Terça-feira, 25 de março de 2025
Por Redação Rádio Caiçara | 21 de novembro de 2023
O economista ultraliberal Javier Milei, do partido Liberdade Avança, venceu no domingo (19) a eleição para presidência na Argentina, em disputa contra o peronista Sergio Massa. No Brasil, Milei repercutiu ao defender pautas liberais e chamar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de corrupto, além de tecer críticas ao Mercosul e China. Isso tudo levou ao questionamento de como será a relação entre Brasil e Argentina nos próximos anos.
Alçado à fama como comentarista econômico em programas de televisão, Javier Milei ganhou apoio de políticos da direita tradicional no segundo turno, como o ex-presidente Mauricio Macri e a candidata derrotada Patricia Bullrich.
O futuro presidente argentino define-se como libertário e anarcocapitalista e declarou-se defensor de ideias como a livre venda de armas. Ele promete dolarizar a economia argentina e extinguir o Banco Central argentino para acabar com a inflação. Porém, no segundo turno, ele amenizou promessas anteriores, prometendo não mais privatizar a saúde e as escolas públicas.
Para alguns analistas, no curto prazo, a relação entre os dois países comercialmente não deverá mudar, pesando o pragmatismo. Rafael Pacheco, economista da Guide Investimentos, destaca que Milei, nos últimos atos de campanha para presidente da Argentina, atenuou o discurso, afirmando que as empresas privadas eram livres para realizar comércio com quem preferissem.
“O comércio com o Brasil é extremamente favorável para a Argentina. Somos um dos países para o qual os vizinhos mais exportam bens de alto valor agregado. Então, vale a pena para as empresas na Argentina exportarem para o Brasil e manterem essa relação comercial positiva”, afirma Pacheco.
No mercado financeiro, a principal preocupação é sobre a existência de um desalinhamento ideológico que possa prejudicar o relacionamento comercial entre os dois países. Porém, Marcelo Boragini, sócio e especialista da Davos Investimentos, diz que a maior parte das empresas brasileiras que têm a Argentina como cliente não são listadas na Bolsa de Valores.
Nos últimos anos, várias multinacionais abandonaram a Argentina, em crise econômica com inflação anual de mais de 140% e juros básicos na casa de 133% ao ano, para mitigar os riscos em suas operações. Recentemente, o Itaú (ITUB4) encerrou após 40 anos sua operação na Argentina, vendendo-as para o Banco Macro, por cerca de R$ 250 milhões.
Em relação às empresas listadas na Bolsa, Boragini analisa que a economia argentina não demonstrou impactos relevantes nos resultados. “A crise na Argentina afeta as empresas brasileiras, mas a exposição é pequena. A Ambev (ABEV3), em doze meses, teve uma queda de 9% nessa exposição, mas no resultado do terceiro trimestre surpreendeu positivamente. A Argentina não impactou no resultado da Ambev.”
O lucro líquido da Ambev disparou 24,9% no 3T23 na base anual, atingindo R$ 4,015 bilhões. As operações internacionais da cervejaria na América Central e Caribe compensaram as quedas da venda na América Latina e Canadá.
Sobre as empresas que têm uma mais exposição àArgentina, a Ambev tem hoje de 7% a 8% de sua receita ligada a operações no país que será governado por Javier Milei. A CVC (CVCB3) tem um percentual maior, de 12% a 15%. Logo em seguida, vem a Minerva (BEFF3) em torno de 10% na receita, Marcopolo (POMO4) com 8% e Usiminas (USIM5) com 5%.
“Dessas empresas citadas, a Minerva, por ter uma grande exposição [na Argentina], vem sofrendo mais, com uma queda de 50% no ano. Porém, a Marcopolo cresceu absurdamente neste ano”, explica Boragini.
Dificuldades
As privatizações são o eixo central das propostas de governo de Milei. O objetivo do novo presidente Argentino é privatizar meios de comunicação públicos, dolarizar a economia e até acabar com o Banco Central Argentino.
Além disso, tratados internacionais como o Mercosul são alvos do novo presidente eleito da Argentina, que já chamou o acordo de um “estorvo”.
Mesmo diante desta retórica política inflamada, o economista Paulo Feldmann, professor de graduação da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP) e pesquisador da Universidade Fudan, na China, pontua que Milei dificilmente conseguirá levar maior parte das ideias, inclusive as que dizem respeito ao Mercosul para frente. “Na Argentina, o Congresso é muito poderoso. É um parlamento que pensa de uma forma diferente do Milei. O peronismo tem mais de 40% de representatividade entre os parlamentares.”
Em relação ao Mercosul, Feldmann diz que um possível enfraquecimento do bloco seria ruim para América do Sul e Argentina. “O grande problema dos países da América do Sul é que o Mercosul é muito pequeno diante do potencial que ele tem, comparado a outros blocos econômicos e outras regiões do mundo. Particularmente, acho que essa história do Milei de cogitar sair do Mercosul é mais uma questão para ganhar a eleição, uma bravata”, pondera Feldmann.
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