Segunda-feira, 06 de outubro de 2025

Segunda-feira, 06 de outubro de 2025

Voltar Eleições 2026: intensa de viagens expõe modo eleitoral de Lula a um ano da disputa

A um ano da eleição, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva intensificou a agenda pelo País e já visitou mais capitais e cidades em 2025 do que na totalidade de cada um dos dois primeiros anos do terceiro mandato. O petista tem usado viagens e atos oficiais para acelerar a guinada eleitoral, defendendo bandeiras que ajudaram a recuperar a popularidade do governo, como a soberania nacional, e apresentando programas sociais em tom de pré-campanha de olho em 2026.

Neste ano, em nove meses, Lula já esteve em 65 cidades de 19 Estados, número que supera o total do ano de 2024 (60) e o de 2023 (36), quando priorizou viagens internacionais. A intensificação da agenda marca a contagem regressiva para as eleições de 4 de outubro de 2026 e tem se concentrado em Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, que juntos reúnem cerca de 40% do eleitorado.

Em agosto, em Belo Horizonte, Lula lançou o programa Gás do Povo, o novo vale-gás do governo federal. No mesmo mês, no Rio de Janeiro, participou da divulgação de R$ 33 bilhões em investimentos da Petrobras. Já no fim de julho, em São Paulo, anunciou um pacote de R$ 4 bilhões para urbanização de favelas e, em Sorocaba, transformou a inauguração de consultórios odontológicos em discurso de campanha: “Três mandatos incomodaram muito, muito mais. Imagina se tiver o quarto mandato”, disse.

Depois de SP, MG e RJ, o Nordeste foi o terceiro destino mais visitado por Lula em 2025, região onde historicamente concentra sua base de votos. Durante as viagens, aproveitou para criticar a gestão do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), apontado como um dos principais nomes da direita para 2026, e alfinetar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL): “Podem ter certeza que eu serei candidato para ganhar as eleições, porque eu não vou entregar este País de volta para aquele bando de malucos”, disse no Ceará, em junho.

Para o presidente do PT, Edinho Silva, as viagens são parte do estilo de governar de Lula e servem também para fortalecer os palanques regionais em 2026. “Ele é candidato à reeleição”, resume. Já o ministro da Previdência, Wolney Queiroz, atribui o aumento das agendas às entregas do governo. “Chegou a hora de cumpri-las pelo Brasil, e é isso que ele tem feito.”

O movimento de intensificar as viagens acompanhou a virada no cenário político, quando Lula registrou a pior avaliação de suas três gestões, em fevereiro. Para aliados, o petista recuperou parte da popularidade ao adotar uma ofensiva digital com o mote “ricos versus pobres”, mirando Congresso, Centrão e oposição, tachados como defensores de privilégios em detrimento do povo. O líder do governo na Câmara, Lindbergh Farias (PT-RJ), afirma que Lula chegará “fortalecido” a 2026, depois de “sair das cordas nos últimos meses”.

A disputa em torno do IOF reforçou essa guinada: em julho, a Câmara derrubou o decreto do governo que elevava as alíquotas do imposto, cobrado em operações de crédito como empréstimos, financiamentos e cartão. O revés foi parcialmente revertido por decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, o que permitiu ao Planalto ressignificar a disputa e apresentá-la como símbolo de sua defesa da “justiça tributária” e da taxação dos mais ricos.

A melhora apareceu nas pesquisas seguintes. A aprovação de Lula subiu três pontos entre julho e agosto, de 43% para 46%, e se manteve estável em setembro. Para o cientista político Antonio Lavareda, a recuperação também foi alimentada pelo tarifaço de Donald Trump, articulado pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL) e endossado por líderes da direita. As sanções abriram espaço para o governo resgatar a defesa da soberania nacional e das cores verde e amarelo, símbolos que haviam se tornado quase exclusivos do bolsonarismo.

Esse discurso foi logo incorporado às agendas. Em agosto, em Juazeiro (BA), Lula voltou a ligar Jair e Eduardo Bolsonaro ao tarifaço de Trump e os chamou de “traidores da pátria”. A ofensiva teve cálculo político: pesquisa Quaest do mesmo mês aponta que 71% dos eleitores avaliam que Trump errou ao impor a tarifa. “Bolsonaro se abraça na bandeira americana. É um patriota falso”, disparou o petista. (Coluna de opinião do Estadão por Hugo Henud e Adriana Victorino).

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