Domingo, 19 de janeiro de 2025

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Voltar Empresa brasileira que lidera o ranking mundial de produção de celulose de eucalipto cobra do governo federal o cumprimento de um acordo com o Incra para o assentamento de famílias no sul da Bahia.

A Suzano, empresa brasileira que lidera o ranking mundial de produção de celulose de eucalipto, cobra do governo federal o cumprimento de um acordo com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) firmado em 2015 para o assentamento de famílias no sul da Bahia.

O acerto previa a desapropriação de 4 mil hectares da Suzano para assentamento dos sem terra. A empresa se comprometeu com o dinheiro da desapropriação a adquirir outros 2,8 mil hectares que seriam cedidos aos movimentos sociais para novos assentamentos.

De acordo com o presidente da Suzano, Walter Schalka, os 4 mil hectares foram entregues, as famílias foram assentadas, mas o Incra nunca fez a desapropriação combinada. No último dia 27, o Movimento dos Sem Terra (MST) invadiu três fazendas produtivas da empresa na região. A Justiça deu liminar em ações de reintegração de posse despejando os invasores.

Em reunião com o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, Incra e MST, a Suzano cobrou do governo federal o cumprimento do acordo. “Nossa posição foi clara: implementem as condições acertadas em 2015 que nós estamos prontos para prosseguir. É uma negociação que começou lá atrás e estamos dispostos a continuar”, disse Schalka. A condição seria o pagamento pelo Incra pelos 4 mil hectares entregues ao MST. O valor atual das terras beira os R$ 50 milhões.

O MST disse em nota que a luta do movimento fez a Suzano reafirmar o acordo que a empresa tinha deixado para trás. O movimento negou que tenham ocorrido estragos nas áreas ocupadas.
Questionado sobre o acordo não cumprido em 2015, usado como justificativa pelo MST para invadir terras produtivas da Suzano, o Incra disse que as negociações entre movimentos sociais, Suzano, Incra e governo foram interrompidas em 2016, com as mudanças de gestão na autarquia.

Alerta

A tomada das áreas com reflorestamento de eucalipto, usados na produção de celulose e fabricação de papel, surpreendeu a Suzano e gerou forte reação de entidades do agronegócio. As invasões, logo no início do novo governo, acenderam o alerta no setor do agronegócio em relação à segurança jurídica para a produção do campo durante o terceiro mandato de Lula. Elas aconteceram no momento em que o País colhe mais uma supersafra de grãos, ultrapassando pela primeira vez a barreira de 300 milhões de toneladas.

As ações foram repudiadas por entidades como Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária (CNA), a Sociedade Rural Brasileira (SRB), a Indústria Brasileira de Árvores (Ibá) e federações da agricultura. O temor é de que a prática de invadir para depois negociar se torne recorrente. Não houve por parte dos governos estadual ou federal uma ação rápida para retirar os invasores. A desocupação só aconteceu depois de a Justiça determinar a retirada dos invasores, recomendando, se necessário, o emprego do aparato policial do Estado.

Disputa

Consultores da questão agrária viram as ocupações em início de governo como parte de uma disputa na ala esquerda do governo sobre o tratamento que será dado à questão dos movimentos sociais. O MST fez as ações para provocar uma situação de confronto com o governo e ganhar mais poder, controlando posições no Incra. Uma aceleração da reforma agrária com o perfil do MST agora, após quatro anos sem arrecadação de terras no governo Bolsonaro, daria fôlego para o movimento.

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No Ar: Clube do Ouvinte