Domingo, 18 de maio de 2025
Por Redação Rádio Caiçara | 18 de novembro de 2022
O ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga afirmou que o futuro governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) precisa ter sucesso para que a democracia não seja “ameaçada outra vez”.
O economista concedeu entrevista a um programa de TV e comentou a carta enviada por Edmar Bacha, Pedro Malan e por ele ao presidente eleito, pedindo responsabilidade fiscal ao planejar as finanças do país.
“Dá a impressão de que temos uma eleição daqui a seis meses. A eleição é daqui a quatro anos, isso é muito complicado. (…) Nossa preocupação ali [ao declarar o voto] era com a democracia. (…) E se essa administração não tiver sucesso, a democracia vai ficar ameaçada outra vez”, diz Fraga.
O economista faz menção às negociações da PEC da Transição, que prevê quase R$ 200 bilhões fora do teto de gastos para financiar a ampliação do Auxílio Brasil para R$ 600 e outras promessas de governo.
Fraga, Malan e Bacha, conhecidos pelo trabalho na formatação do Plano Real, dizem que a amplitude de gasto e a perspectiva de endividamento severo do País trazem consequências aos mais pobres pela expectativa de subida de juros e inflação com a economia desorganizada.
“Se isso acontecer vai ser um prato cheio para propostas salvacionistas, populistas e antidemocráticas também”, diz o economista.
“Começa a se questionar tudo, o clima entre os poderes vai muito além do que seriam os pesos e contrapesos. Acho que estamos passando longe do ponto que seria desejável. (…) Essa largada, antes da posse, aponta nessa direção, o que me assusta”, prossegue.
Responsabilidade fiscal
Arminio Fraga voltou a ressaltar pontos presentes na carta dos economistas. A principal delas é a necessidade de que o governo se dedique a criar oportunidades e reduzir as desigualdades sociais, mas que criar essas condições passa por manter a sustentabilidade das contas do país.
“O Brasil precisa reduzir a desigualdade, criar oportunidade. Nada melhor que investir em educação, saúde e segurança, mas dentro de um contexto organizado para não ter ‘perda de energia’, gastar onde não deve. Tem que pensar mais estrategicamente”, diz Arminio.
O economista diz que “tinha a esperança” de a condução econômica do futuro governo Lula fosse “mais parecido com o Lula 1”. O primeiro mandato do petista é apontado por economistas liberais como adequado do ponto de vista de gastos públicos, em contraste com o segundo mandato.
“Não mudaria meu voto, mas, como vocês me dão a chance de estar aqui, penso que é meu dever aproveitar a oportunidade de explicitar minhas preocupações, que creio que são bem fundamentadas, para evitar um enorme problema”, afirma o economista.
“Até agora, o que vemos é um sentimento forte que [Lula] tem, uma missão de vida — pura e bonita —, mas, por enquanto, carente de uma estratégia que entregue resultados”, diz.
Carta a Lula
O trio de economistas publicou na quinta-feira (17) uma carta aberta a Lula, em que criticam as declarações recentes do presidente eleito sobre responsabilidade fiscal e suas críticas à atuação do mercado financeiro. O texto foi publicado pelo jornal “Folha de S. Paulo”.
Todos declararam voto em Lula nas eleições e dizem que compartilha das “preocupações sociais e civilizatórias” do petista. Mas os economistas ressaltam que as maneiras para cobrir o colchão social do país devem ser observadas para não criarem “problemas maiores” ao povo brasileiro.
Arminio disse que a questão é a tentativa reiterada do país de combater as agruras por meio da expansão de gastos. Segundo ele, são três décadas de crescimento de gasto público, enquanto o centro do problema está na priorização.
“É bom que nossos governantes lembrem que o mercado é uma espécie de espelho. (…) ele tem um pouco isso, é mais racional do que parece. No dia a dia, é uma bagunça. Mas quando se olha com um pouco de horizonte, é por aí que tem que ir”, diz.
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