Domingo, 09 de fevereiro de 2025
Por Redação Rádio Caiçara | 13 de outubro de 2022
O alívio gradual observado nas expectativas de inflação e a perspectiva de
manutenção da taxa Selic (básica de juros) em níveis elevados nos próximos meses indicam um cenário de contração monetária ainda mais intensa à frente. A postura monetária, ou seja, o nível efetivo do aperto monetário na economia brasileira está no maior patamar desde 2003 e deve continuar a aumentar, na medida em que o juro real tende a subir adicionalmente.
Esse movimento, inclusive, tem gerado discussões sobre quando a postura do
Banco Central começará a ser flexibilizada.
Nos cálculos do Santander, o juro real ex-ante, obtido pela diferença entre a Selic e as expectativas de inflação 18 meses à frente, está em 8,7% ao ano. E, com base em uma estimativa de 4% para o juro real de equilíbrio, aquele que não estimula nem contrai a economia, o aperto monetário efetivo da economia está em torno de 4,5 pontos percentuais, de acordo com o banco.
“É uma forma que usamos para tentar calcular o aperto monetário efetivo.
Naturalmente, o horizonte de 18 meses é móvel e, com o passar do tempo, começa a pegar projeções de inflação que já estão mais próximas da meta”, diz Mauricio Oreng, superintendente de pesquisa econômica do Santander. “Como a tendência das expectativas de inflação é de queda – o que indica um aumento do juro real –, a política monetária fica mais contracionista de forma autônoma ao longo do tempo.”
De acordo com Oreng, a diferença entre o juro real projetado e a taxa de juros de equilíbrio deve ultrapassar a barreira dos 6 pontos, algo que não é visto desde 2002. “Estamos vendo um aperto monetário bem intenso, mas necessário. É a dose do remédio que precisamos para trazer a inflação de volta ao centro da meta”, diz. Ele, inclusive, avalia que essa tarefa é complicada para o BC, diante de um mercado de trabalho “aparentemente sem ociosidade) e da continuidade de estímulos fiscais.
“Vai chegar um momento em que o BC vai começar a cortar juros. Na nossa visão, o ‘timing’ ideal será no início do segundo semestre do próximo ano”, diz.
Oreng, porém, não descarta a possibilidade de a autoridade monetária começar a reduzir a Selic ainda na primeira metade de 2023. “Vai depender das expectativas. Por enquanto, estamos vendo um movimento baixista. Dependendo desse movimento e do que o BC vai ver em termos de cenário, não descarto a possibilidade de cortes antecipados no juro.”
Há quem aponte para a chance de o processo de flexibilização ter início já no primeiro trimestre de 2023, embora o próprio BC tenha tentado descartar essa possibilidade. A curva de juros embute nos preços um início de processo de corte de juros em março, que leva a Selic dos atuais 13,75% para 10,5% no fim de 2023.
De acordo com a sócia e economista-chefe da Gap Asset, Anna Reis, como os últimos anos foram marcados por uma inflação elevada e persistentemente acima da meta, há um prêmio de risco embutido nas métricas de inflação “implícita” projetadas para os anos seguintes. Ela, inclusive, aponta que isso é agravado pela incerteza em torno da política econômica do próximo governo.
Assim, na visão da economista, a probabilidade maior é de que o aperto monetário efetivo atualmente projetado pelos economistas não se confirme. Como exemplo, ela nota que, em dezembro de 2024, a projeção para o IPCA está em 3,47%, com uma taxa Selic de 8%. Ao considerar um juro neutro de 4%, o juro real no fim de 2024 estaria em 0,53% e, portanto, a taxa de juros ainda seria contracionista.
Nas projeções da Gap Asset, a inflação deve encerrar 2023 em 4,7%, com um balanço de riscos bastante simétrico. De um lado, uma recessão global pode provocar uma queda nos preços das commodities, o que aceleraria a desinflação, e, de outro, uma inflação de serviços mais persistente pode atrasar a ancoragem para as metas.
No Ar: Bom Dia Caiçara