Quinta-feira, 19 de setembro de 2024

Quinta-feira, 19 de setembro de 2024

Voltar Em café da manhã com jornalistas, Lula diz que quer transformar o Brasil em um país de classe média

Após quase um mês de reclusão médica ou de retomada das atividades, mas com poucas declarações públicas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou aos microfones para falar com jornalistas e distribuiu polêmicas que vão gerar problemas para seu governo ou rechear os discursos de oposição. Não faltaram falas para ampliar questionamentos na economia, na política e no cenário internacional, o que reforça a tese de que muitas vezes é o próprio presidente quem dá munição para os bombardeios a seu governo. Cabe a seus ministros lidar com eles.

Fernando Haddad é um dos que terão trabalho nos próximos dias, após o presidente desfazer as fantasias do mercado com uma fala bem direta. A de que o governo dificilmente vai cumprir a regra com a qual ele próprio se comprometeu nas negociações no Congresso e em troca de confiança do mercado: o déficit zero em 2024. Lula disse, de certa forma até contraditoriamente, que fará o possível para isso, mas que não vai sacrificar investimentos (ou gastos) para garantir que o governo feche no azul ou dentro da margem de tolerância. Isso tem a capacidade de arranhar a credibilidade da política econômica – basta olhar a reação do mercado instantaneamente à fala.

Repercussão

O relator da LDO, Danilo Forte, resumiu o cenário. Nas redes, afirmou que as falas causam “constrangimento” a Haddad. “Trata-se de fala brochante para a pauta econômica, que sofre resistências no Legislativo.” Trocando em miúdos: tudo vai custar mais caro para o governo agora.

No cenário internacional a fala sobre querer conversar com quem for amigo do Hamas ajuda mais os críticos do que a si próprio. Embora seja nobre a defesa de que todo esforço é válido para a libertação de reféns do grupo, a declaração é cercada de problemas.

Entre outras coisas, iguala condutas do grupo terrorista Hamas e de Israel ao dizer que ligaria para um país amigo do Hamas para liberar reféns e para o governo de Israel liberar os presos. Presos e reféns não são iguais, obviamente.

Hamas

Além disso, sugerir que seria simples ligar para um país “amigo do Hamas” para argumentar que deveriam liberar reféns para não ficar com “inocente lá metido” parece desconsiderar que os inocentes foram as principais vítimas do grupo. Está na essência de um grupo terrorista como o Hamas atacar alvos não militares. Independentemente dos brutais excessos de Israel na Faixa de Gaza, que parecem claros, é preciso traçar essa diferença.

Lula também escorregou em declaração sobre a demissão de mulheres do governo. Não por admitir abertamente o toma lá, dá cá, mas por afirmar que, “se o partido não tem mulher, não posso fazer nada”. Certamente, tirando mulheres de postos chave para acomodar outros interesses, seria melhor não fazer nada pela causa feminina.

E, sim, os partidos têm mulheres. Dados de setembro do TSE apontam que as mulheres eram maioria (51%) entre os filiados do Republicanos, um dos partidos que ganharam espaço no governo. O PP, que herdou a vaga de Rita Serrano na Caixa e a de Ana Moser no Esporte, tem 49% de mulheres. O que eles possuem são poucas mulheres em cargos de comando.

Esforço mesmo fez Lula para tentar não melindrar as Forças Armadas. Deixou claro o temor que tem de uma Garantia da Lei e da Ordem, ao afirmar que no seu governo quem governa é ele. Mas enfatizou que não quer militar trocando tiros na favela, como nenhum membro das Forças Armadas quer, e que busca recuperar a instituição, atribuindo apenas a Bolsonaro a culpa pela excessiva vinculação entre militares e o governo nos últimos quatro anos.

Apoio dos pobres

Por fim, o café com os jornalistas serviu para um ajuste no discurso de um governo que enxergou que precisa de um pouco mais do que o apoio dos mais pobres para governar. A velha frase de que é preciso colocar o pobre no orçamento foi alterada. Agora, Lula diz que quer tirar da cabeça das pessoas que o governo só pensa em pobre. Mas que quer transformar o Brasil em um país de classe média. Entregar esse objetivo, porém, parece cada vez mais desafiador.

Voltar

Compartilhe esta notícia:

Deixe seu comentário

No Ar: Bom Dia Caiçara