Sexta-feira, 26 de abril de 2024

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Estudos indicam que o QI médio do brasileiro situa-se próximo a 88, numa escala que vai de 130 (superdotação) a 20 (debilidade profunda).   Nossa nota é classificada como “embotamento ligeiro”, que significa: pessoa com raciocínio simplório, com dificuldade para se expressar emocionalmente. O efeito Flynn, que prevê natural melhoria nos índices de QI com melhor nutrição e renda, é desmentido por algumas pesquisas que apontam que estamos regredindo. O quadro de preocupação se acentua no atual contexto de volatilidade e altíssima competição como pano de fundo para uma necessária transformação da realidade que o País atravessa. O impacto da pandemia sobre a educação e nossos já conhecidos problemas estruturais conferem cores ainda mais dramáticas sobre um cenário marcado por aquilo que o antropólogo norte-americano, Jamais Cascio, conceituou como mundo FANI, frágil, ansioso, não linear e incompreensível.  A corrida pelo desenvolvimento moderno passa, inapelavelmente, por conhecimento, pesquisa e inovação, e tais desafios estão decisivamente vinculados à indústria do conhecimento. Certamente essa limitação no QI médio do brasileiro não restringe e impacta somente questões econômicas e sociais, como também afeta, de forma muito grave, o discernimento para fazer escolhas políticas. Más escolhas políticas estão na raiz dos nossos problemas, e isso faz toda a diferença quando se projeta o Brasil para as próximas décadas.

É inegável que uma mudança efetiva no atual quadro econômico, social e político nacional terá que enfrentar nossa indigência intelectual. Mais do que isso, é preciso reconhecer que a qualidade da democracia aumenta quando a população é mais escolarizada, e a democracia somente é possível com níveis crescentes de escolarização. Essa constatação, à primeira vista insofismável, teve o aval de Robert Dahl, que cristalizou o argumento apresentando correlação positiva entre uma população formalmente mais educada redundar em maior desenvolvimento econômico e maior pluralismo. Nessa visão, evidencia-se que governos autocráticos florescem menos em sociedades abertas, educadas e livres. A educação tem um forte impacto sobre toda a comunidade e, como assinalaram Ronald Inglehart e Christian Welzel, uma educação mais robusta leva as pessoas a rejeitar o autoritarismo, buscando novas formas de auto-expressão. Pessoas mais educadas também declinam de relações sociais verticalizadas e preferem interações de poder mais horizontais. É por reconhecer que o fomento a uma comunidade cívica, que preserve e defenda suas instituições, é essencial para uma democracia sólida e vibrante, que não podemos deixar de declarar que a percepção da sociedade e as relações entre as pessoas moldam, em larga medida, o universo da política. Quanto mais educada a população, maiores serão as chances de eventuais arroubos autoritários serem naturalmente contidos pela consciência cívica estabelecida.

Naturalmente o caminho não é simples. Os países que consolidaram as suas posições econômicas o fizeram, todos, embasados em conhecimento de ponta, pesquisas e uma crença inabalável na força do saber como alavanca primordial para um desenvolvimento sustentável. Os desafios socioeconômicos, de evasão escolar, de analfabetismo renitente, de violência nas escolas e falta de investimentos terão que ser enfrentados de imediato, sem concessões a novos adiamentos. Se o homem medieval era a peça de uma engrenagem que ele não entendia; o homem moderno é uma engrenagem em um sistema complexo que ele pensa que entende, proclama Nicholas Taleb, do alto do seu saber provocativo.  Governos, e não somente pessoas, também estão acometidos pelo mundo de incertezas que vivemos, mas nem mesmo a instabilidade profunda pode servir de pretexto para a inação. Ao contrário, a fragilidade, a ansiedade, a não linearidade e a incompreensão do contexto reclamam que a acesso ao mundo do saber seja completamente universalizado, priorizado e implementado, até porque a escuridão da ignorância jamais serviu de bússola  para navegar em águas turbulentas.

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