Quarta-feira, 11 de setembro de 2024

Quarta-feira, 11 de setembro de 2024

Voltar Brasil mais velho desafia a saúde, a Previdência e a mobilidade

O Brasil está envelhecendo rapidamente, enquanto o número de crianças caminha na direção contrária, de acordo com o último relatório parcial do Censo 2022, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 12 anos (desde o Censo de 2010), a população com 65 anos ou mais saltou de 7,4% do total de habitantes para 10,9%.

Em números absolutos, temos, atualmente, 22,1 milhões de idosos, uma alta expressiva de 57,4% em relação à última contagem. No sentido oposto, o percentual de crianças até 14 anos caiu 12,6% no período — de 45,9 milhões (24,1%) para 40,1 milhões (19,8%). A tendência de envelhecimento da população já vinha sendo apontada pelos pesquisadores, mas a velocidade com que o fenômeno avança surpreendeu, assim como a redução da base da pirâmide etária.

Os números mostram que o Brasil está saindo do chamado bônus demográfico, em que a população jovem é maioria e garante a sustentabilidade do mercado de trabalho nas décadas seguintes. Metade da população do país tem 35 anos ou mais — seis anos a mais do que a mediana aferida pelo IBGE em 2010, que era de 29 anos —, ratificando a tendência de “franco envelhecimento” dos brasileiros, segundo o IBGE. “O índice de envelhecimento chegou a 55,2 idosos para cada 100 crianças de 0 a 14 anos. Em 2010, o índice era 30,7”, informou o instituto.

A combinação desses dois dados — aumento da população idosa e redução do número de crianças — revela o tamanho do desafio da sociedade brasileira e dos gestores públicos para assegurar, no futuro, mão de obra qualificada e em número suficiente para manter o ritmo de desenvolvimento econômico do país e, simultaneamente, gerar recursos para bancar as necessidades dos aposentados.

“Estamos prestes a completar a transição demográfica”, disse ao Correio o geógrafo Cláudio Egler, integrante da Comissão Consultiva do Censo. Para ele, o país terá que investir fortemente na formação acadêmica e profissional da geração que ainda não passou dos 14 anos de idade para assegurar mão de obra qualificada em um futuro no qual a disputa por empregos vai ficar cada vez mais restritiva, marcada pela automação e pela inteligência artificial. Ao mesmo tempo, aumentará a necessidade de investimentos na população mais velha, seja em relação à Previdência Social, seja em saúde e mobilidade.

“Vão entrar cada vez menos pessoas no mercado de trabalho e, se elas não tiverem qualificação, a produtividade geral da economia tende a cair. Mais do que nunca, é preciso investir nessa geração que está entrando agora. O desafio é duplo: melhorar o ensino e garantir qualidade de vida para a população idosa”, alerta Egler.

Sobre a curva de envelhecimento da população, a gerente de Estudos e Análises da Dinâmica Demográfica do IBGE, Izabel Marri, aponta alguns fatores que eram esperados pelos pesquisadores. “Com o tempo, a base da pirâmide etária foi se estreitando devido à redução da fecundidade e dos nascimentos que ocorrem no Brasil. O que se observa, ao longo dos anos, é a queda da população jovem, com aumento da população em idade adulta e, também, do topo da pirâmide.”

Menos filhos

A Região Norte é a mais jovem do país (25,2% da população com até 14 anos de idade), seguida da Região Nordeste (21,1%). As regiões Sudeste e Sul, que têm a população mais envelhecida, contam com apenas 18% e 18,2% de crianças, respectivamente, e as maiores proporções de idosos com mais de 65 anos (12,2% e 12,1%). O Centro-Oeste apresenta distribuição etária próxima da média Brasil.

A taxa de fecundidade do país só será divulgada nos próximos relatórios do Censo, mas esse indicador vem caindo consistentemente. Em 1960, o número médio de filhos por mulher era de 6,28, índice que chegou a 1,9, em 2010. Estimativas do IBGE indicam que, neste Censo, a taxa de fecundidade deve ficar em torno de 1,7. Os especialistas explicam que taxa abaixo de 2 aponta para uma redução da população nos anos seguintes.

Brasil feminino

As mulheres ampliaram sua presença no total da população nos últimos 12 anos. Hoje, representam 51,5% (104,5 milhões) do total de habitantes, enquanto os homens somam 48,5% (98,5 milhões). Na comparação com o Censo de 2010, são 6 milhões de mulheres a mais. A relação de homens por grupo de 100 mulheres está em 94,2, mostrando “que a tendência histórica de predominância feminina na população se acentuou”, segundo o IBGE. Em 1980, eram 98,7 homens para cada 100 mulheres, relação que caiu para 96/100, em 2010.

Um dado curioso é que a proporção de homens é maior nas pequenas localidades, mas vai caindo à medida que aumenta o porte populacional dos municípios, partindo de 102,3 homens para cada 100 mulheres nas cidades com até 5 mil habitantes, chegando a 88,9 nas cidades com mais de 500 mil moradores. Nesta segunda apuração do Censo 2022, o total de habitantes do país foi atualizado para 203.080.756 — 18.244 pessoas a mais do que na primeira apuração.

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