Quinta-feira, 12 de dezembro de 2024
Por Redação Rádio Caiçara | 18 de novembro de 2023
Os argentinos vão às urnas neste domingo para escolher – entre a política de continuidade do atual ministro da Economia Sergio Massa e a “destruição criativa” do economista de ultradireita Javier Milei – qual presidente liderará a o projeto de reconstruir sua destroçada economia. Os eleitores de Massa acreditam na habilidade dele de negociar medidas mais duras para estabilizar a economia; os de Milei apostam em seu programa de demolição do Estado e dolarização total do país.
A inflação de outubro chegou a 142,7% ao ano, as reservas monetárias estão nos níveis mais baixos em várias décadas e o índice de pobreza supera os 40% da população – um quadro para o qual os economistas só veem solução em longo prazo, que exigirá uma substancial desvalorização da moeda e um significativo corte de gastos. Em relação ao último ponto, na Argentina, corte de gastos significa redução de subsídios a transportes, tarifas públicas e programas sociais importantes.
“Massa talvez ofereça mais governabilidade, porque um governo peronista teria mais chance de obter acordos no Congresso, mas o consenso pode ser um obstáculo para as mudanças”, disse o fundador da consultoria Perspectiv@s Económicas, Luis Secco. “Um grande consenso exigiria um caminho no qual se evite o conflito. E não há mudança sem conflito”, afirmou. “Do lado de Milei, há dúvidas sobre se teria apoio de toda a bancada de centro-direita ligada ao ex-presidente Mauricio Macri”, afirma.
Massa, do Unión por la Pátria, surpreendeu ao se tornar o candidato mais votado no primeiro turno de 22 de outubro, com 36,4% dos votos – mesmo estando à frente da crise econômica do país desde julho de 2022. Durante a campanha, procurou dissociar sua imagem do governo que integra, do presidente Alberto Fernández. Ex-prefeito de Tigre, município da Grande Buenos Aires, construiu toda sua carreira fora do peronismo.
Já Milei, do La Libertad Avanza, que ganhou fama ao participar de mesas-redondas políticas na TV, obteve 30,1% dos votos no primeiro turno – impulsionado principalmente por jovens seduzidos por sua retórica anti-Estado. Após o primeiro turno, ele ganhou apoio da terceira colocada Patricia Bullrich, do Juntos por el Cambio (JxC), que teve 23,8% dos votos.
“Há um consenso de que a Argentina vai entrar em um processo de reformas econômicas importantes, entre as quais se espera uma desvalorização do peso e correções profundas nos preços relativos”, afirma Ricardo Delgado, diretor da consultoria Analytica. “Isso deve ter reflexos mais rápidos em alguns setores exportadores, como o agropecuário”, diz.
Uma desvalorização muito rápida, porém, levaria imediatamento a uma aceleração maior da inflação e um maior empobrecimento da população no curto prazo, afirma Martín Kalos, diretor da consultoria EPyCA. “Nesse sentido, os planos de Milei não equalizariam desequilíbrios e poderiam até piorar a situação”, disse.
“A Argentina tem hoje uma série de problemas, inclusive de corrupção, mas nenhum deles se sobrepõe à questão econômica”, afirma o advogado argentino especialista em compliance Gustavo Morales, diretor de riscos e investigações da FTI Consulting. “Embora a campanha tenha sido pontuada por alguns abusos do ponto de vista legal e ético, incluindo a distribuição de benesses estatais durante o período eleitoral, a questão da corrupção nunca esteve no centro do debate, porque este foi ocupado pelo empobrecimento da população. Os argentinos estão votando com o estômago”, diz Morales.
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