Sexta-feira, 21 de março de 2025

Sexta-feira, 21 de março de 2025

Voltar Empresas brasileiras endividadas captam R$ 16 bilhões para melhorar balanço

Ofertas de ações de empresas endividadas, que buscaram no mercado de capitais recursos para ajustar o balanço, foram tônica em 2023. Das 21 operações precificadas ao longo do ano passado na Bolsa de Valores, 12 delas, ou seja, 57% do total, utilizaram parte ou a totalidade dos recursos para desalavancagem, segundo dados da Dealogic cruzados com informações que constam nos documentos das operações.

A mesma dinâmica se observa no volume financeiro. Transações com esse perfil somaram cerca de R$ 16,6 bilhões, de um total de ofertas subsequentes (“follow-ons”) de R$ 30 bilhões realizadas em 2023.

Há casos de operações que avançaram com apoio dos principais sócios na garantia dos recursos, o ajudou a melhorar a percepção de confiança nesses ativos. Foram os casos das ofertas da BRF e da CVC. Em outras ofertas, no entanto, a incerteza sobre os resultados dos negócios e sobre a estrutura de capital das companhias ainda pesam negativamente nas ações. A oferta da Casas Bahia, apesar do fôlego extra que trouxe à varejista, teve essa conotação, gerando um movimento financeiro inicialmente abaixo do esperado, segundo gestores.

Na visão de executivos e gestoras, nesse cenário de investidores ainda cautelosos, cada oferta é muito particular, seja pelas condições das empresas emissoras (como setor de atuação, plano de crescimento após a emissão), seja pela própria estrutura da operação (incluindo ancoragem e hipótese de emissão de bônus de subscrição, por exemplo).

“Há muitos fatores a se ponderar em cada operação porque cada caso é um caso, mas está claro que, em geral, há uma correlação entre alta dos juros, queda de liquidez no mercado e dívida mais cara”, afirma Fabio Bortolotti, diretor vice-presidente de finanças da Infracommerce, companhia da área de serviços ao comércio eletrônico. A empresa lançou em dezembro uma oferta que atingiu R$ 400 milhões.

“O ideal, em ambientes como esses, é trazer segurança ao mercado de que o ‘deal’ [operação] vai ocorrer e de que os recursos serão suficientes para o objetivo. Porque se você faz e não levanta o capital de que precisa, a percepção que fica é que pode ter nova oferta, o que cria um ambiente ruim”, afirma o executivo.

A maior oferta do ano teve como motivação redução de endividamento. O “follow-on” da companhia de alimentos BRF girou R$ 5,4 bilhões e garantiu a entrada do fundo árabe Salic ao seu capital e o aumento da posição da Marfrig, de Marcos Molina, gerando um cenário mais positivo. Esperava-se inicialmente que a captação fosse de R$ 4,5 bilhões, mas houve demanda 20% acima do previsto. A operação foi finalizada em julho, e o balanço do terceiro trimestre já mostrou um endividamento líquido de R$ 10,3 bilhões, com redução de R$ 4,9 bilhões em relação ao fechamento do trimestre anterior.

Com isso, a alavancagem da BRF, medida pela razão entre dívida líquida e Ebitda ajustado dos 12 meses anteriores, atingiu 2,66 vezes de julho a setembro versus 3,75 de abril a junho. O Ebitda mede lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação.

“A maioria das ofertas foi para pagamento de dívida e não crescimento. Neste ano, isso pode começar a mudar, com mais empresas buscando recursos para crescer”, afirma o presidente do banco de investimento do UBS BB, Daniel Bassan.

Segundo fontes de mercado, as primeiras operações deste ano devem seguir o mesmo conceito de buscar equilíbrio na estrutura de capital. É o caso do GPA, que ainda precisa aprovar uma mudança em seu estatuto, em assembleia geral extraordinária marcada para o dia 11, para abrir espaço em seu capital social para uma oferta de ações.

É estimado pelo grupo que a transação alcance cerca de R$ 1 bilhão – o que implicará uma diluição aos acionistas de 50%, se a operação de fato alcançar esse valor. A oferta, segundo fontes a par do tema, está prevista para ocorrer em janeiro. Ao fim de setembro, a relação entre dívida e Ebitda ajustado (após arrendamento) na varejista estava em 5,9 vezes. O índice considerado saudável para o setor está abaixo de 2,5 vezes.

A oferta da Infracommerce, que encerrou a temporada de emissões de 2023, também teve essa característica de diluição de parcela dos atuais sócios. A ação saiu a R$ 1,60 (com captação de R$ 400 milhões), 90% menor que a cotação na abertura de capital, em 2021. O preço ficou dentro do limite que acionistas os Compass Group e Pátria definiram para poder participar da operação.

Para Bortolotti, diretor da empresa, a ideia era não estender essa operação para 2024 – os recursos foram usados para balancear a estrutura de capital e pagar aquisições já concluídas. “Queríamos concluir isso em 2023 para conseguirmos focar 100% na operação no ano que vem.”

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