Sábado, 14 de dezembro de 2024
Por Redação Rádio Caiçara | 30 de março de 2023
Depois de quase três meses nos Estados Unidos, período em que apareceu em vídeos para políticos do PL e participou de conferências da direita internacional, o ex-presidente Jair Bolsonaro desembarcou no Brasil falando pouco sobre o seu futuro político. Tanto quando foi abordado pela imprensa ou por apoiadores, limitou-se a ouvi-los e dar sorrisos.
Por volta das 21h, o ex-presidente e seus três acompanhantes foram os últimos a entrarem no avião, depois que os demais passageiros já estavam em seus lugares. Ao ser reconhecido, foi aplaudido aos gritos de “Bolsonaroooo uhuuuuu”. Apenas um cidadão berrou — solitário, mas com fôlego — “cadeia!”.
Óculos a postos, o ex-presidente prestou especial atenção às instruções de emergência e iniciou a viagem com uma taça de espumante. Embora o avião da Gol não fosse equipado com wi-fi, não desgrudou os olhos e dedos do celular até o jantar ser servido. Entre frango e nhoque, optou pela massa, ao sugo, com queijo parmesão. Quando as luzes se apagaram, dormiu: fronte encostada à janela, almofada de pescoço azul como proteção. Acima do assento, no guarda-malas, imagens do trem de “Harry Potter” em ação publicitária da franquia da Universal Orlando. Na madrugada, quem, a caminho do banheiro, se fixasse nesta cena na poltrona 1A do voo 7601 da Gol, tinha a impressão de que Jair Messias Bolsonaro sorvia as derradeiras horas de calmaria antes de seu retorno a Brasília.
Antes mesmo de embarcar no Aeroporto Internacional de Orlando, nos Estados Unidos, o ex-presidente abraçou crianças, beijou mulheres emocionadas, ouviu eleitores em visita à Flórida e tirou fotos pacientemente, inclusive com funcionários da Azul e da Gol que fizeram fila para garantir um clique. Parecia estar em campanha. A todos atendeu com sorrisos e mesuras. A exceção, não exatamente uma surpresa, foi com a imprensa.
Antes de passar pela Imigração, perguntado sobre as joias milionárias a ele presenteadas pelo governo da Arábia Saudita e se retornava ao país com a ambição de liderar a oposição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Bolsonaro reagiu.
“Vocês (repórteres) falaram muito de mim nas eleições, e agora…”, disse, sem concluir.
Às reticências, seguiu-se o aviso formal de que não conversaria com os jornalistas dos jornais O Globo e Folha de S.Paulo durante a viagem de volta a Brasília.
Refúgio
Entre a Imigração e o embarque, o ex-presidente se refugiou em uma área isolada no lounge do terminal, de onde deu uma única entrevista, para a CNN Brasil. Um de seus três companheiros de viagem, o assessor especial Sergio Rocha Cordeiro informou que Bolsonaro só “faz entrevistas ao vivo”, pois “se não for assim, vocês distorcem (aquilo que ele diz)”.
O silêncio com O GLOBO só foi quebrado quando o ex-presidente quase respondeu que nota, de 0 a 10, daria para o governo Lula. Ele riu, com gosto, em um grunhido, mas sem oferecer número algum. Em seguida, foi possível escutar uma conversa com alguém pelo celular, também entre risos: “Eu ia falar besteira. Aí não disse nada”. Mudez um tom menos rude do que as respostas malcriadas a repórteres, característica de sua temporada no comando do governo federal.
À CNN Brasil, o novo presidente de honra do PL falou das joias. Afirmou não ver ilegalidade alguma nas tentativas de se liberar o material que entrou, como se sabe, ilegalmente, no Brasil.
“A gente tentou recuperar (as joias) por ofício, não na mão grande. Era tudo pro acervo do presidente da República”, argumentou.
Na mesma entrevista, também garantiu que irá à Polícia Federal na próxima quarta-feira (5), para dar explicações — o órgão investiga possíveis irregularidades na trama e determinou o depoimento. Especificamente sobre o terceiro estojo, avaliado em cerca de R$ 500 mil, afirmou que deve entregá-lo ao Tribunal de Contas da União ainda nesta sexta (31).
“Está à disposição. Não foi surrupiado. Pra que vou usar um relógio de mais de R$ 200 mil? Jamais usaria”, disse à CNN Brasil.
Durante o voo, em que se acomodou três fileiras à frente dos repórteres, Bolsonaro usou no pulso um modelo simples da Casio.
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