Terça-feira, 15 de outubro de 2024
Por Redação Rádio Caiçara | 22 de junho de 2023
A CPI de 8 de Janeiro ouviu nessa quinta-feira (22) o depoimento de George Washington Oliveira, gerente de posto de gasolina condenado por armar uma bomba que foi encontrada em um caminhão nas imediações do aeroporto de Brasília. Durante a sessão, Oliveira recorreu ao direito de permanecer em silêncio e evitou responder a maior parte das perguntas feitas na comissão.
Depois de uma hora de oitiva, Washington resolveu falar. Disse se considerar um “patriota”, que “armas não matam” e repetiu a tese bolsonarista de que havia infiltrados entre os grupos que questionavam o resultado das eleições. Ele, no entanto, evitou citar nomes dos supostos infiltrados e dar maiores detalhes sobre isso.
“Naquele acampamento existia informações e contrainformações. O que tinha muito ali dentro se chamava infiltrados, muito, muito, muito mesmo, não era poucos. Uns apareciam, quando eram descobertos. Tinha ônibus de infiltrados. Isso o Exército detectou.”
O preso ainda confirmou que foi “muitas vezes” ao acampamento golpista montado em frente ao QG do Exército em Brasília.
Ele ainda fez questão de citar o seu currículo de especialista em “postos de combustível e petróleo” para dizer que “seria uma insanidade” colocar uma bomba em um caminhão tanque.
“Há 37 anos, trabalho praticamente no mesmo ramo (de combustível e petróleo). Eu não seria louco de colocar um artefato explosivo em cima de um caminhão. Jamais na minha vida.”
Os parlamentares, então, lhe questionaram por que ele participou da instalação do explosivo, como foi revelado nas investigações. Neste momento, ele ficou em silêncio.
Em maio, o juiz Osvaldo Tovani, da 8ª Vara Criminal de Brasília, condenou Oliveira a uma pena de nove anos e quatro meses. A base do governo quer usar a sessão de hoje para emparedar mais uma vez o ex-presidente Jair Bolsonaro. Oliveira chegou a dizer, em um texto encontrado em seu celular, que o ex-presidente o inspira. Parlamentares do PT também querem mais informações sobre os financiadores de atos golpistas contra a eleição e avaliam que o preso tem ligação com empresários rurais.
O presidente da CPI, deputado Arthur Maia (União-BA), entendeu que Oliveira presta depoimento na condição de investigado e que, por isso, pode evitar responder perguntas que o incriminam. A relatora da CPI, senadora Eliziane Gama (PSD-AM), questionou se ele veio para Brasília acompanhado de alguém, se foi parado nas rodovias no trajeto até a capital federal e mais uma série de perguntas sobre o planejamento que levou ao plano com o artefato explosivo. Oliveira respondeu a maior parte das perguntas com “permanecerei calado”.
Ele também não respondeu se tentou enviar uma carta ao ex-presidente Jair Bolsonaro, não disse quem o convidou a ir para Brasília, evitou dizer se recebeu treinamento de alguém e não comentou quando a relatora perguntou se conversou com alguém sobre planejamento de ato de violência contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Ele respondeu apenas poucos questionamentos, como quando confirmou ter uma empresa com o nome “GW de O Sousa”, e ao dizer que estava em uma churrascaria no dia dos ataques na área central de Brasília no 12 de dezembro. Oliveira falou também que votou em Lula antes da eleição de 2022. Apesar de participar de grupos de apoio a Bolsonaro, ele evitou dizer em quem votou na eleição do ano passado.
Diante do silêncio do preso, o deputado Rubens Junior (PT-MA) declarou que a CPI irá pedir a quebra do sigilo fiscal e telemático das empresas de George Washington e de seus familiares para descobrir quem financiou a vinda dele a Brasília.
O deputado Rafael Britto (MDB-AL) chegou a apontar a inconsistência no fato de que Oliveira ter declarado receber R$ 5 mil e ter um veículo no valor de R$ 300 mil e que gastou R$160 mil com armamentos.
“Essa é uma pergunta muito grande, mas já vi aqui que outros colegas também já assinaram pedido de quebra de sigilo, quebra de sigilo fiscal. Acho importante que a gente veja isso e trate sobre esse assunto aqui na CPMI, porque não tem como um trabalhador no Brasil ganhar R$5 mil, que, aliás, para a grande maioria do povo brasileiro, infelizmente, já é um grande salário, mas a gente sabe que na prática não é, e ter como gastar quase R$0,5 milhão em armamentos e um carro de luxo.”
Quando o deputado Marco Feliciano (PL-RJ) disse que ele ia ficar marcado para sempre por conta da tentativa de atentado, Oliveira se emocionou e seus olhos chegaram a lacrimejar.
Durante o depoimento, a senadora Soraya Thronicke (União-MS) lembrou que o filho dela estava no aeroporto de Brasília no dia em que houve a tentativa de explosão do artefato. O ataque foi descoberto pela polícia em 24 de dezembro de 2022. Oliveira, porém, repetiu que não tinha “nada a declarar”.
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