Quarta-feira, 04 de dezembro de 2024
Por Redação Rádio Caiçara | 9 de setembro de 2023
Franklin Torres monitora todos os dias a sua exuberante plantação de banana, entre a costa do Pacífico e a Cordilheira dos Andes. Elas são colhidas e levadas para uma linha de montagem, onde são lavadas, pesadas e empacotadas para a Europa. Torres fica de olho não só para garantir o alto padrão da mercadoria, mas principalmente para ter certeza de que as bananas não sejam embaladas com cocaína.
A atenção faz sentido porque, cada vez mais, o negócio da banana se mistura com a droga. O Equador é o maior exportador mundial de bananas, com 7,2 toneladas transportadas por via marítima, e está localizado entre os maiores produtores de cocaína do mundo: Peru e Colômbia. Por isso, nos contêineres cheios de bananas, os narcotraficantes encontram o jeito ideal de mover a droga.
Escala da violência
A ação dos narcotraficantes na indústria responsável por 30% das bananas do mundo contribui para uma violência sem precedentes no Equador. Tiroteios, homicídios, sequestros e extorsões se tornaram parte do cotidiano, particularmente na cidade portuária de Guayaquil.
O Equador, que não é conhecido como grande produtor de cocaína, foi abalado pelo assassinato a tiros de Fernado Villavicencio, em agosto, candidato presidencial conhecido pela posição dura contra o crime organizado e a corrupção. Ele havia acusado a gangue Los Choneros de ameaçá-lo de morte.
Além da proximidade geográfica com a produção de cocaína, os cartéis de México, Colômbia e Bálcãs se estabeleceram no Equador porque o país usa o dólar e possui leis e instituições fracas, além de uma rede de gangues ávidas por dinheiro.
Segundo autoridades, o tráfico começou a se tornar mais forte no Equador após mudanças políticas na Colômbia na década passada. Com a desmobilização das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), os grupos criminosos se dividiram e os campos de coca colombianos estão cada vez mais próximos da fronteira equatoriana.
Cerca de 2,3 mil toneladas de cocaína são fabricadas no mundo, quase tudo em Colômbia, Peru e Bolívia. Em 2021, um terço da cocaína apreendida na Europa estava em cargas do Equador. Segundo relatório da ONU, o dobro da quantidade apreendida em 2018. As grandes apreensões se tornaram mais frequentes.
Carregamentos
Em 25 de agosto, autoridades europeias anunciaram a apreensão do maior carregamento de cocaína da Espanha: 9,5 toneladas escondidas em carregamento de banana do Equador. Na Holanda, a mesma coisa: 8 toneladas descobertas em um contêiner de bananas equatorianas. Grécia e Itália também apreenderam cocaína escondida em caixas de bananas do Equador.
As bananas que vão para a Europa são embaladas em plantações, carregadas em caminhões e armazenadas em Guayaquil, para depois embarcarem em contêineres. Os navios cruzam o Canal do Panamá, o Mar do Caribe e atravessam o Atlântico.
Produtores, exportadores, operadores portuários, empresas de segurança privada, agentes alfandegários, policiais e compradores oferecem oportunidades que os traficantes exploraram.
77 toneladas
Junto com o aumento dos homicídios, a quantidade de cocaína apreendida também aumentou, chegando a 77,4 toneladas no ano passado. Isso é mais de três vezes o valor apreendido em 2020. O general Pablo Ramírez, diretor de investigações antidrogas do Equador, atribui a mudança ao aumento do contrabando, e não a uma melhor fiscalização.
Dados da polícia mostram que, do total do ano passado, um recorde de 47,5 toneladas de cocaína foram encontradas em carregamentos de banana, embora as exportações tenham caído 6,4% em relação a 2021.
Atualmente, apenas 30% dos contêineres são inspecionados nos portos equatorianos, um processo feito manualmente ou com cães farejadores. O governo do presidente Guillermo Lasso falou em usar scanners, mas as 12 máquinas que deveriam estar operando não estão.
No Ar: Bom Dia Caiçara