Quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

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Voltar Espião russo treinou anos para se passar por brasileiro

Victor Muller Ferreira foi aceito na Universidade Johns Hopkins, em Washington, em 2018. Mas Ferreira não era um estudante brasileiro e sim um operador de inteligência russo nascido em Kaliningrado, segundo investigações e um indiciamento do Departamento de Justiça apresentado a uma corte federal na sexta-feira.

Seu nome verdadeiro é Serguei Cherkasov, e ele passou quase uma década construindo o personagem de Ferreira, segundo autoridades e registros judiciais. Sua “equipe” era um círculo restrito de operadores russos acionados para manter um espião disfarçado infiltrado na capital americana, posicionado para forjar conexões em qualquer setor do establishment de segurança dos EUA, do Departamento de Estado à CIA.

Usando o acesso que obteve em Washington, Cherkasov produziu relatórios para seus chefes no serviço de inteligência militar da Rússia, o GRU, a respeito das maneiras com que autoridades do governo Joe Biden responderam à concentração de tropas russas antes da guerra na Ucrânia, segundo o FBI.

Depois que se formou, Cherkasov chegou perto de alcançar uma inserção mais influente, ao ser convidado para um estágio no Tribunal Penal Internacional, em Haia, quando a instituição iniciava sua investigação sobre crimes de guerra da Rússia na Ucrânia. Mas acabou rejeitado pelas autoridades holandesas, que agiram com base em informações transmitidas pelo FBI. As autoridades holandesas o colocaram em um avião para o Brasil, onde ele foi preso e agora cumpre 15 anos de cadeia por fraudar documentos relacionados à sua identidade falsa.

Sua prisão, em abril de 2022, ocorreu no início de uma operação de desmantelamento de redes de inteligência russas por toda a Europa.

Traficante

A Rússia nega que Cherkasov seja espião e pediu sua extradição do Brasil, alegando que, na verdade, ele é um traficante de heroína que fugiu da Rússia para evitar ser preso.

A criação do personagem Victor Ferreira começou sobre camadas de documentos fraudulentos. Uma segunda via de uma certidão de nascimento com o nome de Ferreira foi emitida em 2009, um ano antes de Cherkasov entrar no Brasil. Em seguida, apareceu uma carteira de motorista com o nome de Ferreira, mas a foto de outra pessoa.

O GRU parece ter explorado vulnerabilidades nos sistemas brasileiros de imigração e registros cartoriais se valendo de ajuda interna. Um tabelião cuja assinatura aparece em muitas das requisições fraudulentas de Cherkasov é alvo uma investigação no Brasil.

Dossiê

Em março de 2022, poucas semanas após a invasão russa, em 24 de fevereiro, Cherkasov tinha “sido aprovado nas checagens de segurança do TPI e aceitado a posição de analista júnior”, de acordo com o depoimento. As autoridades holandesas, que haviam recebido um dossiê do FBI, interceptaram Cherkasov no aeroporto.

Deportado para o Brasil, ele negou ser operador de inteligência da Rússia. Oito meses depois, Cherkasov continua na prisão, em meio a sinais incertos sobre seu destino. Seu caso foi fonte de constrangimento entre autoridades do Brasil em razão da suscetibilidade do sistema do País a fraudes e da frequência com que isso tem sido usado pelos serviços de inteligência russos como plataforma de lançamento de ilegais.

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