Terça-feira, 25 de março de 2025

Terça-feira, 25 de março de 2025

Voltar Desafio do presidente eleito da Argentina é obter apoio legislativo para aprovar sua agenda ultraliberal; primeiras viagens serão para Estados Unidos, Israel e Uruguai, ignorando o Brasil

O presidente eleito da Argentina, Javier Milei, reiterou o plano de fechar o Banco Central do país. Ele reafirmou a intenção de privatizar a petrolífera YPF e os meios de comunicação estatais, como a TV Pública e a Rádio Nacional.

Para isso, no entanto, precisará do aval do Congresso, onde não tem maioria e espera receber o apoio da coalizão do ex-presidente Mauricio Macri. Segundo Milei, a inflação – de cerca de 140% ao ano – deve levar até dois anos para cair. Rompendo uma tradição, sua primeira viagem ao exterior não será ao Brasil. Ele pretende ir a Estados Unidos, Israel e Uruguai ainda antes da posse, em 10 de dezembro.

“Tudo o que puder estar nas mãos do setor privado, estará nas mãos do setor privado”, disse Milei, em entrevista a rádios locais. Ele não definiu um prazo para as privatizações, eixo de uma campanha centrada em reduzir o tamanho do Estado argentino, que consome 42% de seu PIB, segundo estimativa do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

Um dos desafios de Milei para implementar sua agenda ultraliberal é que tanto as privatizações quanto o fim do Banco Central dependem de apoio legislativo, e seu partido Libertad Avança não tem maioria – o presidente eleito terá 38 dos 257 deputados e 7 dos 72 senadores.

A aliança feita no segundo turno com Patricia Bullrich e Mauricio Macri pode render mais 93 deputados e 24 senadores, mas ainda é incerto se essa coalizão de centro-direita é capaz de atuar em bloco, já que uma facção, ligada a Horacio Rodríguez Larreta, governador de Buenos Aires, é refratária a Milei.

Uma alternativa seria tentar vender 51% das ações de estatais com base em um Decreto de Necessidade e Urgência (DNU), mas que, segundo especialistas, também precisaria da chancela posterior do Congresso, o que acarretaria um risco para os compradores.

Preparação

Um dos pontos mais sensíveis é a YPF, que emprega cerca de 100 mil argentinos. A estatal foi privatizada nos anos 90 e nacionalizada em 2012, durante o governo de Cristina Kirchner, quando Axel Kicillof era ministro da Economia. Por conta da expropriação, em setembro, um tribunal dos EUA determinou que a Argentina deve pagar US$ 16 bilhões em indenizações aos acionistas minoritários.

No dia seguinte ao segundo turno, as ações da estatal subiram mais de 40% em Wall Street, após as declarações do presidente eleito. Conforme Milei, é preciso primeiro reorganizar a YPF, antes de privatizá-la.

“Desde que Kicillof decidiu nacionalizá-la, promoveram uma deterioração da empresa, em termos de resultados, para que ela valha menos do que quando foi expropriada. Obviamente a primeira coisa a fazer é reconstruí-la”, afirmou. “Temos de agregar valor para que ela possa ser vendida de uma forma muito benéfica para os argentinos.”

Viagens

Milei também anunciou suas primeiras viagens antes da sua posse, em 10 de dezembro. À rádio Mitre, ele disse que visitará Miami e Nova York, nos EUA, e Tel-Aviv, em Israel – o Brasil, destino tradicional da primeira viagem dos eleitos, ficou de fora. Milei também deve desembarcar em breve no Uruguai, a convite do presidente conservador, Luis Lacalle Pou. O libertário disse que resolveria qualquer assunto com o vizinho em um churrasco, devido a afinidade entre eles.

Transição

O clima chegou a ficar pesado entre Milei e o governo, principalmente após rumores de que Sergio Massa, candidato derrota, fosse renunciar ao cargo de ministro da Economia, o que poderia prejudicar a transição. O presidente eleito chamou o peronista de “irresponsável”.

O presidente, Alberto Fernández e o futuro inquilino da Casa Rosada, se reuniram na manhã dessa terça-feira (21). A vice, Cristina Kirchner, decidiu viajar para a Itália, para dar uma palestra em Nápoles.

Massa, no entanto, confirmou que permanecerá no cargo até a posse e montou uma equipe de transição para trabalhar com Milei. A decisão foi confirmada pelo número dois do Ministério da Economia, Gabriel Rubinstein.

Gabinete

Entre os primeiros nomes do futuro governo estão o advogado Mariano Cúneo Libarona, que será ministro da Justiça, e Carolina Píparo, nova chefe da Anses, entidade que cuida da assistência social e esteve sob o guarda-chuva do La Cámpora, grupo de jovens de esquerda do kirchnerismo.

Outros nomes são aguardados nos próximos dias, principalmente o do próximo ministro da Economia. No domingo (19), Milei se reuniu com Macri e Bullrich, provavelmente para costurar nomes do futuro gabinete. Durante a campanha, o libertário prometeu reduzir o número de ministérios de 18 para 8.

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