Terça-feira, 15 de outubro de 2024

Terça-feira, 15 de outubro de 2024

Voltar Arábia Saudita e Rússia arrecadam bilhões de dólares com cortes na oferta de petróleo

Apesar de terem extraído menos barris, Arábia Saudita e Rússia arrecadaram bilhões de dólares a mais em receita com o petróleo nos últimos meses, depois de os preços terem decolado com seus cortes de produção. A estratégia de cortar foi arriscada, tanto financeira quanto politicamente. Mas parece ter valido a pena aos dois membros mais importantes do cartel Opep+, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados, encabeçados pela Rússia.

A alta dos preços mais do que compensou a queda nas vendas em volume, estima a consultoria Energy Aspects.

A entrada de dinheiro está ajudando a Arábia Saudita, liderada pelo príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, a financiar projetos locais dispendiosos e a prosseguir com uma campanha em busca de influência no exterior alimentada a investimentos. O dinheiro extra também está assegurando que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, possa manter sua guerra na Ucrânia.

Neste trimestre, a receita saudita diária com petróleo provavelmente foi cerca de US$ 30 milhões maior do que no período de abril a junho, um aumento em torno a 5,7%, segundo análise da Energy Aspects. Para todo o período de três meses, isso equivaleria a US$ 2,6 bilhões. A receita de petróleo russa provavelmente aumentou US$ 2,8 bilhões, mostram os dados.

Mais aperto

Esse êxito poderia levar o cartel a cogitar restringir ainda mais a oferta mundial, segundo alguns observadores do mercado. “A Opep+ assumiu totalmente o volante. Seria possível argumentar que ainda há mais por vir”, disse Saad Rahim, economista-chefe da Trafigura.

O cartel vem aumentando a pressão sobre os mercados de petróleo há meses, mas, até recentemente, suas ações eram neutralizadas pela preocupação com uma recessão mundial e a lentidão no crescimento chinês, o que vinha mantendo as cotações dentro de uma faixa bastante estreita.

Em outubro, os membros anunciaram que reduziriam a produção diária em 2 milhões de barris, o maior corte desde o início da pandemia. Em maio, um número menor de países, liderado pela Arábia Saudita, aplicou um segundo corte, de mais de 1 milhão de barris diários. Em julho, o país anunciou mais um corte, de 1 milhão de barris diários. Em 5 de setembro, Arábia Saudita e Rússia comunicaram que planejam estender seus cortes até o fim do ano.

O petróleo do tipo Brent, referência global, acumulou valorização de 25% neste trimestre e chegou a ser negociado a mais US$ 97 por barril nos últimos dias, embora tenha recuado um pouco recentemente. Nesta quinta-feira (28), o contrato mais negociado fechou a US$ 95,38.

Déficit de barris

Para o quarto trimestre, os técnicos da Opep+ projetam um déficit mundial de 3,3 milhões de barris por dia, e muitos analistas especializados em petróleo agora preveem que o Brent logo ultrapassará a marca de US$ 100 por barril.

“Essa não é mais uma previsão tão ousada”, disse Livia Gallarati, analista de mercados de petróleo da Energy Aspects. “Os preços vão subir persistentemente. A oferta está fundamentalmente limitada.”

Estratégias de corte na produção são arriscadas, porque um grande produtor de petróleo pode perder participação de mercado para países concorrentes — e, se a redução não tiver sucesso em elevar os preços, ele também pode sofrer uma grande queda na arrecadação. A alta nos preços das fontes de energia também é impopular em Washington, pois pode trazer novas pressões inflacionárias para a economia dos EUA.

Os custos de produção são baixos na Arábia Saudita e na Rússia, de US$ 9,30 e de US$ 12,80 por barril, respectivamente, de acordo com estimativas da Rystad Energy relativas as 2022. Esse baixo custo permite que a maior parte da receita das exportações de petróleo possa ser convertida em lucro.

A alta nos preços é bem-vinda para a Arábia Saudita, que tem um passado de altos e baixos ligado às oscilações do mercado de petróleo e, em parte, como resultado disso, um histórico ambíguo na concretização de grandes projetos desenvolvimento.

O país tem elevado os investimentos em bens de capital. No primeiro semestre de 2023, gastou 37% a mais em despesas de capital do que no mesmo período do ano anterior, segundo a Capital Economics. Já foram iniciadas as obras para o megaprojeto de US$ 500 bilhões da nova cidade-Estado de Neom, para 2030, planejada para ser do tamanho de Massachusetts.

Para que o orçamento de Riad fique em equilíbrio, a cotação do barril precisa estar em cerca de US$ 81, segundo estimativa do Fundo Monetário Internacional (FMI) no início do ano. Se a Arábia Saudita continuar a ter dificuldade para atrair investimentos estrangeiros a projetos como o Neom, o preço de equilíbrio poderia ser ainda maior, próximo a US$ 100, segundo analistas.

A Rússia, por sua vez, incorre em gastos pesados com a guerra na Ucrânia. No primeiro trimestre, os gastos aumentaram 35%, o equivalente a cerca de 2 trilhões de rublos russos, cerca de US$ 20,7 bilhões, em comparação ao mesmo período de 2022, de acordo com a Oxford Economics. O governo está com déficit orçamentário desde meados de 2022.

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