Quinta-feira, 12 de dezembro de 2024
Por Redação Rádio Caiçara | 9 de outubro de 2023
Uma ex-diretora de escola de 55 anos, tinha bons motivos para estar preocupada: quando se consultou com uma neurologista, já vinha enfrentando uma perda de memória progressiva e problemas comportamentais havia um ano, e agora tinha de lidar com um possível diagnóstico de demência frontotemporal.
De acordo com o relato da neurologista Gayatri Devi na publicação científica Obstetrics & Gynecology, a memória da doente, antes, considerada um prodígio, estava severamente prejudicada. A mulher se mostrava cada vez mais irritada; tinha dificuldade de organizar as tarefas, encontrar seus pertences, estabelecer objetivos, fazer e realizar planos. Apesar disso, os resultados dos exames médicos e neurológicos e das tomografias não acusaram nada de anormal.
Ao perceber que a paciente tinha entrado na menopausa um ano antes, Devi associou os sintomas ao declínio do estímulo de estrogênio no cérebro, que acomete todas as mulheres na menopausa, porém com efeitos diversos, já que algumas são mais sensíveis à queda que outras.
Assumindo um provável diagnóstico de déficit cognitivo relacionado à menopausa, a médica receitou uma terapia de reposição hormonal – e em um ano e três meses os sintomas comportamentais desapareceram, com a capacidade de aprendizado e a memória voltando ao normal. A paciente foi capaz de concluir uma pós-graduação exigente e assumir um cargo de liderança na área da educação.
Sintoma ligado à menopausa
É inegável que o caso dessa mulher foi extremo, mas, segundo a especialista, 60% das mulheres apresentam déficit cognitivo relacionado à menopausa; e quando a situação é séria a ponto de chamar a atenção dos médicos, ele quase sempre acaba sendo diagnosticado, erroneamente, como uma fase precursora da demência.
Os sintomas cognitivos ligados à menopausa são muito parecidos com o “nevoeiro quimioterápico”, reclamação comum entre mulheres que receberam tratamento para câncer de mama e alguns homens submetidos à terapia de câncer de próstata, pois a terapêutica de ambas as doenças normalmente resulta em uma queda abrupta dos níveis de estrogênio.
“Quem sofre do nevoeiro cerebral depois de receber tratamento contra o câncer tem problemas de memória de curto prazo, não consegue lidar com várias tarefas ao mesmo tempo nem encontrar palavras e elaborar argumentos convincentes. O déficit cognitivo relacionado à menopausa acomete mulheres entre 40 e 50 anos, ou seja, quando estão na flor da idade e, de repente, se veem sem chão”, Devi, neurologista do Hospital Lenox Hill de Nova York, nos EUA.
Ela aponta que, apesar de ser algo comum, o diagnóstico tem grandes chances de ser feito incorretamente. “Essas mulheres têm medo de estar desenvolvendo alguma forma de demência, mas o fato é que, se elas se consultarem com um especialista em distúrbios da memória, é bem provável que recebam o diagnóstico incorreto mesmo”, afirma.
Devi decidiu publicar seu estudo em uma publicação de obstetrícia porque muitas mulheres de meia-idade optam pelo ginecologista como atendimento primário. “Queria que eles soubessem da existência desse mal, que normalmente pode ser resolvido com um tratamento de estrogênio de curto prazo que recupera o funcionamento normal do cérebro”, esclarece.
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