Quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

Quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

Voltar Entenda a queda de quase 12% do euro em 2022 que levou à paridade com o dólar

Nos últimos meses o euro sofreu uma depreciação consistente em relação ao dólar, e já acumula recuo superior a 11,9% desde janeiro deste ano. Nas sessões recentes, a moeda da zona do euro flertou com o nível de paridade em relação à moeda americana, algo que não ocorria desde a criação da divisa, em 2002.

O movimento é resultado de uma série de fatores que reforçaram a dinâmica de valorização do dólar e depreciação do euro.

Conforme apontou Nicole Kretzmann, economista-chefe da Upon Global Capital, a paridade entre as moedas é resultado de uma “tempestade perfeita”. A economista aponta como fatores do movimento que levou à paridade a diferença da postura entre os bancos centrais (Federal Reserve e Banco Central Europeu) em relação ao aperto monetário, o choque de oferta de energia, a guerra na Ucrânia e a tradicional posição de refúgio do dólar ante instabilidades.

No caso da Europa, “o ponto mais importante de todos é o possível racionamento de energia, principalmente na Alemanha e na Itália”. Como recorda Kretzmann, esses países são mais dependentes do gás natural russo para a indústria e aquecimento. Desde o início da guerra na Ucrânia e dos boicotes ao petróleo da Rússia, os preços de energia vem subindo em todo mundo, mas afetando mais drasticamente a zona do euro devido à maior dependência dos países em relação às commodities russas.

Há uma semana, o canal Nord Stream 1, que transporta gás natural da Rússia para a Europa, foi fechado para manutenção. A reabertura está marcada para 21 de julho, mas não se sabe se a Rússia retomará o fornecimento em meio à tensão com o Ocidente. “O corte da oferta de gás os obrigaria a racionar energia e diminuir atividade –depreciando o euro por meio de um pior diferencial de crescimento”, diz Kretzmann. Ela pondera, ainda, que as perspectivas da economia na região já estavam deterioradas desde a eclosão da guerra na Ucrânia.

Balança comercial penalizada

Com a energia mais cara no mundo todo e a compra limitada da Rússia, a importação de petróleo e gás natural encareceu e pesou sobre a balança comercial dos países da zona do euro. Jack Allen-Reynolds, economista sênior da Capital Economics, ressalta que esse choque nos termos de troca também atingiu a moeda.

“O aumento nos preços de importação de energia piorou a posição da conta corrente da zona do euro, de modo que uma moeda mais fraca é necessária para compensar parte disso, dando um impulso às exportações”, diz em nota.

Dados divulgados na semana passada mostraram que em maio, a Alemanha registrou um déficit no comércio exterior de 1 bilhão de euros. Esse foi um marco para a economia alemã, que registrou superávits comerciais por décadas. A última vez que o país registrou um déficit comercial mensal foi em 1991.

Dólar fortalecido

Se não bastassem os fatores do lado do euro para uma depreciação, na ponta do dólar também não faltam motivos para uma valorização. “Ainda que haja receio de uma recessão em um futuro próximo, os dados [econômicos] estão bem mais fortes, o mercado de trabalho segue firme e ainda há muito espaço para o Federal Reserve (Fed) subir juros”, diz Kretzmann, da Upon. A economista lembra ainda que, em tempos de incerteza e aversão a risco, o dólar funciona como a grande reserva de valor do mundo. “Ainda que a economia americana enfraqueça, os agentes econômicos fazem o “flight to safety” (fuga para o ativo de qualidade) – o que reforça a valorização da moeda em relação aos pares.”

Vai cair mais?

Conforme apontou Jane Foley, estrategista sênior de moedas do Rabobank, uma nova queda do euro provavelmente dependerá de a Rússia querer ou não agravar a guerra econômica com a Europa. “Não é fácil adivinhar as ações do presidente [Vladimir] Putin. Se o gasoduto Nord Stream 1 for religado, a tempo da próxima semana após sua manutenção programada, [a queda do] euro provavelmente receberá um adiamento”, afirma, em nota.

A estrategista aponta, no entanto, que mesmo que o euro seja impulsionado, é esperado que a força do dólar americano domine o próximo ano, sugerindo que a alta do euro ante o dólar pode ser limitada, mesmo com boas notícias sobre o Nord Stream. “Por enquanto, mantemos nossa previsão de um mês para o euro cotado a US$ 1,03. A evidência de que o fornecimento de gás russo para a Europa será interrompido, ainda mais no inverno, nos levaria a rebaixar ainda mais nossas previsões para o euro.”

Voltar

Compartilhe esta notícia:

Deixe seu comentário

No Ar: Show Da Madrugada