimento, é feita pequena incisão na pele do paciente, para que seja inserido um artroscópio. Por meio de um monitor de TV inserido ao sistema, é possível ver a imagem da estrutura e realizar a operação.

Até os anos 80, as técnicas para as intervenções não estavam tão evoluídas. A partir do diagnóstico, o joelho era aberto para a cirurgia, muito mais invasiva. Infiltrações também eram comuns e costumavam postergar e agravar o problema. Em várias ocasiões, os meniscos de um jogador eram retirados. Atualmente, isso ocorre apenas como último recurso.

Nos anos 60 e 70, os craques Garrincha (Botafogo) e Reinaldo (Atlético-MG) foram os exemplos mais emblemáticos de jogadores que tiveram a carreira encurtada por causa da retirada dos meniscos. Conhecido como “Anjo das pernas tortas”, Garrincha tinha, possivelmente desde o nascimento, os joelhos desalinhados.

Tais condições, por alguns anos, até ajudaram o jogador a desafiar a lógica e, com movimentos surpreendentes, se tornar uma lenda. O tempo e as pancadas, no entanto, foram tirando a magia dos joelhos do craque, que, após ter retirado os meniscos, em 1964, nunca mais foi o mesmo.

Ronaldo Fenômeno

Há todo um método, hoje em dia, para a retirada dos ligamentos lesionados, substituindo-os por enxertos. A técnica tem avançado para encontrar soluções que deem maior estabilidade ao joelho. Mas as intervenções já têm obtido bons resultados, com enxertos como os tendões flexores do joelho e o terço médio do tendão patelar, entre outros.

Técnicas para recuperação de cartilagens e do tendão patelar evoluíram. As cartilagens revestem as extremidades dos ossos e não permitem que haja choque entre estes durante o movimento. Já o tendão patelar é o ponto de ligação entre a patela e a tíbia e um dos responsáveis pela extensão do joelho.

Foi no tendão patelar do joelho direito que o craque Ronaldo sofreu sua mais séria contusão. Após uma intervenção com raspagem em 1996, Ronaldo, em 1999, sofreu grave contusão atuando pela Inter de Milão, que o obrigou a realizar mais duas intervenções, entre 1999 e 2000. As partes rompidas do tendão foram reconstituídas nos procedimentos.

O jogador, então, passou por um processo de recuperação que permitiu a ele jogar a Copa do Mundo de 2002, conquistar o título e ainda ser artilheiro e o maior nome da competição.

Atualmente, para a correção da região do tendão patelar, em geral, é realizada sutura no local, por meio de fios de alta resistência, com a opção de enxertos de outro tendão e com fitas sintéticas, que aceleram a recuperação e a cicatrização.

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