Terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

Terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

Voltar Com a inteligência artificial, exame mundial medirá como o aluno aprende

Pedir ajuda para o vizinho de carteira escolar durante a prova ou mesmo para um robô de inteligência artificial não será mais motivo de punição em um futuro próximo. Isso porque os novos exames medirão justamente como o aluno colabora com os colegas para encontrar soluções, busca informações, faz perguntas – e a sua motivação para realizar isso tudo. Sistemas de avaliação internacionais, como o Pisa, feito pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), já começam a incluir a tecnologia para analisar bem mais do que apenas respostas certas.

“As provas não são mais sobre se os alunos acertaram ou erraram a pergunta e, sim, sobre como abordam um problema, se estabelecem uma meta, quais são suas estratégias, sua motivação”, disse o diretor de Educação e Habilidades da OCDE e um dos criadores do Pisa, Andreas Schleicher, em evento em Campinas da Associação Brasileira de Avaliação Educacional (Abave). Segundo ele, a tecnologia pode monitorar movimento de mouse e teclado, a voz, o olhar e os movimentos faciais dos estudantes para rastrear a forma como eles respondem às questões.

A novidade vai estar no Pisa de 2025, que terá um novo conceito: Learning in the Digital World (aprendendo no mundo digital). A prova vai avaliar como os estudantes aprendem e não apenas o que eles sabem, usando a tecnologia. Será a primeira vez, desde que o exame foi criado no início dos anos 2000, que os resultados vão incluir comparações entre os países dos processos de aprendizagem dos alunos, incluindo medidas de motivação e regulação emocional.

Pisa 2025

A ideia é coletar dados de autorregulação, cognição e comportamento dos alunos enquanto eles fazem a prova no computador e usar machine learning para analisá-los. Atualmente, a OCDE está aplicando o Pisa 2022, que teve atrasos por causa da pandemia, com provas de Leitura, Matemática e Ciências.

“Estamos incorporando tutores inteligentes no sistema de avaliação para que, quando os alunos tiverem dúvidas, eles tenham essa assistência. Nos dias de hoje é uma bobagem não permitir isso”, diz Schleicher. “Devemos permitir que os alunos usem tudo o que puderem, porque você não quer ver se eles sentem falta do Google, você quer saber se eles podem fazer uso inteligente dele”, afirma.

O Pisa 2025 também vai medir a capacidade dos alunos de utilizar ferramentas digitais para explorar sistemas, representar ideias e resolver problemas com lógica computacional. Na descrição do novo teste, a OCDE diz que é “importante que os jovens estejam preparados para participar de um mercado de trabalho em que os computadores desempenham um papel cada vez maior e para tomar decisões sobre como utilizar a tecnologia para adquirir novos conhecimentos e competências”.

“Em tempos de ChatGPT não se trata de repetir respostas, mas de aprender a fazer perguntas corretas, não se trata apenas de medir o que você sabe sobre Biologia e Física e, sim, se você consegue pensar como um cientista. Na História, não se trata de lembrar nomes de lugares, mas se você entende a sociedade que surgiu a partir de determinado desenvolvimento”, afirmou ele, para uma plateia de especialistas em avaliação do Brasil. “São esses tipos de competências e de pensamentos que as avaliações modernas precisam tornar visíveis, em vez de apenas testar se os alunos conseguem reproduzir as respostas que projetamos numa pergunta.”

Os resultados do Pisa 2025 serão conhecidos só em dezembro de 2027. O Brasil participa da prova, que avalia estudantes de 15 anos, desde o início e está sempre entre as últimas colocações no ranking. Os últimos resultados são de exames feitos em 2018 e divulgados em 2019.

Outros exemplos

Há também modelos sendo testados pelo mundo que medem até o desinteresse do estudante pela prova e criam formas para que se engaje mais. Em uma plataforma criada pela OCDE ainda em versão demo, chamada Platform for Innovative Learning Assessments (PILA), há exemplos de testes que usam tecnologias digitais para serem utilizados em escolas. A iniciativa só tem exercícios em inglês, por enquanto.

Na palestra do evento em Campinas, Schleicher relatou também o caso de escolas em Xangai, na China, em que há um tipo de scanner nas mesas em que os estudantes treinam para escrever corretamente os milhares de caracteres do mandarim. Em tempo real, por meio de inteligência artificial, os erros dos alunos são captados e comunicados aos professores, que podem intervir e ajudá-los a melhorar.

“Essa é a característica da avaliação moderna: ela não distrai os alunos, não acrescenta, mas está totalmente imersa nos processos de aprendizagem”, disse.

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No Ar: Caiçara Confidencial