Quinta-feira, 12 de dezembro de 2024
Por Redação Rádio Caiçara | 6 de agosto de 2023
O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) identificou movimentações suspeitas envolvendo pequenas doações em pix para o ex-presidente Jair Bolsonaro na mesma conta bancária em que, recentemente, ele recebeu mais de R$ 17 milhões. A informação consta em documentos enviados à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro no Congresso Nacional.
Além dos valores recebidos e dos pagamentos feitos para familiares, incluindo a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, o relatório do Coaf destacou uma amostra de 16 pessoas que fizeram Pix para Bolsonaro com valores pequenos, de R$ 0,01 a até R$ 2, em transferências apontadas como atípicas e que agora serão investigadas por integrantes da CPMI.
A circulação de dinheiro na conta pessoal do ex-presidente – incluindo os pequenos valores – levantou suspeitas de “burla fiscal e lavagem de dinheiro”, de acordo com o Coaf, órgão responsável por comunicar às autoridades indícios de lavagem de dinheiro. Membros da CPMI querem investigar se as doações de centavos serviram para dificultar o rastreamento de possível origem ilícita da fortuna obtida pelo ex-presidente só neste ano.
Isso porque as transferências para Bolsonaro somam diferentes sinais de alerta descritos nos manuais do Coaf como indícios típicos de lavagem de dinheiro, tais como pequenos valores transferidos por pessoas “sem ligação aparente com o titular” e movimentações atípicas em relação à renda mensal.
No caso de Bolsonaro, os investigadores da CPMI querem verificar se houve uso de CPFs falsos para simular doações e se os supostos doadores tiveram CPFs usados em contas bancárias como “laranjas” para disfarçar a possível origem criminosa dos recursos.
Em nota, a defesa de Bolsonaro informou que “para que não se levantem suspeitas levianas e infundadas sobre a origem dos valores divulgados, eles são provenientes de milhares de doações efetuadas via Pix por seus apoiadores, tendo, portanto, origem absolutamente lícita”. “Por derradeiro, a defesa informa, ainda, que nos próximos dias tomará as providências criminais cabíveis para apuração da autoria da divulgação de tais informações.”
Doadores
Dentre os doadores de pequenos valores que aparecem no relatório do órgão, há quem diga não se lembrar das pequenas transferências de valores que fizeram para Bolsonaro, conforme os dados enviados por bancos ao Coaf. Outros supostos doadores do ex-presidente alegan ter transferido valores diferentes aos registrados pelo Coaf.
Bolsonaro chegou a agradecer às doações recebidas via pix e ironizar, dizendo que o dinheiro seria suficiente para pagar as contas e ainda comer “pastel com caldo de cana” com a esposa, Michelle. As pequenas doações na conta pessoal do ex-presidente notificadas pelo Coaf, no entanto, são anteriores à campanha de arrecadação promovida pelos apoiadores e ocorreram entre 20 de maio de 2022 e 14 de maio deste ano.
No fim de junho, em mensagens distribuídas por whatsapp e redes sociais, aliados de Bolsonaro pediram doações para o pix do ex-presidente depois que começou o julgamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que acabou o tornando inelegível. Multas sofridas pelo ex-presidente também foram citadas pelos bolsonaristas como justificativa para os pedidos de dinheiro.
Parlamentares do PL, sigla de Bolsonaro, usaram suas contas nas redes sociais para supostamente ajudar no custeio das despesas pessoais de Bolsonaro com a Justiça. O levantamento do Coaf não especificou a data exata de cada uma das transferências feitas ao ex-presidente. O órgão também não apontou, de forma conclusiva, quais foram os motivos para Bolsonaro ter recebido tanto dinheiro.
Analistas especializados em lavagem de dinheiro disseram que “chama a atenção o montante de PIXs recebidos em situação atípica e incompatível” e cogitaram que esses pagamentos ao ex-presidente “provavelmente possuem relação” com a campanha de arrecadação promovida por aliados.
Parlamentares da base do governo tentam seguir o rastro do dinheiro de Bolsonaro e da ex-primeira-dama. Querem aprovar requerimentos para que o Coaf analise detalhadamente a movimentação financeira do casal. Mesmo criticado pela base governista, o presidente da CPMI, Arthur Maia (União-BA), ainda não quis colocar em votação pedidos de quebra de sigilo bancário de Bolsonaro e Michelle ou pedidos de relatórios ao Coaf.
Os dados bancários de Bolsonaro só chegaram à comissão porque foi aprovado um pedido de relatório ao Coaf sobre a movimentação financeira do coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da presidência. Como Cid tinha procuração para manusear as contas bancárias do ex-presidente, transações atípicas dessas contas foram citadas e anexadas no relatório do Coaf que analisa movimentações recentes do militar.
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